“As mulheres africanas têm de ser as verdadeiras embaixadoras de África” – Evódia Graça

Evódia Graça, 34 anos, oriunda da Ilha de Santo Antão, Cabo Verde, define-se como “Afropolitana “– uma africana cosmopolita pelo mundo. A jovem cabo-verdiana teve oportunidade de ingressar nalgumas nas melhores faculdades da Europa, tendo estudado em Portugal, França e EUA, viajou, desenvolveu interesses e seguiu um sonho de vida, “dar voz aos outros, especialmente às mulheres”. Nesta viagem pelo passado e embalada pelos projetos futuros, Evódia, especialista em imagem e liderança feminina, relatou o seu percurso de vida, desde a célebre viagem e formação nos Estados Unidos, que lhe permitiu conhecer o ídolo da sua vida, Barack Obama, até às dificuldades que teve em encontrar o equilíbrio e tranquilidade entre ter um trabalho convencional e viver do seu propósito de vida. Hoje vive em Lisboa, tem dois filhos e inspira centenas de mulheres, através da plataforma Inspiring Women Talks, porque num determinado momento da sua vida decidiu arriscar, mesmo sentindo medo.

 

Por Ana Gonçalves

 

O que sentiu em 2016 por ter sido uma de entre 1000 representantes do continente africano a ser recebida pelo ex-Presidente Barack Obama?

Foi uma mistura de sentimentos! Candidatei-me e dormi sob o assunto. Não coloquei expetativas nenhumas, porque sabia que estava a concorrer com outros jovens líderes de topo e que era ok eu não ser selecionada. O processo foi bastante demorado (mais de cinco meses acho eu). Até ao dia em que abro o email e quase que tenho um AVC quando percebi que sim, tinha sido selecionada!

Lembro-me como hoje, de festejar em casa, como se o mundo fosse acabar. Estar entre os 1000 jovens líderes mais influentes do continente africano, significou também, uma tremenda responsabilidade. Se eu já vestia a camisola do empoderamento dos jovens, com especial enfoque nas mulheres, este reconhecimento ao mais alto nível, trouxe ainda mais esse sentimento de responsabilidade.

 Houve oportunidade de falar com o ex-Presidente Barack Obama?

Sim. O nosso encontro com ele foi no Presidencial Summit em Washington, na altura em que discursou para os 1000 jovens líderes e inúmeras personalidades convidadas. Eu fui uma de entre muitos outros naquela sala que pôde ser contagiada pelo poder indescritível de um dos homens mais influentes do mundo, que é uma referência para qualquer jovem africano! Lembro-me de lhe dizer “My name is Evódia! I´m from Cape Verde”! E foi uma afirmação estratégica, porque eu sabia que a mulher dele – a Michelle, tinha estado em Cabo Verde, enquanto decorria o nosso fellowship, então era óbvio que ele sabia onde é que Cabo Verde ficava! E quando ele retorquiu “Yes, Cape Verde! Eu fiquei nas nuvens! Lembro-me de depois fazer vídeo e de ter partilhado com os meus amigos em total êxtase!

Alíás, eu antes de sair de Cabo Verde disse à minha prima: “eu serei uma daquelas pessoas que irá apertar a mão ao Presidente Obama! Escreve isso!”  Madruguei, fui para a fila para ser dos primeiros fellows a entrar e ficar nos lugares mais à frente! Foi muito impactante para mim, pois foi a oportunidade de conhecer um líder, uma referência. Obama sempre foi uma inspiração para mim, em todas as minhas batalhas. Além disso, o discurso que fez na cerimónia de encerramento do nosso internato foi o penúltimo discurso dele enquanto Presidente dos Estados Unidos, então, aquele discurso, tinha muita emoção e um sentido de missão muito grande. Estava cheio de recomendações, quase a dizer que estava nas nossas mãos, enquanto jovens, mudar o mundo! Há uma frase que nunca me esqueci no discurso de Obama, onde ele parafraseou John Kennedy “Não pergunte o que seu país pode fazer por si. Pergunte o que você pode fazer por seu país.” Nesse dia, eu soube que precisava de fazer muito mais pelo mundo! Eu na altura, ainda não sabia bem como o faria! Mas sabia que eu ia ser a mudança que eu queria ver no mundo!

O programa ainda continua em vigor atualmente?

