Países em desenvolvimento sofrem 90% das mortes por desastres naturais

O relatório da ONU “Unidos pela Ciência” revela que a falta de ação climática está a colocar em risco as metas globais em diversos sectores e reforça o papel da ciência na mitigação e adaptação para eventos extremos. Os fenómenos meteorológicos extremos podem colocar 670 milhões de pessoas em condições de fome, em 2030, e colocam as metas da ONU para combate à pobreza, aos problemas de saúde, acesso à água potável e à energia em risco. O documento indica que, em 2022, as emissões de CO2 de combustíveis fósseis aumentaram 1% em comparação com 2021 e as concentrações atmosféricas globais de CO2 continuam a crescer.

Os autores do estudo afirmam que 2023 está a ser um ano de extremos, com ondas de calor excecionais, incêndios florestais arrasadores, chuvas torrenciais e ciclones tropicais de grande impacto. Julho de 2023 foi aliás o mês mais quente já registado e as temperaturas médias globais da superfície do mar atingiram níveis recordes. No ritmo atual, o aquecimento global será de 2,8 °C ao longo deste século, em comparação com os níveis pré-industriais. A meta defendida pelos especialistas é limitar este aumento a apenas 1,5°C.

O relatório ressalta que os impactos das condições meteorológicas extremas e das mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as comunidades vulneráveis. Entre 1970 e 2021, ocorreram cerca de 12 mil desastres atribuídos a extremos meteorológicos, climáticos e hídricos, causando mais de 2 milhões de mortes e dezenas de milhões de dólares em perdas económicas. Mais de 90% destes óbitos e 60% das perdas económicas ocorreram nos países em desenvolvimento.

No prefácio do documento, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirma que “a ciência é um elemento central das soluções” e a alavanca do progresso em direção a todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O relatório sublinha a importância da ciência para garantir segurança alimentar e hídrica, energia limpa, melhor saúde, oceanos sustentáveis e cidades resilientes mas destaca que apenas 15% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serão atingidos.

Algumas das medidas científicas passam pela possibilidade das previsões climáticas aumentarem a resiliência do sistema alimentar, apoiando o planeamento agrícola e a tomada de decisões. Os sistemas de alerta sanitário sobre o calor que utilizam previsões meteorológicas e climáticas podem informar intervenções de saúde pública. O uso de modelos hidrológicos e climáticos podem melhorar a compreensão sobre como as alterações climáticas vão afetar a disponibilidade de água.

A análise de dados sobre os padrões de precipitação, volume dos rios, níveis das águas subterrâneas, qualidade da água e os ecossistemas aquáticos também podem ser recursos fundamentais. Esta informação pode auxiliar na identificação dos poluentes, na avaliação dos níveis de contaminação e em determinar riscos potenciais para a saúde humana e ambiental.

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