Brasil: Em dia de feriado, brasileiros contestam eleições em frente aos quartéis militares

A passada quarta-feira, no Brasil, foi de bastantes acontecimentos num dia marcado pelo feriado de finados. Diversas cidades do país continuam com pontos de bloqueios nas estradas. Centenas de milhares de pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo aglomeraram-se em frente a unidades militares e solicitaram que as forças armadas agissem para “combater” o que chamam de “possibilidade de comunismo” na sociedade brasileira.

Entrevistamos alguns dos manifestantes para perceber as motivações desse descontentamento.

Paulo Augusto, lusodescendente, disse que o que está em causa não é Bolsonaro estar ou não no governo, mas a manutenção de Lula no poder.

“É uma vergonha um país como o Brasil ter que conviver com um ex-presidente do porte de Lula. A imprensa internacional está a prestar um desserviço. Os correspondentes internacionais não conhecem o Brasil e celebram quando os presidentes de outros países dão os parabéns ao Lula. Com ou sem manifestação, ninguém vai aceitar que Lula fique no poder. E, ao contrário do que afirmam especialistas, as eleições não foram limpas. Houve muita manipulação”, frisou Paulo.

Na opinião de Ana Vilela, portuguesa que vive em São Paulo, há um retrocesso moral no país.

“Vemos muitas pessoas a pedirem a ajuda do exerético. Vivemos momentos terríveis com os governos do PT e hoje vemos esse fantasma voltar. Não vamos aceitar. É perigoso demais. Toda a equipa ministerial do Lula, segundo as sondagens, é composta por pessoas que foram presas ou acusadas nos mesmos processos do Lula. Será que ninguém enxerga isso? Será mesmo que a comunidade internacional está preocupada com o Brasil?”, adiantou Ana.

Já Ricardo Ribeiro, que vive no Rio Grande do Sul e é lusodescendente e camionista, acredita que “a realidade política no Brasil não permite mudanças como as que as pessoas acham que vai acontecer”.

“Um novo governo liderado por Lula não faz sentido. Espero que haja revisão dos votos ou que se apresentam novos candidatos ao cargo. Não vamos mais viver desta forma. O facto de querermos a intervenção militar não é por idolatria a um candidato. Estamos cansados do que vivemos com o PT. Queremos ordem no país. Há zonas do país onde os bandidos celebram a chegada de Lula ao poder. Estamos tristes com o posicionamento da Europa neste sentido de defender um corrupto”, frisou Ricardo.

No entanto, Paulo Macedo, outro lusodescendente, disse que está contente com o resultado das eleições, pois ele votou em Lula e acredita que o país vai mudar.

“Lula vai reestabelecer a nossa boa imagem no mundo. Ele tem pautas ambientais importantes e se importa com questões sociais e culturais. Essas manifestações são todas armadas”, contestou Paulo.

Por sua vez, Maria de Lurdes, professora, disse que ser bolsonarista, neste momento, é “resistir ao sistema”.

“Sou professora, voto em Bolsonaro, houve pontos muito positivos no governo de Bolsonaro. Houve muita manipulação nos votos. O mundo deve ter em mente que metade de um país não concorda com os resultados. Isso não é normal. Não houve seriedade nas eleições”, finalizou Maria de Lurdes.

Em São Paulo, uma das estradas bloqueadas foi rapidamente desobstruída com a passagem de uma claque organizada da equipa do Corinthians que seguia para assistir ao jogo no estádio. Esses adeptos aproveitaram o momento para retirarem as faixas contrárias a Lula e as que pediam intervenção militar e as substituíram por uma faixa que celebrava a democracia. Manifestantes locais disseram que deixaram a estrada livre para evitar confrontos com a organizada, e que a faixa a defender as eleições e a democracia só lá estava porque “o Corinthians é o clube de Lula”.

“Não se esqueçam que os corintianos são aqueles que sempre arranjam confusões quando há jogos, briga nas ruas, fazem arruaça nos estádios, bem ao contrário do que se pede numa democracia”, disse outro manifestante que preferiu não se identificar.

As próximas horas no Brasil são de apreensão sobre a subida de tom das manifestações. As autoridades brasileiras seguem atentas às manifestações.

Ígor Lopes

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