O programa existe, mas não nos mesmos moldes, não tem o mesmo impacto e diminuiu consideravelmente o número de jovens selecionados. Continua sob a tutela do departamento do estado norte americano, mas já não é uma prioridade do Presidente Trump formar líderes africanos! Com a saída de Obama da Presidência, deu-se a criação da Fundação Obama, que tem inúmeros projetos pelo mundo e que está a impactar África,  através de vários projetos sociais a vários níveis.

Em que sentido é que essa passagem pelos Estados Unidos e a entrada no Programa foi inspiradora para o seu trabalho?

No fundo, eu regressei dos Estados Unidos a perceber que tinha uma missão, um propósito de vida. Não, que eu não soubesse disso antes, mas sempre pensei que o empoderamento das mulheres era algo que eu tinha de fazer diariamente a seguir ao meu dia de trabalho. Mas, com os modelos de liderança que eu conheci nos E.U.A, depois de todas as ONG´s sustentáveis que contactei e que impactavam verdadeiramente as comunidades nos EUA, comecei a perguntar-me “Será que eu posso fazer o mesmo?” Então, quando cheguei a Cabo Verde, queria fazer muito mais. Mantive o meu trabalho das 9 às 5, mas tinha o projeto de empoderamento feminino que eu liderava, que criava oportunidades e eventos para as mulheres estarem juntas e debaterem assuntos relacionados com o seu self empowerment, ocupava cargos noutros projetos de cariz social, nomeadamente a realização do primeiro evento ted X em Cabo Verde, e, de repente, vi-me sem tempo para respirar, sequer! A verdade é que a gestão da minha agenda começou a ficar insustentável e isso gerou muito stress e ansiedade! Foi o choque de aceitar que um dia só tem 24h e eu estava a fazer demasiadas tarefas… de repente começaram a surgir os primeiros sinais de stress, ataques de ansiedade, cansaço profundo e um desejo enorme de parar!

Mas não era só cansaço. Todas as dúvidas que estavam a surgir, serviam para eu me questionar acerca do meu papel no mundo! Toda essa ansiedade vinha dos meus questionamentos internos, que me estavam a empurrar para o meu propósito de vida, mas, na altura, ainda não tinha o discernimento total para perceber isso! Sentia-me bem no meu trabalho, mas estava desalinhada. Se o meu propósito de vida era trabalhar com o empoderamento das mulheres, porque é que eu só fazia isso quando o meu dia de trabalho acabava?

Nessa altura houve algum receio de avançar para algo mais alternativo, que não oferecesse tanta segurança e estabilidade?

Na altura eu não sabia que queria empreender. Apenas senti que precisava de parar. Porque regra geral, quando eu paro, acabo encontrando todas as respostas dentro de mim! Na altura, parar foi a solução que eu encontrei para mim. Pedi uma licença sem vencimento. E após isso, muitos meses depois, veio a decisão de que não voltaria para aquele trabalho e que empreender podia vir a ser um caminho viável, que eu poderia fazer a partir de qualquer lugar. Eu não sou pessoa de ligar muito ao que a minha família ou sociedade dizem, mas ouço muito a minha intuição e, para isso, tive de contrariar muitas vozes vindas da minha família, dos meus amigos que diziam “estás no auge da tua carreira, tens propostas para ires desempenhar cargos que nós desejávamos ter” mas, literalmente, era o meu corpo que estava a pedir para parar, porque estava muito cansada. Os exames e análises em Cabo Verde, não foram conclusivos, em relação a nada! Lembro-me de um médico me dizer que eventualmente eu teria um sopro no coração! Só mesmo cá, quando cheguei a Portugal, é que descobri estava à beira de um burn-out!

Eu podia ter continuado ali, em Cabo Verde, podia alcançar novos compromissos profissionais, agarrar novos desafios, mas o desalinhamento permaneceria, porque hoje eu tenho a certeza de que essa ansiedade foi gerada pelo facto de eu estar a ser empurrada, pela minha intuição, para viver do meu propósito de vida – o empowerment das mulheres.

Houve algo que ajudou nessa transformação? Que fez com que mudasse definitivamente de vida, de lugar?

Houve. Alguns meses depois de ter regressado do programa nos Estados Unidos, ocorreu a morte de um dos fellows africanos que também tinha estado no programa do Obama. Ele morreu de ataque cardíaco, meses depois desse programa nos EUA. Esse acontecimento marcou profundamente a minha vida!  Eu lembro-me de dizer a mim mesma: “se continuares com esse ritmo, és a próxima, Evódia! Nesse dia, enviei um email, marquei consulta com a minha médica, cá em Portugal,  comprei a minha viagem e vim para cá.

