O Presidente da República e líder do MPLA, João Lourenço, aproveitou o VIII Congresso do partido no poder em Angola para neutralizar militantes envolvidos em casos de corrupção. Alguns dos apoiantes do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos foram nomeados para o Comité Central e o Bureau Político.
De acordo com o “África Monitor”, foram observados cuidados para não reforçar a percepção de que João Lourenço persegue oponentes internos. Mesmo com o discurso oficial anticorrupção, alguns suspeitos desses crimes foram reconduzidos para o Comité Central e o Bureau Político do MPLA.
Entre eles encontra-se Irene Neto, filha do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, reconduzida como membro do Bureau Político. A visada tem as contas bancárias bloqueadas devido ao processo que envolve o marido, detido em Luanda, tendo Irene Neto ido para Portugal em 2020 e regressado a Angola em julho de 2021, depois de garantias de que não seria alvo das autoridades por críticas ao regime.
O “Luanda Post” cita também Higino Carneiro, afastado do Bureau Político, mas reconduzido para o Comité Central. É, desde 2019, arguido em processos sob acusação dos crimes de peculato, violação de normas de execução do plano e orçamento, abuso do poder e de branqueamento de capitais, praticados de 2016-2017, altura em que ocupava a pasta de governador provincial de Luanda.
É igualmente mencionada a ex-ministra das Pescas e do Mar, Victória de Barros Neto, que foi então reconduzida para o Comité Central. Foi alvo de um mandato de captura, emitido em janeiro de 2019 pelas autoridades da Namíbia, devido ao alegado envolvimento em corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Por ser deputada disfruta de imunidades.
Outro membro reconduzido para o Comité Central foi João Marcelino Tyipinge, arguido desde 2018 por desvio de fundos públicos enquanto governador provincial da Huíla. Enquanto estava a ser ouvido pela Procuradoria-Geral da República tornou-se deputado, gozando assim de imunidades.
Por fim, o último mencionado é Vigílio Tyova, antigo governador provincial do Cunene, reconduzido no Comité Central. É arguido desde 2020, acusado de desvio de fundos públicos e de bens destinados à população devido à seca naquela região.