O Governo angolano anunciou que mais de 100 participantes da manifestação de sábado, 24 de outubro, contra o alto custo de vida e o adiamento das autarquias em Angola, iriam ser levados a julgamento sumário. Recorde-se que o protesto foi convocado pela sociedade civil, tendo contado com a participação de forças da oposição, como a UNITA.
O secretário de Estado do Interior para o Asseguramento Técnico, Salvador Rodrigues, declarou que os cidadãos terão então que explicar ao juiz as razões que os obrigaram a “desobedecer” às autoridades.
“Não entendemos como é que dirigentes de um partido se envolvem na manifestação que acaba em arruaça e desacato às autoridades. Não me parece que seja de urbano este comportamento. Diante do tribunal a que serão submetidos, teremos mais elementos para saber o quê que os animou”, observou.
No entanto, o Movimento Jovens pelas Autarquias – que convocou a manifestação em Luanda no fim de semana – ameaçou voltar às ruas se houvesse julgamento dos manifestantes detidos. Entre os presos encontram-se jornalistas e integrantes do maior partido da oposição no país.
“Como o caso é político, não vamos aceitar que os manifestantes vão a julgamento. Vamos desencadear um conjunto de ações para ver se conseguimos libertá-los – com manifestações e vigílias. O caso político deve ser resolvido também de forma política”, defendeu o porta-voz do movimento, Digo Dalí.
Governo nega morte de manifestante
Entretanto, apesar de as autoridades negarem, participantes e dirigentes da UNITA têm insistido que houve uma morte devido à repressão violenta da polícia no protesto em Luanda.
Um manifestante declarou a um órgão de comunicação que testemunhou uma morte no protesto de sábado. “Ele morreu bem ao meu lado, caiu no chão ao lado de uma loja nos Congolenses enquanto decorria a manifestação. Não tenho nenhuma foto dele, mas as imagens ainda correm na minha cabeça. (…) Vi a polícia levá-lo”, disse.
Também a UNITA alegou publicamente que houve uma morte e exigiu ainda a libertação incondicional dos detidos.
“A responsabilidade dos atos de violência, dos distúrbios e mesmo da morte confirmada são da polícia e dos seus mandantes. Faço um apelo ao senhor Presidente da República e aos membros do seu Governo para não se esconderem atrás da Covid para limitarem direitos e liberdade dos cidadãos, para violarem a Constituição ou para atrasarem os compromissos institucionais e o desenvolvimento do nosso país”, afirmou em entrevista o presidente da UNITA Adalberto Costa Júnior.
O secretário Salvador Rodrigues, por sua vez, negou qualquer registo de mortes e partilhou que seis polícias ficaram feridos. Mencionou igualmente a existência de vários danos materiais às forças de segurança, como a “queima de uma motorizada e de uma viatura dos bombeiros, além da quebra dos vidros de uma ambulância e de uma viatura da unidade de trânsito”.
Manifestantes queixam-se de extravio dos seus pertences
O líder do Movimento dos Estudantes de Angola (MEA), Francisco Teixeira, um dos 103 cidadãos detidos e organizador da manifestação de sábado, denunciou que durante a detenção, feita pelos agentes da Polícia Nacional, foram extraviados alguns dos seus objetos pessoais, entre os quais telemóveis, dinheiro e chinelos.
Em representação dos restantes, desabafou então o sucedido, salientando que “o serviço da polícia não é roubar, mas sim proteger o cidadão”.
O ativista, que aguarda para ser ouvido, explicou como tudo aconteceu. “Assim que desci da minha viatura, a primeira coisa que fizeram é me tirar dinheiro, telefone e chave da minha viatura”, contou.
Também de acordo com a mesma fonte, há outros detidos que lamentam pelos seus pertences.