A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) anunciou que “o percentual de famílias endividadas nas capitais brasileiras bateu recorde no primeiro semestre de 2021”. Esta entidade informou que a taxa (71,4%) é a maior da série histórica iniciada em 2010, sendo 15,6% – ou 9,7 pontos percentuais (p.p.) – superior à média registada no mesmo período entre os anos de 2010 e 2020.
“Em termos absolutos, isso significa que dos 16,8 milhões de lares, quase 12 milhões tinham dívidas no fim de junho, acréscimos de 733,9 mil famílias em relação ao ano passado e de 1,36 milhão se comparado a 2019”, pode-se ler nos dados publicados na Radiografia do Endividamento das Famílias, realizada pela FecomercioSP.
Segundo apurámos, “os números são reflexo da volta da confiança dos brasileiros em consumir (e do sistema financeiro em conceder crédito), após um período de consumo represado durante a pandemia, quando as famílias direcionaram os gastos para compra de itens essenciais – evitando a aquisição de produtos como eletroeletrónicos, vestuário, veículos, entre outros (mais comumente comprados a prazo). Além disso, as instituições bancárias estavam mais seletivas em decorrência do cenário de incerteza. Também contribuiu para o endividamento recorde o facto de muitos lares terem conseguido economizar (e, agora, poderem recorrer a essa economia para fazer novas dívidas), ao deixar de fazer viagens ou outras atividades de lazer por causa do isolamento social. Completam ainda o cenário a redução da taxa Selic, que permaneceu no menor patamar histórico (de 2% ao ano) até março de 2021 e as medidas de estímulo, como isenção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e repactuação dos empréstimos, que foram gradualmente implementadas ao longo de 2020”.
Este estudo, ao qual tivemos acesso, demonstra também que, “em dois anos, o total de lares com dívidas aumentou 11,5%. Em junho de 2019, o percentual de famílias brasileiras endividadas nas capitais era de 64,1% (em 2020, passou para 67,4%). Oito, das 27 capitais, aponta a pesquisa, têm a maior taxa histórica, destacando-se, entre elas, a cidade de Rio Branco, com 92% das famílias declarando ter algum tipo de dívida. Entretanto, o percentual de famílias com atraso no pagamento diminuiu, embora tenha se mantido superior ao registado no período pré-pandemia. Em junho de 2020, 26,3% das famílias das capitais brasileiras estavam potencialmente inadimplentes. Já no mesmo período de 2021, esse percentual era de 25,6% (4,3 milhões em termos absolutos) e, em 2019, de 23,9%”.
De acordo com a FecomercioSP, “com o pagamento do auxílio emergencial, os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), bem como a antecipação do décimo terceiro salário e o aumento do emprego formal, a renda média mensal, que havia caído 2,6% –de R$ 7.217, em junho de 2019, para R$ 7.029, em 2020 – exibiu alta de 1,9% (R$ 7.163), no primeiro semestre deste ano. Este panorama, somado à menor taxa de juros nas renegociações de dívidas, ajudou a reduzir as inadimplências. Entretanto, considerando o atual cenário, de menos renda e mais inflação, com alta dos preços nos grupos de alimentação, habitação e transportes (os quais têm grande peso no orçamento doméstico), a elevação da taxa básica de juros gera preocupação sobre seus efeitos nos níveis futuros de endividamento e inadimplência”.
Por fim, este documento sublinha que “o total mensal de dívidas das famílias nas capitais nos seis primeiros meses de 2021 cresceu 10,3% em relação a junho do ano passado, atingindo R$ 26 mil milhões, um acréscimo de R$ 2,4 mil milhões. Em relação ao mesmo período de 2019, a alta foi de 13,3%. A parcela da renda comprometida com dívidas também subiu de 29,9%, em 2019, para 30,3%, em 2020, e 30,5%, em 2021 – o percentual considerado saudável é de até 33%. A maior seletividade do sistema financeiro e o conservadorismo das famílias na contratação de crédito, em decorrência do cenário de incerteza causado pela crise sanitária, fez com que o valor da dívida mensal por família caísse 1,4% entre junho de 2019 e 2020. No entanto, em 2021, voltou a subir, encerrando o primeiro semestre em R$ 2.182 e superando o patamar de 2019”.
Capitais brasileiras com os “maiores problemas”
Em junho de 2021, Rio Branco (AC) tinha, além do maior percentual de famílias endividadas, as maiores taxas de crescimento no montante total mensal de dívidas (60%) e na dívida média por família (28%) em relação ao mesmo período de 2020. Em segundo lugar, entre as capitais com maior percentual de famílias endividadas, ficou Curitiba (PR): 91%; seguida por Natal (RN): 88,5%. Além de Rio Branco, Boa Vista (RR): 86,6%, João Pessoa (PB): 81,9%; Porto Alegre (RS): 79,4%; Belo Horizonte (MG): 82,1%; Fortaleza (CE): 75,9%; Rio de Janeiro (RJ): 72,6%; Campo Grande (MS): 65%; e São Paulo (SP): 66,1% foram as capitais que apresentaram a maior taxa histórica para os próprios patamares.
“Só em São Paulo, houve o ingresso de mais de 600 mil famílias no rol dos endividados, que passou de um padrão histórico de 52% para 66% da população. Comportamento similar também foi registado no Rio de Janeiro, que aumentou em quase 300 mil famílias o contingente da população com dívidas”, finalizou a FecomercioSP.