Às vezes, é necessário acontecer uma tragédia para mudarmos radicalmente de vida. Foi marcante, porque me lembro como se fosse hoje, de todos nós os fellows em DC, de cantarmos para o Obama, uma música chamada It´s a Brand New Day! E essa música, tinha sido escrita por esse fellow que morreu e foi a nossa homenagem ao Obama! Perceber que o autor da música tinha morrido, foi uma chamada de atenção. Ou eu mudava, ou eu poderia ser a vítima seguinte!

O apoio da família foi fundamental nas decisões que tomou ao longo da sua vida?

Não foi bem assim (Risos)…a minha mãe, pelo menos, nunca concordou que eu viesse para a faculdade estudar. Quando vim estudar, vim um pouco à revelia dela. Eu sou de Santo Antão, uma das ilhas mais rurais de Cabo Verde, e da minha família nunca tinha saído ninguém de lá para vir estudar para fora. Além disso, fui também educada no seio de uma família muito religiosa, e a religião exercia um poder muito forte neles. Neles e em nós! Mas, a nível intelectual, esta religião aposta na excelência. O envolvimento na religião fazia com que quiséssemos ser sempre os melhores, em termos de argumentação, leitura, no facto de termos de estar preparados para falar em público e isso ajudou-me muito, inclusive a refutar todos os argumentos da minha mãe para a convencer de que sair do país para vir estudar fora, apenas com 18 anos, era bom! Hoje eu sou mãe e entendo que ela só queria o meu bem!

Ainda se recorda da primeira vez que saiu de Cabo Verde e chegou a Lisboa?

Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje!  Vim sozinha, nunca tinha andado de avião, nunca tinha entrado num elevador sequer. Em Cabo Verde eu lia vários livros e as minhas referências vinham todas daí, por isso quando eu lia, “subiu no elevador”, eu ficava a pensar como é que será? Perdi-me no primeiro dia de aulas, demorei duas horas para chegar à faculdade, foi uma aventura andar de metro!

Sentiu-se alguma vez isolada, posta à margem enquanto estudava em Portugal?

Não me senti isolada, porque na Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no ano em que eu entrei, já existia um Núcleo de Estudantes Cabo-verdianos, que estava muito bem organizado. No início, quando cheguei, em novembro, estava muito focada em conseguir recuperar o tempo perdido, por isso concentrei-me só em estudar para os exames que começavam logo em dezembro, então não tinha tempo para mais nada, só estava focada em recuperar o tempo perdido. Quando finalmente me orientei, comecei a sentir-me mais envolvida na vida académica e estabeleci mais contacto com o núcleo. Por isso, nunca me senti desamparada, pois conheci pessoas que estavam a passar exatamente pelas mesmas dificuldades. 

E a que é que se deveu a escolha pelo curso de Linguística?

Na altura foi por dois motivos; o primeiro, por que sempre achei que era através das línguas que eu ia chegar à profissão que queria, hoje em dia tenho noção de que a área de comunicação se adequa melhor a mim. Outro motivo foi porque a linguística, no ano em que eu ingressei na faculdade, era um dos cursos prioritários para o Cabo Verde e isso era um ponto a mais nos critérios para vir a obter uma bolsa de estudo. Fui contemplada com uma bolsa de estudos que foi atribuída a apenas um aluno na minha ilha e que se chamava  “Bolsa das Candidatas femininas do meio rural! E é engraçado, porque hoje eu trabalho com o empoderamento feminino! Desde essa altura, o Universo já estava a empurrar-me para um propósito. Em Cabo Verde, nesse ano, só atribuíram duas bolsas deste tipo a nível nacional. Era uma bolsa que privilegiava as candidatas que, como eu, faziam um esforço suplementar para chegar ao liceu e, mesmo assim, conseguiam obter bons resultados. Foram momentos difíceis. Durante a minha adolescência, tínhamos de fazer uma hora de caminho a pé para escola, ir e voltar! Perdi as contas às vezes que fizemos aquele percurso a pé. Eu tive noção de que se não conseguisse aquela bolsa, do Instituto Camões, nunca conseguiria vir estudar para fora, pois os meus pais não tinham condições financeiras para me pagar os estudos. Aquela bolsa empoderou-me a nível financeiro e isso foi muito importante para mim, significava que nos anos da licenciatura podia estar unicamente focada nos estudos, isso significou para mim, pois pude ganhar asas, voar e nunca mais parar!

