O passado dia 26 de Outubro marcou o terceiro ano do mandato de João Lourenço como Presidente da República de Angola. Alguns artigos fizeram questão de assinalar a data, recordando os passos positivos alcançados no combate à corrupção e nos sinais de mudança e de esperança de um novo paradigma de governação.
Outros, mais críticos, salientaram a incapacidade do Chefe de Estado em melhorar as condições de vida da generalidade da população e o incumprimento de promessas eleitorais, como a realização das eleições autárquicas e a criação de postos de trabalho para a juventude.
É inegável que Angola vive um período de maior escrutínio e responsabilização do agente público, mas também de Liberdade de expressão. O fim do “estado de graça” do Presidente veio prová-lo. Manifestações de classes profissionais e de jovens e o aumento das críticas públicas são cada vez mais frequentes.
Angola faz o seu caminho para se tornar num país mais inclusivo e igualitário, mas o percurso ainda é, naturalmente, longo. Persistem vicíos antigos que inquinam este objetivo, como o controlo dos conteúdos nos meios de comunicação oficiais e sucedem-se acusações de instrumentalização política de poderes que se querem independentes, especialmente o judicial.
Embora o atual ambiente económico-social, ainda mais agravado pela pandemia da COVID-19, não seja favorável ao Presidente, será injusto rotular negativamente estes três anos. Da mesma forma que será prematuro afirmar que se assiste a uma verdadeira mudança de paradigma. O país muda, mas os principais responsáveis politicos faziam parte do círculo do poder de José Eduardo dos Santos. Falta mudar, também isto. Décadas de uma cultura de compadrio.
E justamente, os primeiros passos para a reestruturação geracional têm sido dados por João Lourenço. Talvez por calculismo politico (interno e externo), mas tem sido o Presidente o responsável por operar a mudança no MPLA e nas estruturas do Estado. O futuro de Angola é incerto, mas certamente parece abrir melhores perspectivas. Apontando baterias para a reeleição em 2020, João Lourenço ainda vai precisar dos antigos caciques, mas a toada reformista não deverá abrandar e o seu segundo mandato (contando com a sua reeleição) mostrará precisamente isso.
A liderança governativa de Angola será tomada por novos rostos, jovens tecnocratas, mais mundividentes, mas não se esperem mudanças abruptas na linha política nacional. Afinal de contas, ainda é o MPLA que manda.
Por: Marcelino Agostinho