Oubi Buchraya Bachir, é o novo representante da Frente Polisário e da República Árabe Sarauí Democrática (RASD) em França.
Iniciou a carreira diplomática em 2001, quando foi nomeado para a representação sarauí na Holanda e em 2003 assumiu as mesmas funções no Reino Unido e Irlanda. Ao longo da sua carreira, Oubi Buchraya Bachir foi também embaixador na Nigéria e África do Sul.
A 30 janeiro a União Africana (UA) irá decidir sobre a adesão de Marrocos à organização. Caso a adesão de Marrocos seja consumada, Oubi Buchraya Bachir considera que será uma grande vitória da Frente Polisário.
“Marrocos tenta neste momento apresentar a sua eventual admissão, pois nunca antes fez parte da União Africana (UA). Fazia parte da Organização da Unidade Africana (OUA) mas não da União Africana, portanto, Marrocos encara a sua entrada na União Africana como uma vitória diplomática sendo na realidade exatamente o oposto, uma vez que as mesmas condições que levaram Marrocos a se retirar da OUA em 1984 são as que persistem hoje na UA”, explica Oubi Buchraya Bachir.
Para representante da Frente Polisário em França, a vontade de Marrocos querer integrar a UA, demonstra que 33 anos de diplomacia intensa contra a RASD “resultaram num fiasco”.
“Neste momento a RASD tem um estatuto suplementar, o de ser um dos Estados fundadores da organização, pois, a União Africana foi fundada de novo em 2002 estando a RASD na lista de países fundadores”, sublinha.
Quando o rei Hassan II decidiu sair da organização, “Marrocos dizia que mais de metade dos países Africanos se retiraria também, solidarizando com a sua posição na OUA, mas, apenas o Zaire se retirou”, unicamente durante uma sessão.
Marrocos tentou “por todos os meios expulsar a RASD da Organização de Unidade Africana, tendo sempre falhado. (…) Agora está na obrigação de admitir que a expulsão da RASD é um objetivo impossível de atingir”, realça Oubi Buchraya Bachir. “Eles (marroquinos) regressam agora, enquanto nós permanecemos presentes. Para nós é uma grande vitória que Marrocos se tenha sentido na obrigação de voltar atrás na sua decisão inicial, de se retirar devido à nossa presença”.
Oubi Buchraya Bachir acredita que Marrocos, caso se efetive a sua adesão na UA, tente, por todos os meios, excluir a RASD da organização africana, todavia “no ato constitutivo da União Africana não está prevista a possibilidade de expulsão de um país”, exceto em casos muito específicos, como a saída voluntária ou medida contra um Estado membro cujo governo ascende ao poder por vias anticonstitucionais.
“Houve ao longo dos anos uma progressão clara da União Africana em defesa dos direitos do povo do Sara Ocidental. Marrocos irá tentar neutralizar a União Africana nesta matéria, com seu pedido de integração na União Africana, sendo este o objetivo tático de Marrocos, mas, sabemos que o seu objetivo estratégico é tentar conseguir expulsar de facto a RASD da organização. Acredito que eles vão também perder na sua ação estratégica, pois, vão se sentar lado a lado com a RASD. Mesmo que amanha Marrocos alegue que não se vai sentar, mas apenas estar presente nos corredores, as bandeiras estão lá e as placas também. Marrocos pode ganhar no plano tático, com a admissão no seio da União Africana, mas no plano estratégico será um falhanço total”, considera Oubi Buchraya Bachir.
Para Oubi Buchraya Bachir, por dois motivos a adesão de Marrocos à União africana será uma vitória diplomática da Frente Polisário, “em primeiro lugar porque simbolicamente vai se sentar ao lado da República Árabe Sarauí Democrática (RASD). Em segundo, porque será obrigado a aderir ao ato constitutivo da União Africana e aos seus princípios. Deste modo é obrigado a reconhecer que o seu território está limitado às fronteiras internacionalmente reconhecidas, ou seja, sem o Sara Ocidental. Isto, do ponto de vista estratégico, é extraordinário”, realça.
Assim, para o representante da Frente Polisário em França, a eventual adesão de Marrocos na União Africana significa que o reino marroquino adere aos princípios anticolonialistas da organização, consequentemente reconhece que, ela mesma, é uma potência colonial que ocupa o Sara Ocidental. Um paradoxo que simbolizará também uma das maiores vitórias diplomáticas da Frente Polisário desde o início do cessar-fogo.
RN