Pouco depois de ter sido anunciada, a 20 de Abril, a “esmagadora” vitória eleitoral do presidente chadiano Idriss Déby, no poder desde 1990, foi anunciada a sua morte em combate contra a Frente pela Alternância e a Concórdia no Chade (FACT), uma força rebelde que se desenvolvera no caos líbio.
Imediatamente o filho de Idriss Déby, Mahamat Déby é colocado à cabeça do Comité Militar de Transição (CMT) que assume as rédeas do poder no Chade. Em simultâneo, o principal parceiro internacional do país, a França reconhece a autoridade de Mahamat Déby e reafirma que tudo fará para “manter a estabilidade do Chade”.
A FACT, que combatera Idriss Déby e arrancara com uma ofensiva sobre a capital N’Djamena, não reconhece a “nova” autoridade de Mahamat Déby e promete prosseguir as ofensivas. Mas, as forças armadas chadianas garantem que a situação está controlada, após várias operações militares contra os bastiões da rebelião na região de Kanem, e que a FACT neutralizada. Uma situação que o líder da FACT, Mahamat Mahdi Ali, não reconhece.
“Actualmente a situação que prevalece no nosso país é calma, tendo em conta que aceitamos o insistente pedido da sociedade civil chadiana e do movimento cidadão que nos propuseram optar por outras vias que a alternativa militar”, disse em entrevista a e-Global o líder da FACT, Mahamat Mahdi Ali, “por este motivo privilegiámos uma solução pacífica”, precisou.
“Infelizmente o actual poder continua numa lógica guerreira e não ouve este apelo devido à sua postura arrogante resultado do apoio cego que lhe deposita a França”, vincou Mahamat Mahdi Ali que confirmou que, todavia, prossegue com a acção política como via para o estabelecimento de negociações.
A FACT “foi afectada por esta guerra que será longa”
Mahamat Mahdi Ali desmentiu que a FACT foi derrotada ou que recuou para posições iniciais, antes de lançar a ofensiva sobre N’Djamena, tal como avançaram vários órgãos de comunicação social próximos do poder, mas reconheceu que a FACT “foi afectada por esta guerra que será longa”, e realçou que “o regime actual também não saiu ileso e foi alvo de várias perdas” infligidas pela FACT.
De acordo com Mahamat Mahdi Ali, a FACT “venceu esta batalha”, mas o Chade “ainda está a perder”, por esse motivo o seu movimento vai prosseguir até que os seus objectivos sejam atingidos com a “instauração de um regime democrático em que todos os cidadãos podem reapropriar-se da sua dignidade”.
Sobre os rumores que circulam no Chade de uma suposta implicação da França no desaparecimento de Idriss Déby, Mahamat Mahdi Ali optou por esquivar-se à resposta e salientou que “quando alguém vai à guerra, ou mata ou é morto. O presidente Idriss Déby empenhou-se na guerra contra nós e foi morto. Morreu como todos outros chadianos que deixaram as suas vidas no campo de batalha”.
O líder da FACT reconheceu ter recebido ameaças da França, que tentou o dissuadir de exercer uma pressão militar ao regime de N’Djamena. “Efectivamente essas ameaças existem e começaram a ser proferidas pela França mesmo antes da nossa entrada no território do nosso país”, confirmou Mahamat Mahdi Ali que salientou ter pedido à França “para deixar de apoiar Idriss Déby e permitir aos chadianos disporem da sua própria soberania na política e na gestão dos assuntos do seu país”.
“Infelizmente a resposta da França foi contra as nossas expectativas”, os franceses “disseram-nos que iríamos entrar no Chade para destabilizar o regime e que qualquer tentativa nossa será severamente reprimida”, contou Mahamat Mahdi Ali. “A nossa reacção foi imediata, dissemos que não pedimos autorização para entrar no nosso país, que não são os Campos Elísios, e que íamos entrar no nosso próprio solo”, contou.
Segundo Mahamat Mahdi Ali, perante a situação, a França “mobilizou as suas forças armadas para ajudar Idriss Déby na sua guerra contra nós, e nós entramos no Chade para desencadear uma ofensiva sobre N’Djamena e a França acabou por perder este aliado que considerava ser a coluna vertebral na luta contra o terrorismo”.
