Nos dias 8 e 9 de Novembro terá lugar no ISCTE, em Lisboa, o quarto congresso de Cooperação e Educação – IV COOPEDU, subordinado à temática “Cooperação e Educação de Qualidade” com particular destaque dado aos países africanos. A importância das línguas africanas e literatura infanto-juvenil serão alguns dos principais temas abordados. O colóquio contará ainda com bancas de exposição e venda, que estarão a cargo de Raja Litwinof, responsável pelo projeto Falas Afrikanas, plano editorial de obras e autores africanos.
Os livros vão com ela para todo o lado, no taxi, autocarro, dentro de sacos, em malas, Raja, alemã de nascimento mas, desde há vários anos. a residir em Portugal estudou Línguas Românicas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e desde sempre teve interesse pela literatura e cultura africanas. Em 2011, nasceu o blogue literaturasafrikanas, um anos depois saiu para a rua a convite de várias organizações culturais e em 2018 cria finalmente a sua própria editora. O processo de seleção e recolha de obras para exposição e venda tem sido feito através da insistência na procura. “Os livros que já não são editados, eu tento encontrá-los nos lugares mais improváveis, em feiras ou alfarrabistas especializados e depois vendo-os a preços muito acessíveis, visto que o público que me segue muitas vezes não está habituado a gastar dinheiro em livros (atua principalmente junto dos bairros mais carenciados), por isso tenho sempre bancas com muito espaço para as pessoas pegarem nos livros e tomarem contacto com os autores.”
O congresso está orientado em quatro eixos principais, a cooperação portuguesa na área da educação, a formação de recursos humanos em África, medidas para a qualidade nos sistemas de ensino africanos e políticas linguísticas, contando também com um painel de oradores, dos quais fazem parte, entre outros. Maria Hermínia Cabral | Diretora do programa Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian e Ana Paula Laborinho, Diretora da Organização de Estados Ibero-americanos. Os problemas do mercado editorial em Portugal são vários, e no que diz respeito à difusão de obras africanas, esses problemas aumentam. Felizmente, para a coordenadora de projetos sociais, a sua sobrvivência não depende disto pois “os preços são muito baixos e o lucro apenas dá para pagar o taxi ou autocarro, outras deslocações mais longas teriam de envolver mais meios, apoios e outro tipo de condições.”
Palavras Afrikanas, nome da editora, é um projeto que aposta num envolvimento próximo com os escritores nativos de vários países africanos, como foi o caso da obra infantil, histórias de Ndabagá, uma coletânia de lendas antigas do Ruanda ilustrada e recortada pelo escritor Dolph Banza, que também contou com a estreita colaboração de vários ativitas ruandeses. A escolha incide sempre sobre autores africanos, mas desde que começou este projeto tenta desvincular-se da lusofonia. “Não é que seja um combate à lusofonia, funciono da mesma forma em relação à francofonia ou anglofonia, não quero delimitar a literatura, quero que seja literatura africana, acima de tudo. Por exemplo, no Brasil, os livros de autores africanos vendem-se muito bem, independentemente de serem ou não lusófonos, (vivi lá em 2011) mas isso também acontece porque o Brasil tem um movimento ativista muito forte.”
Raja trabalha na área da cooperação para o desenvolvimento ligado a projetos sociais, desde 1996 e isso permite-lhe ir muitas vezes a vários países do continente africano. As diferenças entre as várias realidades são notórias no que respeita ao mercado livreiro. “Este ano estive no Senegal, Ruanda e Congo, países francófonos onde as pessoas estão muito familiarizadas com os livros, mesmo que pirateados, há divulgação nas cidades pequenas, enquanto isso nos países lusófonos africanos ainda não acontece. O acesso ao livro, mesmo que pirateado, é difícil, quase inexistente. Em países como a Nigéria, que é uma grande nação de escritores e também de leitores, encontram-se livros por todo o lado, eles são leitores compulsivos. Nos países lusofonos, por outro lado, os livros são muito caros porque há custos implícitos em todo este processo, as tiragens são ridiculamente baixas e os custos de produção são elevados, tem de vir tudo de fora.”
Acima de tudo o projeto Falas Afrikanas pretende recuperar a literatura Africana e pô-la de novo em circulação. Segundo Raja, após o 25 de Abril e até há década de 90 circulavam com alguma abundância livros de escritores africanos dos mais diversos campos, desde ciência, política à literatura, algo que começa aos poucos a notar-se cada vez mais. “As pessoas começam a pedir-me livros sobre princípes e princesas africanos, querem conhecer mais sobre a história de África. É importante as pessoas aperceberem-se do poder que têm junto das livrarias, se as pessoas quiserem muito um livro, ele irá aparecer.” No que diz respeito ao futuro do livro, Raja não tem dúvidas em apontar os e-books como a alternativa mais promissora. “É de fácil acesso, não implica custos de produção e as pessoas estão cada vez mais habituadas a ler em formato digital, tanto cá como lá.”