O e-Global entrevistou o Embaixador da Palestina em Portugal, Nabil Abuznaid, para fazer um balanço da guerra que decorre na Faixa de Gaza. Segundo o diplomata, a “esperança de vitória” do povo palestiniano “não foi afetada e ainda se mantém forte”.
e-Global: Que balanço faz o Senhor Embaixador sobre a guerra na Faixa de Gaza nestes últimos meses?
Nabil Abuznaid: Após o lançamento do equivalente a duas bombas atómicas, Gaza ficou quase totalmente destruída. O número de mortos atingiu os 32.782 e o número de feridos os 75. 278. Os hospitais deixaram de funcionar após a sua destruição e os medicamentos tornaram-se escassos.
“(…) as crianças e o povo de Gaza enfrentam um novo perigo, que é a fome (…)”
Para além disso, as crianças e o povo de Gaza enfrentam um novo perigo, que é a fome, devido à falta de alimentos. Esta situação já causou a morte de muitas crianças e bebés, e é disso que o Secretário-Geral das Nações Unidas [António Guterres] e outras instituições internacionais têm avisado.
Acredita que o conflito vai durar muito mais tempo?
Com a continuação do apoio militar americano sem limites a Israel e a ausência de implementação do direito internacional, a agressão e o genocídio dos palestinianos continuarão. Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] é o principal beneficiário da continuação da guerra, para adiar e distanciar o seu julgamento em casos de corrupção que enfrenta.
Como vê o apoio de vários países estrangeiros – incluindo populações que realizaram protestos – a favor da Palestina?
A simpatia internacional pela rejeição da agressão israelita e da guerra genocida contra o povo palestiniano está a aumentar. Mas, infelizmente, a posição do Presidente americano [Joe Biden] e de muitos países europeus e internacionais que seguem a política americana não são sérios na imposição de um cessar-fogo e no fim desta guerra.
No entanto, se essas posições mudarem, e se os povos conseguirem convencer os seus governos a tomarem decisões sérias para impor um cessar-fogo em Gaza, talvez o futuro tornar-se-ia melhor para os palestinianos, para os povos da região e para o mundo inteiro.
O povo palestiniano está a ser dizimado. Como poderão os palestinianos recuperar após o conflito?
O povo palestiniano continua a lutar para obter os seus direitos de viver em paz e em liberdade, como o resto dos povos do mundo. Apesar da ocupação israelita e dos massacres a que o povo palestiniano tem sido sujeito desde 1948, a sua esperança de vitória não foi afetada e ainda se mantém forte.
“Os palestinianos enfrentam somente duas escolhas: vitória ou vitória”
Esta esperança é o fator que dá força ao povo palestiniano para continuar a sua luta. E, como disse o poeta palestiniano Mahmoud Darwish: “Os palestinianos enfrentam somente duas escolhas: vitória ou vitória”.
Como ficaram as relações entre a Embaixada da Palestina, e a própria Palestina, com o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, após as polémicas declarações do governante português em novembro de 2023 (“Não deviam ter começado…”)?
Relativamente ao que disse o Presidente da República Portuguesa – por quem temos o maior apreço e respeito –, no dia da abertura do Bazar Diplomático de Caridade essas declarações tornaram-se coisa do passado, e a resposta que lhes é dada é a simpatia do povo português para com os palestinianos, que se manifestaram aos milhares, exigindo claramente o fim da ocupação israelita dos territórios palestinianos e o fim do seu sofrimento.
A causa destas guerras é como disse Guterres: “o que aconteceu a 07 de outubro não aconteceu no vácuo”, querendo realçar que a agressão e a injustiça levam à violência.
Cátia Tocha