Segundo dados preliminares partilhados por Samantha Burgess, diretora-adjunta do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, a temperatura da Terra subiu, brevemente, acima do limiar dos 2 graus Celsius, valor considerado crucial e que os cientistas têm vindo a alertar há décadas que poderá ter impactos catastróficos e irreversíveis no planeta e nos seus ecossistemas
O limiar foi ultrapassado apenas temporariamente e não significa que o mundo esteja num estado permanente de aquecimento acima dos 2 graus mais quente do que os níveis anteriores à industrialização, mas é um sintoma de um planeta cada vez mais quente e a caminhar para uma situação a longo prazo em que os impactos da crise climática serão difíceis – em alguns casos impossíveis – de inverter.
“A nossa melhor estimativa é que este foi o primeiro dia em que a temperatura global esteve mais de 2 °C acima dos níveis de 1850-1900 (ou pré-industriais), com 2,06 °C”, escreveu a cientista. A diretora-adjunta do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas informou que as temperaturas globais registaram, em média, o valor de 1,17 graus acima dos níveis de 1991-2020, o que faz do dia 17 de novembro o mais quente de que há registo. Mas em comparação com a época pré-industrial, antes de os seres humanos começarem a queimar combustíveis fósseis em grande escala e a alterar o clima natural da Terra, a temperatura era 2,06 graus mais quente.
A ultrapassagem dos 2 graus verificada ocorreu duas semanas antes do início da conferência da ONU sobre o clima, a COP28, no Dubai. No evento, os países vão analisar os progressos em relação ao compromisso assumido no Acordo de Paris sobre o Clima de limitar o aquecimento global a 2 graus acima dos níveis pré-industriais, com a ambição de o limitar a 1,5 graus.
Um dia acima dos 2 graus de aquecimento “não significa que o Acordo de Paris tenha sido violado”, declarou Burgess, “mas destaca a forma como nos estamos a aproximar dos limites acordados internacionalmente”. “Podemos esperar ver uma frequência crescente de dias com 1,5 e 2 graus nos próximos meses e anos”, antecipou.
Ainda que os dados do Copernicus sejam preliminares e levem algumas semanas a serem confirmados com observações da vida real, o mundo parece já estar a caminho de ultrapassar 1,5 graus de aquecimento a longo prazo nos próximos anos, um limiar para além do qual, segundo os cientistas, os seres humanos e os ecossistemas terão dificuldade em adaptar-se.
Mas 1,5 graus não é um limite para a Terra – por cada fração de grau de aquecimento acima desse valor piores serão os impactos. Um aquecimento de 2 graus coloca muito mais população em risco de condições meteorológicas extremas mortais e aumenta a probabilidade do planeta atingir pontos de viragem irreversíveis, como o colapso das camadas de gelo polares e a morte em massa dos recifes de coral.
Os cientistas estão cada vez mais alarmados com o facto dos dados sobre as temperaturas estarem a exceder as suas previsões. Nas últimas semanas, uma série de relatórios sobre a saúde do clima da Terra e as ações dos seres humanos para o combater mostram que o planeta está a caminhar para um nível perigoso de aquecimento e que não está a fazer o suficiente para atenuar ou adaptar-se aos seus impactos.
Na semana passada, um relatório da ONU concluiu que, mesmo que os países cumpram todas as suas atuais promessas em matéria de clima, a poluição que aquece o planeta em 2030 continuará a ser 9% mais elevada do que em 2010. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, o mundo precisa de reduzir as emissões em 45% até ao final desta década, em comparação com 2010, para ter alguma esperança de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Um aumento de 9% significa que esse objetivo está longe de ser atingido.