Como é que nasceu o Inspiring Women Talks e a criação de uma marca própria?

Eu sempre trabalhei a minha marca pessoal @evodiagraca. Eu sou muito a favor de fazermos o nosso próprio marketing pessoal, através das plataformas digitais! Faço isso há mais de 10 anos! Temos de celebrar as nossas conquistas não apenas para mostrar trabalho, mas porque do outro lado, de certeza que alguém está a inspirar-se no nosso exemplo! Hoje em dia, a maioria dos convites que recebo, para participar em entrevistas na TV, rádio, podcasts, jornais, projetos, chegam sempre através das minhas redes sociais. Até ofertas de emprego, mesmo não estando á procura de novos desafios! Se eu não me mostrar quem é que me irá descobrir? Essa é a principal mensagem que passo às mulheres que assistem às minhas Talks, “não tenham medo nem vergonha de se mostarem. Se não te mostrares, não serás lembrada!”

A Inspiring women talks é uma extensão da marca Evódia Graça, enquanto ativista pelos direitos das mulheres. É um espaço seguro de partilha para mulheres em Portugal, onde podem projetar as suas marcas através de um networking, partilha. E, porque sou ambiciosa, neste momento, a Inspiring women talks é mais do que uma plataforma de eventos para mulheres, tornou-se na primeira plataforma lusófona, de projeção de marcas lideradas por mulheres!

 Fazia falta um projeto como este em Portugal? Quais as mulheres que mais participam nestes eventos?

Sim! Fazia falta! Não porque não haja eventos para mulheres em Lisboa, mas porque a maioria dos eventos para mulheres só acontecem no mês de Março (muito cliché eu sei) e depois o ano inteiro, a temática do empoderamento da mulher cai no esquecimento.  Outro motivo, foi porque eu já estava farta de ir para eventos onde eu não notava a diversidade de pensamentos! Ou eram eventos só para as portuguesas e eu era, quase sempre a única africana presente, ou muitos outros eventos só para portuguesas e as únicas africanas na sala eram aquelas que lá estavam para servir o coffee break.

Então pensei! Vou criar um espaço genuíno de partilha, que será um verdadeiro arco-íris! Onde pretos, brancos, amarelos, vermelhos, azuis, todos terão vez e voz! E assim fui! Criei um espaço onde desde as oradora ao público impera a diversidade! Um espaço onde se reúnem cabo-verdianas, portuguesas, brasileiras, angolanas, moçambicanas, guineenses, americanas, enfim! Já recebemos oradores e participantes de todos os países da lusofonia, com exceção de Timor-Leste que ainda não tivemos o privilégio de receber! Porque  essa diversidade que vivemos em Portugal, tem de existir também nas esferas de debate. De troca de ideias e know-how! Nos meus eventos, participam mulheres, geralmente com idades compreendidas entre os 25 e os 45 anos. São mulheres provenientes de vários países, na sua maioria, empreendedoras e freelanceres. Entre eventos presenciais e online, já impactamos milheres de mulheres, que saem dos eventos um pouco mais motivadas do que entraram! 

Até que surgiu mais uma vez um convite, que fez com que fosse a única representante de Cabo verde numa lista de 100 jovens que integram a plataforma 100Oportunidades.pt…

Este convite chegou até mim através do Linkedin e mais uma vez lá está, a importância de estarmos presentes nas redes sociais, de usarmos as nossas plataformas para dizermos, presente! E aceitei! Pois, uma vez mais, estarei a representar uma comunidade. O principal objetivo deste programa é desafiar a Comunicação Social para dar voz aos mais jovens, para trazerem ideias novas e é isso que não vemos hoje em dia nos Media. E mim, enquanto uma das duas africanas presentes no programa que representa o africa portuguesa, vamos ter essa responsabilidade acrescida de representar as nossas comunidades. Se os jovens portugueses, em geral, não se sentem representados, nos meios de comunicação social, o que dizer em relação aos migrantes, estrangeiros e afrodescendentes? Essa representatividade é quase nula. E caberá a nós, trazer essa representatividade e mostrar que existe uma geração de jovens intelectuais africanos ou afro-descendentes, em Portugal, que podem representar as suas comunidades ao mais alto nível, dando um contributo efetivo!

O facto de ser cabo-verdiana, africana, é um fator essencial para definir a sua personalidade?

