Angola: “Só queremos saber quem ganhou, é um direito nosso”

O dia 24 começou por ser um dia de festa da democracia e pela primeira vez os angolanos puderam  votar na diáspora, acabou por terminar em pancadaria e manifestações para que fosse cumprida a lei da afixação da acta síntese da assembleia de voto.

Conseguimos conversar com várias pessoas em Portugal e muitas delas estavam felizes por votar pela primeira vez e participar da mudança, alguns até fizeram questão de sublinhar o quanto é importante o voto e não a abstenção.

As assembleias de voto foram divididas por números e as pessoas tinham de se dirigir consoante os nomes das listas, quem o nome começava por A e B tinham de dirigir-se a assembleia de voto e dar o nome completo para a verificação nas listas que estavam presentes e era necessário a entrega do BI (bilhete de identidade) atualizado, não era aceite BI caducado até ao meio-dia,  e posteriormente a comissão eleitoral (CNE) emitiu um comunicado a informar que as pessoas que tinham o documento fora da validade poderiam votar sem qualquer problema.

A estudante Maura falou ao microfone da E-Global e explicou como foi votar pela primeira vez : “Olha surpreendentemente fácil. Um dia antes vi a mesa de voto no site da CNE, então assim que cheguei já sabia para onde me dirigir. Cheguei e fui até à mesa três fazer o voto, a fila estava até relativamente curta (mas vi que as outras filas estavam mais cheias). Pediram o meu BI e identificaram o meu nome na lista que tinham das pessoas que fizeram registo eleitoral. Quem não fez o registo eleitoral aqui em Portugal não foi permitido votar. Não fiquei durante muito tempo, mas estava tudo calmo.”

A E-global falou também com um dos  delegados de lista da UNITA no local, Edgar Kapapelo, que estava na mesa de voto 1, e no meio de interrupções de pedidos de ajuda de eleitores para encontrar a assembleia de voto e até mesmo perguntas sobre o porquê dos nomes terem saído em Luanda se nunca atualizaram, ou se poderiam votar no consulado visto que os nomes tinham saído no site da CNE e estavam nas listas. Edgar explicou que foi uma experiência nova para todos, pois é a primeira vez de angolanos a votarem na diáspora, e as maiores dificuldades foi a constituição das mesas e não haver  comunicação entre as mesmas, que acabam por se reger de forma autónoma “há assembleias que aceitam que o eleitor faça o voto com o bilhete caducado e há mesas que  se recusam, mesmo com atualização do registo”. Kapapelo afirmou que por ordens superiores exigiam que os delegados fossem votar em outros locais , quando por lei devem votar onde ele está “isto é uma aberração”, rematou.

Foi um dia com uma enchente enorme no consulado angolano em Portugal, e à medida que foi passando o tempo os ânimos ficaram cada vez mais exaltados , pois a princípio as urnas fecharam às 17 horas e foi posteriormente alterado o horário, e até a meia-noite do dia 25 ainda não tinham afixado a acta. A população não aceitou regressar a casa sem ver os resultados e  ficou a aguardar no local  até às quatro da manhã e entre esses momentos, nem o cônsul nem a vice deram quaisquer explicações sobre o incumprimento da afixação da acta.

Foi chamada a polícia no local para retirar os jovens do consulado angolano que reivindicavam a fixação das actas. No consulado a resposta foi “temos medo, têm de estar afastados para podermos afixar”. Os jovens foram para o outro lado da estrada e mesmo assim não foram afixados os resultados, a raiva e desaprovação tomaram conta do local, ouvia-se gritos de ordem por parte das pessoas que lá estavam “queremos mudança”, “queremos transparência”, “só queremos saber quem ganhou ,é um direito nosso”. 

Foram detidos alguns jovens, entre eles um dos delegados da UNITA de nome Catanha que foi atirado ao chão num desentendimento por causa das actas não publicadas. Muitos outros jovens também detidos pediam que se fizessem eleições justas. Posteriormente a publicação dos resultados provisórios, onde o MPLA fica a frente na sondagem e a UNITA em segundo lugar, trouxe revolta por parte de muitos angolanos pois segundo o secretário provincial da UNITA,  Nelito Ekuikui, esses resultados não são verdadeiros, pois teve acesso a 90% das actas e declaram que estão a vencer as eleições.

Segundo o secretário para informação do MPLA em conferência de imprensa na televisão pública de Angola (onde vence com 51,07% e a UNITA com 44,05%), “a UNITA tem de provar esses dados, pois os votos obtidos pelo MPLA revelam a vontade dos angolanos e confirmam a quinta vitória eleitoral na história de Angola.”

Por outro lado, o movimento cívico Mudei (movimento de indivíduos e organizações da sociedade civil que lutam por eleições dignas em Angola), que tem feito observação eleitoral minuciosa de todos elementos relevantes a boa condução do processo eleitoral, revela que cada passo dado pela CNE ou até mesmo o uso abusivo dos órgãos de comunicação mostrou a contagem paralela onde o MPLA está com 43% e a UNITA com 52%.

Depois de um dia com várias contestações dos resultados provisórios e muitas manifestações nas redes sociais e na capital de Angola, foi marcada uma manifestação no consulado de Angola em Lisboa por eleições justas no dia 26 às 7 horas da manhã. Relembra-se que é declarado os resultados finais das eleições no mesmo dia.

Luzineide Pacheco – Correpondente

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *




Artigos relacionados

Brasil: Plano de segurança para a Amazónia vai ter investimento de 2 biliões de reais

Brasil: Plano de segurança para a Amazónia vai ter investimento de 2 biliões de reais

O secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, anunciou na passada segunda-feira, que o governo federal…
Ucrânia nomeia três vice-ministros da Defesa

Ucrânia nomeia três vice-ministros da Defesa

O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, anunciou nesta quarta-feira, 27 de setembro, as escolhas dos seus vice-ministros. As…
Angola: Governo quer uniformizar salários da Administração Pública

Angola: Governo quer uniformizar salários da Administração Pública

A ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Teresa Dias, anunciou, após a reunião da Comissão Económica do Conselho…
Afeganistão: Talibãs desvalorizam proibições que afetam as mulheres

Afeganistão: Talibãs desvalorizam proibições que afetam as mulheres

O principal porta-voz do Governo talibã no Afeganistão, Zabiullah Mujahid, criticou a intervenção da diretora executiva da ONU Mulheres, Sima…