Brasil: Relações comerciais com a China influenciadas pelo novo governo Lula

Após a posse do novo presidente do Brasil, Lula da Silva, no dia 1 de janeiro, gerou-se, segundo especialistas, um “certo alvoroço” no mercado brasileiro.

Todo período de transição política é um momento de incerteza e ainda não se sabe bem o que acontecerá na economia do país. Esta ocasião de transição gera inconstância macroeconómica, com maior volatilidade do câmbio do dólar e menores investimentos privados – podendo demorar de seis meses a um ano para que o cenário se restabeleça.

Diante deste cenário, o especialista em importação, Rodrigo Giraldelli, há 20 anos especializado em importações do Brasil para a China, afirma que as importações no novo governo Lula poderão ser influenciadas por dois tipos de políticas de controlo: do câmbio e da inflação.

“Em primeiro lugar, a política de controlo do câmbio poderá afetar diretamente o preço do dólar ou de outras moedas. Esse preço pode dificultar ou facilitar as importações. O governo poderá, por exemplo, seguir um câmbio fixo por um determinado período para sustentar o valor do dólar estável. Em segundo lugar, as medidas de controle de inflação também podem afetar as importações brasileiras. Agora quanto a China, vale lembrar que o Brasil é responsável por boa parte do abastecimento da indústria do país asiático, com matérias-primas e componentes. Do outro lado da moeda, a China é a responsável pelo abastecimento do comércio brasileiro, atacadista e varejista, com produtos para revenda”, comentou o especialista à frente da consultoria China Gate, que auxilia empresários brasileiros a importar produtos do país asiático.

De acordo com Giraldelli, do ponto de vista ideológico, o governo Lula é aliado com a política chinesa, contudo, os governos com viés esquerdista não são tão inclinados para o setor de importação, colocando taxas que dificultam essa atividade.

“Temos esse paradoxo mas se olharmos para o que aconteceu no passado, no governo Lula 1 e Lula 2, nenhuma equipe económica minimamente responsável vai deixar faltar produtos por conta de medidas impositivas, porque isso gera inflação. Então, se há necessidade de consumo, há necessidade de fornecimento”, argumentou.

Com o aparente fim das restrições que vieram com a pandemia do Coronavírus, a expetativa é que 2023 seja uma continuação de 2019.

“Em 2022 já houve uma melhora significativa, apesar das restrições, levando a uma reestruturação e reorganização dos mercados. Já enxergamos isso nos valores de frete internacional, que subiram dez vezes durante a pandemia, mas já voltaram ao padrão normal. O fornecimento também já voltou para o seu normal e o prazo de entrega também, com o fluxo dos navios restaurados. Esperamos que haja uma restituição e melhora nos valores”, explicou o CEO da consultoria China Gate.

Já avaliando o governo Dilma e os antecessores, os resultados da economia não foram tão positivos, segundo o especialista em importação, por conta dos muitos escândalos de corrupção.

“Sempre que há uma tensão, os investimentos param, os negócios em curso entram em situação de espera. Se tem que abrir loja, não abre, se tem que investir em uma nova unidade de produção, não investe, se tem que contratar não contrata justamente para ver o que vai acontecer. No primeiro governo, o crescimento não estava vindo, e no segundo, por conta da questão política, o Brasil ficou muito tempo parado, não só em importações e exportações, como em várias áreas”, corroborou o especialista em importação Rodrigo Giraldelli.

Para o consultor, há boas expetativas sobre a relação entre Brasil e China. Elas têm se intensificado, independente de governo, nas duas rotas (de importação e exportação). A China, tem se mostrado cada vez mais forte no fornecimento dos produtos manufaturados para o mundo inteiro, além de estar em constante na questão logística, relacionadas a porto, estradas e ferrovias, para poder escoar esses produtos ao redor do mundo de forma mais efetiva.

“Na China Gate, estamos projetando um crescimento de 50% no nosso volume de negócios com o país asiático esse ano. Como 90% de nossa atividade é com a China, então prevemos que metade desse crescimento vem da nossa base de clientes”, acrescentou Giraldelli.

Num cenário onde o congresso está tão polarizado, o consultor comenta sobre os desafios do novo governo para manter o governo em crescimento económico, gerando confiança nos mercados internacionais para manter o fluxo de investimento.

“Em relação à importação, o maior desafio será manter as desonerações de impostos que incentivam o giro e o comércio de mercadorias para que continue o fluxo crescente do comércio, no ponto de vista da importação. Já na exportação, é necessário manter as relações saudáveis com a China e com todos os países para continuarmos vendendo os nossos commodities especialmente no agronegócio, onde enviamos produtos para o mundo inteiro, sendo a China o principal comprador dos nossos produtos”, finalizou Rodrigo.

Ígor Lopes

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