Bem, penso que a minha africanidade salta à vista!(risos) O meu afro é o meu cartão de visita! É a minha identidade! Logo, fazem parte da minha personalidade! Eu sou uma cabo-verdiana “afropolitana”, que já teve a oportunidade de viajar e conhecer o mundo. Mas foi Lisboa que vincou a minha personalidade. Eu vim para cá com 18 anos e até então só conhecia o mundo pelos livros. Então, é óbvio que todas as minhas vivências enquanto cidadã do mundo, estão mais do que vincadas na minha personalidade!

Já tive o privilégio de conhecer vários países por aí, mas nunca me esqueço das minhas raízes, nunca! Eu sinto-me em casa em Lisboa, da mesma forma que flutuo em Paris, Amsterdão, Berlim, Minnesota ou em Cabo Verde! Sinto-me em casa em qualquer parte do mundo, porque  sou uma fusão de todas as minhas vivencias: sou uma africana cosmopolita.

O facto de ter nascido em Cabo verde, mas agora viver em Portugal, é de algum modo complicado?

Para mim não é nada complicado! Home is where my heart is! E neste momento, sinto-me bem e em casa em Lisboa. No entanto, esta não é a realidade para a grande maioria! Já dei aulas e convivi diariamente com adolescentes que nasceram cá, e não se sentem nem portugueses, nem cabo-verdianos. Na escola são catalogados como não sendo portugueses, apesar de terem nascido cá, mas também não se sentem cabo-verdianos, porque nem sequer chegaram a visitar o país, e se nasceram cá o país deles é Portugal.  E convivem diariamente com essa frustração, que com o passar dos anos traz vários outros problemas sociais! Os meus dois filhos são fruto de uma relação inter-racial e eu tenho essa missão de fazer um trabalho de fundo, para que eles possam vir a conviver nessa diversidade da forma mais saudável possível e com a auto-estima trabalhada para saberem lidar com esses desafios.

Hoje em dia, sente-se feliz pelas decisões tomadas?

Sim, eu sinto que sou uma voz! Digo muito isso às mulheres africanas com quem tenho o privilégio de falar “se vos derem, um palco usem-no para brilhar, para mostrar as vossas melhores versões” Temos a responsabilidade de mostrar o que se faz de bom. Nós temos de ser verdadeiros embaixadores de África. E, para mim, ter esse comprometimento com as mulheres é muito importante. Eu sinto que carrego uma comunidade comigo. Eu também passei por desafios profissionais; não passei em entrevista de trabalho por ser demasiado qualificada, ou pela minha cor de pele, mas nós somos a geração que não pode usar a vitimização, como arma! Quando me convidam para dar talks motivacionais, deixo sempre a mensagem de que não existem impossíveis! Muitas vezes, receber um não como resposta pode ser o empurrão  de que precisamos para criar a nossa realidade. E essa é a minha missão e o meu trabalho hoje em dia, enquanto Expert em Imagem e Liderança Feminina. Ajudar outras mulheres a tornarem-se confiantes e poderosas, para posicionarem-se enquanto líderes nas suas áreas de atuação, sejam elas empreendedoras ou mulheres a procura de dar o salto a nível profissional.

E se pudesse deixar um conselho às mulheres, é que comecem mesmo que estejam cheias de medo. Comecem  os vossos sonhos, mesmo antes de estarem prontas.

Imagina-se, no futuro, a ocupar um cargo político de relevo em Cabo Verde ou em Portugal?

Não sei porquê, mas todas as pessoas me fazem essa pergunta! Tenho de rever os sinais que eu ando a enviar para o universo (risos)! Já assessorei um decisor político, e na altura entreguei-me de corpo e alma a aquele projeto, desempenhando-o com brio profissional. Cresci muito a todos os níveis e alarguei de uma forma exponencial a minha rede de contactos, inclusive cá em Portugal, mas para já não é uma prioridade, embora nunca se deva dizer nunca! Estou demasiado focada em continuar a crescer na minha área profissional, ao mesmo tempo que continuo a inspirar pessoas através das minhas palestras motivacionais. Esta é a forma privilegiada que encontrei de fazer política e continuar a ser uma voz forte na sociedade, à minha maneira! Afinal das contas, nós, seres humanos, ao contrário daquilo que pensamos, fazemos política todos os dias! Alíás, respiramos política. Seja através de um tweet, um post no instagram, uma talk, ou um discurso no parlamento!

 

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