No seguimento das demonstrações de 24 de Outubro, em que foram detidos 103 manifestantes, actualmente a aguardar julgamento no Palácio de Justiça, Ana Joaquina, em Luanda, aguarda-se com expectativa redobrada o desfecho deste caso que é acompanhado com muito interesse pela sociedade angolana.
Os activistas não abandonam os seus pares que se encontram detidos tendo organizado uma manifestação à porta do Palácio de Justiça, não desmobilizando, apesar do aparato policial. Também, convocaram vigílias que se prolongarão até que os activistas sejam libertados. A próxima, é já hoje, pelas 18H00, junto ao Palácio Ana Joaquina.
De assinalar, que as vigílias contaram com a presença de artistas de renome como Yuri da Cunha e Preto Show, o que constitui uma novidade em Angola se tivermos em conta que muitos destes artistas sempre contaram com o apoio, a vários níveis, dos que outrora dirigiam o país e que agora se consideram injustiçados e perseguidos pela justiça, a quem o Presidente de Angola apelidou de Marimbondos.
Especula-se, agora, que os mesmos que auxiliaram estão agora a cobrar os favores antigos, com o intuito de pressionar o Presidente, aproveitando-se de uma conjuntura económica e social periclitante. Os artistas têm uma capacidade de mobilização notável, sendo por isso preocupante para os actuais detentores do poder a sua comparência neste tipo de eventos.
Constatou-se, igualmente, que segmentos da sociedade, designadamente da classe de advogados se mobilizaram oferecendo os seus serviços para defender em tribunal os activistas, demonstrando desta forma a sua solidariedade e procurando, simultaneamente, obter alguma notoriedade.
E, como não podia deixar de ser, a arqui-rival de João Lourenço, Isabel dos Santos, aproveitou para, através da rede Twitter, criticar o que o pai, enquanto Presidente negou durante quase 40 anos à população, a falta de liberdade de expressão e direito à manifestação.
Neste momento, a pressão vem da rua e igualmente dos activistas detidos que aproveitam para denunciar as péssimas condições de encarceramento e se recusam a ocupar as celas que o regime lhes atribuiu. Quanto mais tempo se arrastar esta situação, pior para o regime que não pode permitir-se demonstrar sinais de fraqueza, sob pena de claudicar perante uma multidão sequiosa de melhores dias.
Vicente Silva