As correntes elétricas geradas pelas tempestades geomagnéticas (variações bruscas do campo magnético da terra com origem em tempestades solares) podem causar perturbações na rede elétrica de Portugal? Para responder a esta questão, primeiro é necessário medir essas correntes, as designadas GICs (do inglês Geomagnetic Induced Currents).
Calcular, medir e monitorizar a amplitude destas correntes geomagnéticas induzidas em Portugal é o objetivo principal do projeto “MAG-GIC: correntes induzidas pelo campo geomagnético no território português”. Trata-se do primeiro estudo do género no país, que junta uma dezena de investigadores de dois centros de investigação e que conta ainda com a importante colaboração de investigadores do Instituto Dom Luiz, em Lisboa, e de engenheiros da REN – Redes Energéticas Nacionais.
«O sistema agora instalado na subestação de Paraimo (Aveiro), com a ajuda dos engenheiros e técnicos da REN, mede continuamente as correntes induzidas pelas flutuações de campo magnético terrestre nas linhas de muito alta tensão, permitindo a sua monitorização em tempo real e de forma remota, e procura compreender qual o efeito das perturbações do campo magnético terrestre, causadas por tempestades solares, na rede elétrica gerida pela REN», explica Alexandra Pais.
As tempestades geomagnéticas são originadas pela atividade do Sol. De tempos a tempos são emitidas para o espaço interplanetário nuvens de plasma que, chegando próximo da Terra, interagem com o seu campo magnético. Durante estas tempestades, «ocorrem variações rápidas do campo magnético da Terra, provocadas por correntes elétricas de intensidade da ordem de milhões de amperes. Estas correntes circulam muito acima da superfície da Terra, numa região designada por magnetosfera. Os seus efeitos são, porém, mensuráveis à superfície, concretamente no observatório magnético de Coimbra», esclarece a docente do Departamento de Física da FCTUC.
Ao longo do projeto MAG-GIC, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a decorrer de 2018 a 2022, «calculámos a distribuição de GICs nas subestações da rede elétrica da REN, ao mesmo tempo que identificámos os fatores a que os valores estimados são especialmente sensíveis», acrescenta. As medições que estão agora a ser realizadas no âmbito do projeto são essenciais para confirmar quais são os efeitos da meteorologia espacial (Space Weather) na rede nacional de transporte de energia. Por isso, adianta Alexandra Pais, o passo seguinte da investigação será «perceber como é que estas correntes afetam individualmente os diferentes elementos do circuito elétrico, em particular os transformadores das subestações da REN».
«Esperamos no futuro poder dar continuidade ao trabalho desenvolvido, instalando mais sensores, como o de Paraimo, noutras subestações da REN», conclui.