Museu comunitário da Mafalala ocupa lugar de destaque na Cultura Moçambicana

Van Laranjeira, um jovem empreendedor cultural, formado em gestão turistica com background como ator, é um dos principais dinamizadores da vida cultural do icónico bairro da Mafalala. Atualmente, encontra-se envolvido em várias ações como o Festival da Mafalala, que decorre entre os dias 4 e 8 de Novembro, as visitas guiadas pelo bairro e mais recentemente a construção do Museu comunitário, a cargo da Associação Iverca. “Acima de tudo pretende-se um posicionamento de uma narrativa alternativa para a cidade e para o país, na tentativa de repensar a moçambicanidade. Ivan Laranjeira argumenta ainda que o projeto poderá ser extensível a várias regiões do país, colmatando a brecha histórica ainda existente.

 

Ivan, quando é que começou este projeto?

Este trabalho começou em 2009, são dez anos de envolvimento cultural que culminaram com a inauguração do Museu Comunitário da Mafala. Foi pensado como um programa de desenvolvimento comunitário, com uma série de intervenções à volta da história da Mafalala e era necessário colocar essa história num espaço e assim nasceu a ideia deste museu. Tem sido notório que com o passar dos anos se tem vindo a despertar maior atenção das instituições públicas e a um maior exercício de cidadania das comunidades à volta dos seus bairros com o objetivo de solucionar os seus problemas.

Como é que os jovens encaram estas mudanças sociais feitas no Bairro da Mafalala?

A Mafalala tem uma densidade populacional muito alta, é um bairro extremamente dinâmico, temos gente de toda a parte do país, que vive em conjunto, em comunidade. Há uma maior consciência por parte dos jovens em relação ao seu posicionamento, a própria Iverca é um reflexo disso, a Associação à qual pertenço tem um espírito otimista e reformista que pretende sempre ir mais além.

O que se pode ver no Museu Comunitário da Mafalala?

O Museu é um espaço comunitário e o objetivo é criar uma maior democratização no acesso à cultura, a entrada é gratuita. Ao nível da curadoria, a preocupação vai de encontro ao urbanismo e arquitetura do bairro, é importante discutir a cidade, desde a periferia ao centro, passando por todas as nuances culturais, desde a poesia, música e aspetos ligados à arte, mas também ao nível das infraestruturas, saneamento básico, ao nível funcional. Para além disso é necessário olhar para a cultura como um ativo económico importante, que contribua para uma economia criativa, que reverta o cenário de precariedade laboral que se manifesta aqui.  Por isso o espaço também tem acomodações para a realização de residências artísticas e é aberto ao público em geral que aqui queira pernoitar. O que se pretende é um museu virado para o futuro, com inspiração no passado.

Há a possibilidade deste projeto se estender a outras áreas do país?

Este projeto é altamente replicável. Há vários sítios em Moçambique com histórias riquissímas, sei que o bairro de Chamampulo, vizinho do bairro da Mafalala, já tem projetos semelhantes. É importante desenvolver as características próprias de cada região e faço força para que se replique este projeto noutras zonas do país.

Desde que o museu abriu até agora, já se pode falar de um retorno positivo do ponto de vista económico?

Desde que o museu abriu até ao momento,  já recebemos mais de 3000 visitantes. É um ganho muito grande tendo em consideração a realidade moçambicana. A par disso, estamos a receber mais ou menos 15 turistas por dia, o que também é um número positivo tendo em conta o ecossistema turístico em Moçambique. Todo esse retorno serve para desenvolver novos projetos como a construção de bibliotecas e o desenvolvimento de pólos desportivos. Este sempre foi o nosso objetivo, o dinheiro resultante da atividade cultural volta à comunidade e desenvolve-a.

 

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