Nuno Miguel Miranda Semedo, de 26 anos, está a transformar a literacia em saúde em Cabo Verde, proporcionando informações acessíveis e educativas para a comunidade cabo-verdiana através do inovador projeto “BuSaúde”.
No cenário de desafios impostos pela pandemia e pela escassez de literacia em saúde, Nuno Semedo, um jovem médico clínico geral de 26 anos, residente em Nhagar, Cabo Verde, decidiu não apenas enfrentar a maré, mas também mudar o rumo dela. A sua iniciativa, o projeto “Bu Saúde”, lançado em 2020, visa elevar a conscientização e a educação sobre saúde na comunidade cabo-verdiana.
Numa entrevista exclusiva à E-Global, Nuno compartilha os detalhes da jornada que o levou a criar esta plataforma e o impacto positivo que está a gerar.
De acordo com Nuno, o projeto “BuSaúde (Sua Saúde)” teve início durante a pandemia de COVID-19. No auge da pandemia, quando Nuno estava a estudar Medicina na China, devido à situação global, teve de retornar a Cabo Verde, e nessa altura notou uma lacuna na literacia sobre saúde na população, especialmente entre os idosos. A falta de conhecimento sobre doenças e medicamentos era evidente, “eu constatei que a literacia em saúde era debilitada”.
Essa lacuna inspirou o projeto “BuSaúde”, que busca traduzir conceitos complexos em uma linguagem acessível, usando o crioulo cabo-verdiano, e disseminar conhecimento sobre o sistema de saúde do país.
O projeto, como explica Nuno, foca-se em fornecer informações de saúde de forma acessível, utilizando a língua Crioula, `o krioulo cabo-verdiano`, que é amplamente falado no país. Em parceria com o médico Helder Rosário, “Bu Saúde” tornou-se uma plataforma de produção de conteúdo clínico e do sistema de saúde em Cabo Verde.
A plataforma oferece conteúdo clínico e informações sobre o sistema de saúde nacional, tudo apresentado de maneira compreensível e relevante. O logotipo da marca, que lembra um estetoscópio e um emoji sorridente, representa a missão do projeto: proporcionar conteúdo de qualidade para a comunidade, “o logotipo tem duas cores, azul que representa saúde e Verde que ilustra vitalidade”. O projeto concentra-se principalmente nas redes sociais, como Instagram e Facebook, além de um podcast “participamos em eventos físicos feitos por outras instituições em que vamos lá para dar o nosso suporte.”
A escolha dos temas não é aleatória. Nuno utiliza dados epidemiológicos do Sistema Nacional de Saúde para selecionar tópicos pertinentes. “O maior desafio inicial foi criar uma base de seguidores, pois trabalhar com conteúdo não-entretenimento é complicado”, admitiu Nuno. No entanto, o projeto tem um horizonte de longo prazo, incluindo consultoria para instituições de saúde e programas de mentoria para estudantes de medicina e enfermagem.
Nuno, que escolheu permanecer em Cabo Verde apesar da tendência de emigração, enfrentou desafios na formulação do projeto e na busca por financiamento. “Nosso projeto funciona apenas com financiamento próprio”, revelou. A credibilidade também foi um desafio, pois a validação da informação médica é construída com o tempo. E a rentabilidade são metas que estão sendo buscadas gradualmente.
O principal retorno do projeto vem da comunidade, que aumenta a sua literacia em saúde. “O maior problema de saúde em Cabo Verde é tentar criar um laço de conexão e entendimento entre paciente e Médico”, disse Nuno. “Se o paciente estiver informado, poderá exigir mais do serviço e também fornecer feedback ao médico. Se você exige mais, recebe mais.”
Nuno Miguel Miranda Semedo está a desafiar as dificuldades, construindo um elo crucial entre o conhecimento médico e a comunidade, e a sua iniciativa está a pavimentar o caminho para uma saúde mais informada e consciente em Cabo Verde.
Anícia Cabral – Correspondente