“Paradoxalmente”, garantiu Mahamat Mahdi Ali, Idriss Déby “não lutava contra o terrorismo, mas utilizava-o como álibi na sua manutenção no poder”. Segundo o líder da FACT, em 2012 quando o presidente da Nigéria, Jonathan Goodluck, pediu a intervenção de Idriss Déby a fim de iniciarem negociações com o Boko Haram, “o presidente chadiano vaiou Goodluck, quando o mesmo albergava os chefes deste movimento em hotéis de luxo no seu país. Esta suposta luta contra o terrorismo de Déby é um autêntico bluff”.
Reagindo às informações que apontam que a FACT é uma organização cariz étnico composta maioritariamente por elementos da etnia Goranne, mas também que tem acolhido nas suas fileiras vários dissidentes do regime de Déby bem como elementos de outras organizações da oposição chadiana, Mahamat Mahdi Ali destacou que a FACT é “um movimento unificador e republicano que reúne todas a componentes étnicas da sociedade chadiana”.
Para o líder da FACT a França “tentou” caracterizar o seu movimento com uma etnia “destacando uma maioria Goranne. Porém, os nossos combatentes são chadianos cuja origem étnica ou cor política não têm qualquer importância. Estamos já num nível da responsabilidade que não damos importância a esse tipo de discursos e a nossa missão é prosseguir com a luta até que as nossas reivindicações sejam satisfeitas”.
Tendo sido divulgado que a FACT permaneceu e se desenvolveu na Líbia antes de lançar as ofensivas no Chade, Mahamat Mahdi Ali confirmou esse percurso e explicou que a FACT “esteve na Líbia por um período de tempo, mas com a mudança que ocorreu neste país marcada pela formação de um governo de união nacional, decidimos regressar a casa e prosseguir o nosso combate”, disse o líder da FACT.
Todavia Mahamat Mahdi Ali insistiu em realçar que “os chadianos, particularmente os que vivem no norte, não se sentem estrangeiros no sul da Líbia e um líbio do sul de forma alguma se sente estrangeiro no norte do Chade. Os dois povos estão ligados por laços sanguíneos e fraternais”, resultado, lembrou Mahamat Mahdi Ali, da movimentação de populações durante as ocupações otomana e italiana que “deslocaram famílias inteiras de um lado e do outro”.
“Não mantemos qualquer relação com potências estrangeiras”
Mahamat Mahdi Ali explicou também que desde a sua criação a FACT adoptou “uma política semelhante à de Khalifa Haftar, na sua luta contra o terrorismo. Como somos um movimento de rebeldes republicanos e laicos, estávamos na mira dos grupos terroristas armados, que nos atacaram por diversas vezes, e nós ripostamos com determinação. Não temos relações directas com Haftar, o qual soube da nossa partida da Líbia depois de termos partido, assim como não mantemos qualquer relação com potências estrangeiras, personalidades ou qualquer tipo de entidade política”, vincou Mahamat Mahdi Ali.
Perante a reacção tímida da União Africana (UA) após que Mahamat Idriss Déby assumiu a liderança do Chade, com o suporte do CMT, ignorando a regras da cadeia de sucessão, em caso de desaparecimento do presidente, previstas na Constituição chadiana aprovada por Idriss Déby, o líder da FACT reconheceu que a falta de reactividade da UA é “algo de estranho” e reforçou lembrando que o CMT “violou a lei e a Constituição do Chade”.
Face ao apoio da França ao CMT e os meios humanos e militares que a FACT dispõe no teatro de conflito, Mahamat Mahdi Ali garantiu que os seus “meios humanos são um facto e suficientes”, mas também reconheceu que, no âmbito militar, a FACT tem pela frente “um gigante”. No entanto, “isto não esmorece a nossa determinação e abnegação de ir até ao fim da nossa política de instaurar um regime democrático no nosso país em detrimento da tirania institucionalizada por Déby e os seus. Continuamos todavia a privilegiar as soluções políticas em detrimento da guerra que permanece sempre como o último recurso”, disse à e-Global Mahamat Mahdi Ali líder da FACT.
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We support FACT and we are ready to give our blood for the freedom of our country from the French and the Debys regime which has long impacted our country with poverty and misery