Apesar das recomendações contrárias do governo dos Estados Unidos e de várias personalidades da diplomacia brasileira e mundial, o presidente do Brasil Jair Bolsonaro embarca nesta segunda-feira (14/2) para encontro marcado em Moscou com o presidente Vladimir Putin na quarta-feira (16/2).
O pano de fundo da visita é a movimentação de tropas e os exercícios militares na fronteira com a Ucrânia e a acusação dos EUA de que a Rússia planeia invadir o país vizinho, o que Putin nega. Temendo a iminência de uma guerra, países ocidentais orientaram seus cidadãos a deixar a Ucrânia.
Diplomatas e professores de relações internacionais avaliam que a Rússia é um importante parceiro do Brasil, mas entendem que a viagem de Bolsonaro neste momento pode ampliar o desgaste do presidente brasileiro com outros parceiros, como EUA e União Europeia, ambos críticos de Putin.
“É legítima a viagem à Rússia, se justifica do ponto de vista comercial, mas o momento é muito ruim. Tem o risco de o presidente Bolsonaro fazer uma declaração impensada, descontrolada, que pode ter consequências ruins”, afirma Mauricio Santoro, doutor em ciência política e professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
A orientação da diplomacia brasileira para Bolsonaro é só falar sobre a crise entre Rússia e Ucrânia se Putin tocar no assunto. Mas o presidente já antecipou que espera uma solução pacífica. Para Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington, a visita de Bolsonaro é “extremamente inoportuna”.
Segundo ele, eventuais acordos não terão impacto no comércio, enquanto o presidente aumentará o isolamento com líderes ocidentais, apesar da tentativa de demonstrar o contrário.
De acordo com o diplomata, Bolsonaro acena à base conservadora porque também irá à Hungria, governada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, líder de extrema-direita.
“Esse tipo de viagem apenas reforça a imagem que Bolsonaro já tem, a de ser um autoritário. Ele vai visitar dois autocratas, figuras antidemocráticas”, diz Rubens Ricupero.
No mês passado, o presidente negou que a visita represente um sinal de apoio à Rússia no atual contexto de crise. Mas, segundo Ricupero, mesmo que Bolsonaro tente se manter neutro, a viagem será interpretada como um gesto pró-Putin, uma vez que na diplomacia “o que você faz, muitas vezes, tem mais eloquência que uma declaração”.
Para o professor Mauricio Santoro, a presença de Bolsonaro em Moscou faz parte do esforço de Putin para mostrar que não está isolado – recentemente visitaram o país os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Argentina, Alberto Fernández.
“Receber o presidente brasileiro é importante porque os russos querem evitar essa imagem de que estejam dependendo basicamente do apoio de países como Belarus ou China”, diz.
Carlos Vasconcelos – Correspondente