Supremo Tribunal da Nigéria classifica IPOB como grupo terrorista

A tensão entre o exército nigeriano e o Povo Indígena do Biafra (IPOB – sigla em inglês) continua a escalar com confrontos diários entre os militares e os apoiantes de Nnamdi Kanu. O grupo tem vindo a defender nas redes sociais que o exército tentou forçar entrada na residência de Kanu e quando o assalto não resultou dispararam contras os seguranças e militantes do IPOB desarmados que se encontravam no local.   Segundo relatos do IPOB, o exército matou 3 pessoas e 20 ficaram gravemente feridas.

O advogado do líder do IPOB acusou o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari de atentar contra a vida do seu cliente e pediu à Comunidade Internacional para responsabilizar Buhari caso aconteça alguma coisa ao seu cliente.

Os acontecimentos têm vindo a desestabilizar a área e a causar grave preocupação na população, que já veio pedir que o exército termine as suas ações agressivas imediatamente.

Em resposta, o exército nigeriano divulgou um vídeo em que membros do IPOB atacam uma viatura blindada de transporte de pessoal, quando esta atravessava uma rua perto da casa de Nnamdi Kanu, tendo o exército negado ter realizado qualquer ação naquela área.

O exército divulgou uma declaração à imprensa através do seu porta-voz, Major Oyegoke Gbadamosi, dizendo “Nada está mais longe da verdade. Aliás, foi um grupo de elementos do IPOB que bloqueou uma estrada contra uma força do 145º Batalhão durante uma manifestação de força na estrada do Banco Mundial em Umuahia no Estado de Abia entre as 6h e as 06h30 da manhã de hoje.

“Os manifestantes insistiram que as viaturas militares não iriam passar e começar a atirar pedras e garrafas partidas contra os militares, tendo atingido uma mulher que passava naquele sítio e um soldado, o Cabo Kolawole Matthew. Os militares fizeram disparos de aviso para o ar e os manifestantes dispersaram. Nenhuma vida foi tirada”, afirma o comunicado.

Num outro comunicado à imprensa, o Comissário da Polícia do Estado de Abia, Lele Oyebade, disse que não houve qualquer ataque à casa de Nnamdi Kanu, acrescentando que “o que aconteceu foi que os militares andavam a mostrar a nova viatura blindada perto da residência de Nnamdi Kanu”.

O exército iniciou na semana passada um exercício militar no Sudoeste do país denominado “Operation Python Dance II”. O exercício está a ser encarado como uma demonstração de força na cidade natal do líder do IPOB.

Numa resposta, o IPOB avisou os militares para se manterem afastados do seu território, dizendo “ O IPOB achou necessário dar um sério aviso aos comandantes do exército nigeriano no sudeste para mandar regressar os seus militares aos quartéis pois não existe nenhum risco de segurança no Biafra. Se existe sítio onde os militares são desesperadamente necessários é no Estado de Borno, Yobe e Adamawa devido à ameaça do Boko Haram”. Acrescentam ainda que “o mundo está ciente que o governo da Nigéria está a usar o seu exército para provocar a violência para rotular o IPOB como uma organização terrorista. A segunda fase da Operation Python Dance lançada no sudeste é mais uma manobra para provocar o IPOB à violência devido às inúmeras vezes que cidadãos do Biafra, pacíficos e cumpridores da lei, foram provocados nos controlos de estrada à volta das terras do Biafra”.

Residentes no Estado de Abia, como Uzu Reginald, são da opinião de que os militares não têm qualquer razão para se andar a mostrarem perto da residência do líder do IPOB se não tivessem segundas intenções. “Acreditamos que eles queriam matar o Kanu e qualquer desculpa que esconder este facto não vai resultar”, disse.

A Assembleia das Mulheres Igbo (WIA), os Líderes Igbo do Pensamento (ILT) e o Movimento Juvenil Igbo (IYM), a Rede Cristã do Sudeste e a Associação dos Estudantes Igbo também vieram já condenar o referido ataque.

