RCA: “O tempo da guerra terminou”, afirma Sido Soulemane, líder do grupo armado 3R

Desde 2015 que o 3R, grupo armado para o Regresso, Reclamação e Reabilitação, assinala a sua presença na zona noroeste da República Centro Africana, nomeadamente na zona entre os Camarões e o Chade, sendo acusado de inúmeros abusos, violência, mortes e massacres de civis na região.

Sidi Soulemane, alias SIDIKI responde à e-Global, através do correspondente em Bangui, Israel Ngonzo, numa entrevista onde fala sobre as origens do 3R, da guerra, mas sobretudo do regresso à paz.

e-Global (EG) Você é o chefe do grupo armado denominado 3R. Porque optaram pela via das armas e quais são os vossos objetivos?

SIDI SOULEMANE (SS) : O nosso grupo não foi criado para fazer a guerra. O 3R foi criado para assegurar a segurança da comunidade Peuhl, na região onde circulam os rebanhos dos pastores Peuhls. Desde o início desta crise o governo nada fez por nós. Perdemos todos os nossos bens, sofremos e matam-nos como animais e não somos (Comunidade Peuhl) nada aos olhos do governo de Bangui. O objetivo não é tomar o poder nem subverter o regime, mas sim garantir a segurança da nossa comunidade Peuhl, marginalizada e esquecida nas decisões tomadas em Bangui. Frequentemente, tudo se concentra em Bangui.

eG: Você assinou, também, o acordo de paz de Cartum. Porque aceitou esse acordo?

SS:  Eu disse que o 3R foi criado para proteger a comunidade Peuhl. Hoje em dia, os inúmeros deslocados que fugiram da localidade começam a regressar. É este o nosso compromisso, não há mais inimigos. Queremos que os anti-Balaka deixem os seus irmãos peuhls. Mas vamos escutar o que o governo tem para nos dizer. A segurança é uma responsabilidade do governo. Depomos as armas imediatamente. E há um tempo para todas as coisas. Devemos fazer a paz. Agora, é ao governo que pertence a responsabilidade de providenciar e garantir a segurança das populações de acordo com o acordo de paz de Cartum.

eG: Estão prontos para o DDR (Processo de Desarmamento)?

SS: Tal como os outros chefes de outros grupos armados, eu e todos os elementos do 3R estamos prontos a entrar no Processo de Desarmamento (DDR) para sermos reinseridos na vida civil. Ao princípio, a MINUSCA e uma equipa governamental efetuaram uma missão na nossa zona, e eu cooperei com essa missão tendo inclusivamente enviado uma lista de todos os meus elementos ao governo. Continuo a espera de uma resposta.

eG: Tem algum conselho a dar aos outros chefes de grupos armados à luz do acordo de Cartum?

SS: Começo pelos anti-balaka. Peço aos anti-balaka que deixem circular livremente os seus irmãos Peuhls. Peço também aos grupos armados do FDPC (Frente Democrática do Povo Centro-africano) de Abdoulaye Miskine e ao RJ de Ardo Abba e aos outros chefes que deixem circular livremente a população civil. Neste momento a guerra terminou. É tempo de fazer a reconciliação do coração e que os centro-africanos vão de Norte ao Sul e de Oeste a Este sem serem importunados. É este o meu desejo.

eG: O vosso movimento luta contra o grupo armado RJ; diga-nos com que objetivo?

SS: O RJ é nosso irmão, mas o ponto de divergência entre nós é porque eles atacam os rebanhos de gado dos Peuhls, e isto não é lógico e nós estamos determinados a defender o nosso direito, se o RJ quiser fazer a paz connosco é necessário que cessem de atacar e atingir os peuhls, que também são cidadãos deste país, este é um objetivo nosso também.

eG: E vocês estão prontos a fazer a paz com o RJ ?

SS: Porque não? Já lhe disse que o tempo da guerra terminou, e é necessário fazer a paz entre nós e entre os que nos rodeiam na região, não somente com o RJ, mas com os outros grupos armados.

eG: O vosso grupo armado, o 3R, é acusado de cometer violência sobre a população civil. Está pronto a responder perante a justiça do seu país?

SS: Não tenho medo da justiça. O 3R não é um movimento de terroristas como dizem algumas pessoas. É verdade que algumas manchas e derrapagens foram cometidas no terreno por alguns dos meus elementos. Mas eu controlo os meus homens a fim de evitar esse tipo de violências.

eG: Quais são as suas visões políticas para a saída da crise?

SS: De acordo com aquilo que eu sou, é a paz que me preocupa. É tempo de todo o mundo perceber que o tempo da guerra terminou. Lanço daqui o meu apelo às ONG’s que venham ajudar a população que sofre sem fim e cada um deve levantar-se para construir o país.

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