As redes sociais têm sido o ambiente preferido dos apoiantes de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, para se mobilizarem. No último domingo, dia 8, Brasília assistiu a episódios de extrema violência com a invasão, por parte de milhares de manifestantes, à Praça dos Três Poderes, causando enormes prejuízos financeiros mas sobretudo, promovendo desordem e uma sensação de ataque à democracia no país.
A maior aplicação de troca de mensagens instantâneas na Internet tem servido de palco para a troca de informações, muitas vezes desinformação. Ao longo dos últimos dias, a troca de mensagens intensificou-se e a manifestação em Brasília chegou a ser previamente mencionada nos grupos de WhatsApp. Apesar disso, as autoridades não conseguiram conter a multidão e os atos de vandalismo.
Mesmo após os ataques na capital brasileira, mensagens de apoio a Bolsonaro e contra o atual governo de Lula circulavam em grupos tradicionais de direita. Com a mensagem das autoridades brasileiras e do Supremo Tribunal Federal, muitos desses grupos, com centenas de participantes, alteraram o seu nome para não atrair a atenção das investigações e não se verem confrontados com acusações de incitação à violência e apoio ao terrorismo.
A nossa reportagem conversou com alguns dos membros desses grupos que comentaram porque fazem parte dessa lista de troca de mensagens. Um único pedido foi recebido: que não mencionássemos os nomes verdadeiros dos entrevistados “por medo da censura” pela qual passaria o país.
“Estou num de WhatsApp há muitos anos. Nesse espaço, trocamos impressões sobre o governo Bolsonaro e sobre o Lula. Ninguém ali é terrorista e ninguém pede que sejam feitas manifestações com quebra-quebra. Não aceitamos é que um bandido como o Lula, que o Brasil tão bem conhece, que promoveu grandes casos de corrupção, e que foi pego em diversos esquemas fraudulentos, assuma a presidência de um país como o nosso”, disse Fabiana (nome fictício).
“É um absurdo pensar que em todos os grupos ou em todas as mensagens haja ódio. Nós vivemos o governo do PT por anos, sabemos como é. Fico admirada que a comunidade internacional compre a ideia de um governo sadio com o Lula. As pessoas esqueceram-se dos casos que envolvem Lula, das gravações telefónicas em que ele confessa ter roubado. É muito triste. E ainda dizem que é uma teoria da conspiração”, frisou Paulo (nome fictício).
“No grupo onde estamos existem médicos, advogados, professores e outros profissionais, inclusive ocupantes de grandes cargos. Não há ninguém alienado. O que defendemos é que o resultado das eleições deve ser auditado, apenas isso. Ninguém quer golpe. Só mesmo quem conhece a política no Brasil pode acreditar na retidão do Lula e do seu partido”, sublinhou Mariana (nome fictício).
Por outro lado, encontramos narrativas que mostram a divisão política no Brasil.
“Engana-se quem acha que está em causa um endeusamento do Bolsonaro. Tenho um pensamento de direita, mas, acima de tudo, contestamos que Lula esteja no poder”, mencionou Alice (nome fictício).
“Hoje, Bolsonaro e Lula já não fazem a nossa cabeça. Não tenho nada contra o Bolsonaro, mas não acredito num país governado por Lula. Infelizmente, vamos viver momentos tensos”, finalizou Cláudia (nome fictício).