Quatro perguntas-chave sobre a nova onda de medicamentos anti-obesidade

Pode um produto ser tão bem-sucedido que os seus fabricantes tem de parar de o anunciar? Pode e foi o que aconteceu, nos Estados Unidos da América, em maio, com o medicamento para perda de peso Wegovy. A empresa produtora de medicamento, chamado semaglutida, teve de deixar de o publicitar pois não conseguiu corresponder à procura.

Os cientistas querem saber quem beneficiará com este tipo de medicamento de perda de peso, quais podem ser os efeitos a longo prazo e se os tratamentos mudarão a visão sobre a obesidade.

As taxas de obesidade triplicaram nos últimos 50 anos. Carregar um peso extra significativo traz um risco acrescido de complicações de saúde, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardíacas e alguns tipos de cancro. Também pode impedir a qualidade de vida de outras maneiras, como limitar a amplitude de movimento ou resultar em sentimentos de vergonha por causa do estigma do peso.

Como funcionam estes medicamentos?

Estes medicamentos parecem reduzir o apetite das pessoas, mas exatamente como fazem isso ainda está em estudo.

A semaglutida imita uma hormona produzida no intestino que, em resposta ao consumo de alimentos, instrui o pâncreas a produzir insulina. Os imitadores desta hormona, chamada GLP-1, foram desenvolvidos, pela primeira vez, para tratar a diabetes tipo 2, na qual o corpo produz muito pouca insulina e os níveis de açúcar no sangue aumentam.

Porém, os investigadores que realizaram estes ensaios clínicos notaram um efeito colateral surpreendente: o apetite dos participantes diminuiu. Embora os imitadores iniciais do GLP-1 tenham sido projetados para funcionar no intestino, os recetores da hormona também existem em regiões do cérebro associadas à regulação e recompensa do apetite.

Quem vai emagrecer com estes medicamentos?

Embora os medicamentos ofereçam benefícios impressionantes de perda de peso em ensaios clínicos, eles não são eficazes para todos.

A obesidade tem uma infinidade de fatores, muitos dos quais podem afetar a resposta ao tratamento. A genética geralmente desempenha um papel, contudo, a falta de sono, o stress crónico, a má nutrição e o estilo de vida sedentário também contribuem para a taxa de metabolismo e peso.

Um estudo categorizou as pessoas com obesidade com base em fatores como velocidade metabólica e quanto elas precisam comer antes de se sentirem satisfeitas. Os investigadores descobriram que, em participantes com obesidade que sentiram fome logo após comer, um imitador de GLP-1 mais antigo chamado liraglutida levou a uma perda de peso duas vezes do que em pessoas com obesidade de uma população em geral.

Pessoas com diabetes tipo 2, por exemplo, tendem a perder menos peso do que pessoas sem a doença quando tomam imitadores de GLP-1. Embora existam algumas hipóteses sobre o porquê, a razão ainda escapa aos investigadores

O sexo e o peso inicial também podem afetar a resposta ao tratamento. No estudo com retatrutida, as participantes do sexo feminino perderam, em média, uma proporção maior de seu peso corporal do que os participantes do sexo masculino.

Existem riscos a longo prazo associados à toma destes medicamentos?

Os efeitos colaterais de curto prazo dessa classe de medicamentos são claros: náusea, vómito, diarreia e outros problemas relacionados à digestão. Os problemas fazem com que algumas pessoas parem de tomar os medicamentos.

Um estudo descobriu que os imitadores de GLP-1 aumentam o risco de bloqueios intestinais que requerem hospitalização. Um pequeno número de pessoas que recebeu os medicamentos relataram pensamentos de suicídio.

Os medicamentos podem levar à perda de mais do que apenas gordura. Num subconjunto de participantes do estudo que tomaram semaglutida e cuja composição corporal foi avaliada, a massa corporal magra – incluindo músculos e ossos – foi responsável por quase 40% do peso perdido.

Ainda assim, acabaram com uma proporção mais saudável de massa corporal magra em relação à massa corporal total, e perder peso normalmente envolve a perda de massa corporal magra, seja qual for o método.

O uso a longo prazo pode trazer efeitos negativos e para minimizar esses possíveis efeitos negativos, alguns investigadores afirmam que as pessoas possam primeiro perder peso com uma droga que ativa vários tipos de recetores e depois mudar para uma mais suave.

Estes medicamentos estão a mudar a forma como pensamos sobre a obesidade?

A última onda de medicamentos deixou investigadores e médicos entusiasmados. E os cientistas esperam que a compreensão da base biológica e da natureza crónica da obesidade convença as seguradoras a pagar pelos medicamentos.

Os medicamentos demonstram que a obesidade não se deve à falta de força de vontade. Exercitar-se mais e comer menos pode não ser suficiente. Como é o cérebro que instrui quando e quanto comer, é aí que reside o desequilíbrio biológico – e, portanto, o potencial de tratamento.

Ainda assim, nem todos compartilham desse entusiasmo. Algumas pessoas temem que a existência de medicamentos possa exacerbar os distúrbios alimentares e o estigma do peso. Os medicamentos entram num mundo com onde a cultura de dieta e a pressão social para ser magro estão sempre presentes.

Um estudo descobriu que quase 30% dos participantes considerados obesos tinham boa saúde cardiometabólica, definida por fatores como pressão arterial e níveis de colesterol. A prova de que a saúde existe em todos os tamanhos e não existe um peso certo.

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