Maria Okwor da IWA disse “A ideia de invadirem a residência de Mazi Nnamdi Kanu no Domingo à tarde para demonstrar força é absurdo e muito provocador. “O exército não consegue demonstrar força em Sambisa, no Estado de Plateau (onde centenas de aldeões foram massacrados pelos pastores fulani) em Ikorodu, Lagos, (onde o culto badoo obrigou os residentes a mudarem-se). A demonstração de força a cinco metros da casa de Kanu é um indicativo de que o governo federal quer provocar a guerra no sudeste. Este governo é claramente um governo inimigo. Pedimos ao governo federal para pedir desculpas sem demoras por esta atitude infantil de provocação deliberada”.

Um diplomata turco, Abdulkadir Erkahraman, condenou a alegada invasão à residência dos lideres do IPOB, descrevendo a ocorrência como sendo uma provocação para os levar à guerra.   Numa declaração na sua conta de Facebook, Erkahramna, que é o Presidente da Associação Internacional das Nações Comerciais na Turquia, acusou o governo nigeriano de usar “jogos sujos” para parar a atualização do Biafra.

Escreveu ainda que “se alguma coisa acontecer com Mazi Nnamdi Kanu, que o mundo saiba que o governo da Nigéria o assassinou como tem vindo a planear. O exército nigeriano atravessou uma linha vermelha”.

“Já enviamos vídeos para o governo turco, TV TRT, CNN e para os canais locais de televisão e para a International Media das Nações Unidas”, “Eles não podem parar a Nação Biafra com estes jogos sujos. É tempo de estar junto com a Nação Biafra”.

O governo nigeriano através do Procurador-Geral, Abubakar Malami, pediu ao tribunal para revogar a liberdade condicional de Kanu alegando que ele tinha infringido os critérios da liberdade condicional determinada pela divisão de Abuja do Supremo Tribunal Federal.

Outros nigerianos que se sentiram ofendidos com as ações de Kanu, pediram também para ele fosse novamente detido, afirmando que ele tinha violado as condições da liberdade condicional.

Outros, no entanto, tem tentado aconselhar cuidado ao governo para não voltar a deter Kanu. O Coronel (na reforma) Umar Dangiwa, antigo governador do Estado de Kaduna, disse “em qualquer dos casos, apesar do que as agências de segurança possam achar, não há nada a temer de Mazi Kanu. Ele e os seus compatriotas são pessoas que amam o seu país e estão dispostos a arriscar as suas vidas para denunciar algumas más práticas. Seria um trágico erro ameaça-los como sendo comuns criminosos. É evidente que eles estão a lutar por uma causa que milhões consideram perfeitamente legitima”.

“Até que a nossa democracia não aprenda a acomodar a dissidência, o vigor, robustez e até a inconveniência, não irá conseguir servir o nosso bem comum”, disse o Coronel.

O Coronel Umar, natural do norte da Nigéria, culpa Buhari pelas suas palavras e ações que levam à marginalização do povo do sudeste nigeriano, um facto que acabou por contribuir para o aumento das campanhas de secessão. “Muitos Igbos sentem-se genuinamente marginalizados por pertencerem a uma categoria que deu ao Presidente apenas 5% dos seus votos e que, aparentemente, os fez cair em desfavor”.

Entretanto, esta quarta-feira, 20 de setembro, o Supremo Tribunal Federal em Abuja, decretou o IPOB como uma organização terrorista, estipulando que todos os envolvidos em qualquer tipo de ação do IPOB sejam considerados como terroristas e julgados como tal.

Esta ação do Supremo Tribunal foi requerida pelo Procurador-Geral da Nigéria, Abubakar Malami, já no seguimento de um decreto presidencial nesse sentido também, que ficou a aguardar os devidos procedimentos legais.

A Assembleia Estadual já reagiu a pedir ao governo federal que reconsidere e pediu também ao IPOB que cesse todas as suas atividades por forma a que conversações entre a assembleia nacional e a assembleia estadual no sentido de resolver a questão.

Existe uma grande expectativa neste momento no sudeste para saber qual será a reação do IPOB a esta injunção do Supremo Tribunal assim como quais serão os desenvolvimentos na “Operation Python Dance II” conduzida pelo exército no sudoeste.

 

Iliba Kure, correspondente na Nigéria

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