O investigador Juan Manuel Parrilla assina um artigo na revista Nature no qual refere que o uso de inteligência artificial, designadamente do ChatGPT, permite fazer grande parte do trabalho maçador e tornar mais fácil a solicitação de financiamento para pesquisas científicas.
Juan Manuel Parrilla afirma que, apesar do desafio do trabalho científico, a realização de pedidos de financiamento exige muito trabalho e esforço. O autor destaca que, entre vários documentos, normalmente um pedido de bolsa exige a apresentação de caso padrão de apoio, detalhando a pesquisa proposta, um resumo longo e um conciso leigo, o curriculum do autor, declarações de impacto, planos de envolvimento público, uma explicação do envolvimento de todos os elementos da equipa, um plano de gestão e cronograma dos projetos, cartas de apoio de colegas e análise de risco. Todo este trabalho e documentação, resulta, na maioria dos casos, alerta, Parrilla, na rejeição do pedido de financiamento.
Ao longo da pesquisa científica, e mesmo com de toda a preparação, há sempre a probabilidade do desfecho não ser o esperado. O investigador e os membros do painel encarregados de decidir quem receberá a bolsa consideram todo este processo complicado já que, muitas vezes, simplesmente não há tempo para ler tudo.
Os membros do painel centram-se em três questões principais. Se a proposta se enquadra no resumo? Se ciência proposta é boa e nova? E se os candidatos são especialistas na área certa? Juan Manuel Parrilla afirma que resumo e uma pequena parte da proposta de pesquisa respondem às duas primeiras questões mas, no que diz respeito à terceira, prefere usar o Google para saber mais sobre os candidatos.
Em teoria, o sistema foi concebido para ser completo, robusto e imparcial. Mas a criação destes documentos longos e aparentemente inúteis está a ocupar muito tempo dos cientistas. O aliado dos investigadores candidatos a bolsas e financiamento é a inteligência artificial, designadamente o ChatGPT. Juan Manuel Parrilla adianta que usou esta ferramenta por conselho de um colega, após verificar que não tinha tempo suficiente para escrever a uma proposta.
Algumas semanas depois, confidencia o investigador, quando estava a escrever uma proposta de financiamento com alguns colegas, solicitou a ajuda do ChatGPT. O resumo estava feito, mas pediu ao ChatGPT que escrevesse mais detalhes usando as ideias centrais que já havia anotado. E o trabalho, diz Juan Manuel Parrilla foi “incrível” com um inglês irrepreensível. O apoio ao ChatGPT reduziu a carga de trabalho de três dias para três horas, permitindo enviar a proposta dentro do prazo.
O recurso a esta ferramenta está a aumentar. Uma pesquisa realizada, este ano, pela revista Nature com 1 600 pesquisadores descobriu que mais de 25% usam IA para ajudá-los a escrever manuscritos e que mais de 15% usam a tecnologia para ajudá-los a escrever propostas de financiamento.
O investigador Juan Manuel Parrilla acredita que utilização do ChatGPT na redação de propostas de financiamento não é uma propriamente uma fraude ou um embuste e questiona qual é o sentido de pedir aos cientistas que escrevam documentos que possam ser facilmente criados com IA? Parrilla considera que talvez seja altura dos organismos financiadores repensarem os seus processos de candidatura.