A Assembleia da República portuguesa decidiu manifestar, no dia 15 de maio, o seu pesar pelas mortes e expressar a sua solidariedade com todas as vítimas da “imensa tragédia ambiental”, no Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Uma iniciativa fruto do projeto apresentado pelo deputado luso-brasileiro Flávio Martins, eleito pela emigração pelo círculo de fora da Europa.
O “Voto de Pesar” visa também destacar o cenário de caos instalado nesse estado brasileiro, após as enchentes causadas pelas fortes chuvas, no início de maio, quando várias cidades foram destruídas e mais de uma centena de pessoas perderam a vida.
Flávio Martins recorda que mais de 400 municípios foram afetados, tendo a economia local sofrido graves paralisações e que “existe uma previsão de que serão necessários, pelo menos, três meses para começar a retomada de alguma normalidade social, económica, desportiva e cultural”.
“Para além dos graves danos materiais, há perda de vidas, de histórias e do registo de memórias afetivas: inúmeras famílias, bairros e até cidades tiveram a sua rotina alterada para sempre e as estruturas de transporte, de abastecimento, de saúde, de educação e outras encontram-se seriamente danificadas ou paralisadas. Acrescente-se que mais de 12 mil animais foram resgatados e um número incalculável acabou por morrer”, frisou o deputado, sublinhando que a capital gaúcha, Porto Alegre, conta com forte influência portuguesa, desde a sua fundação por comunidades açorianas, há mais de 250 anos, e cujo presidente da Câmara é luso-descendente.
“Para além desse município, há outros com forte presença da comunidade portuguesa que passam por essa tragédia, como Gravataí, Viamão, Guaíba, Farroupilha, Bento Gonçalves, Ijuí, Pelotas e Rio Grande. As nossas comunidades, plenamente integradas à sociedade sul riograndense, também foram afetadas por esta tragédia”, contou o Flávio Martins, que referiu que o vice-consulado de Portugal em Porto Alegre e os consulados honorários de Pelotas e de Rio Grande “estão atentos a esses problemas, cujos efeitos interferirão até mesmo na participação cívica na eleição ao Parlamento Europeu, dia 9 de junho”.
“É necessário referir que as nossas Associações que, de uma forma incansável, têm contribuído na campanha de acolhimento solidário, como a Casa de Portugal de Porto Alegre, Casa dos Açores em Gravataí, Centro Português 1º de Dezembro (de Pelotas), Sociedade Portuguesa de Beneficência em Pelotas, Centro Português (de Rio Grande) e Centro Cultural Português de Ijuí. A população afetada do Rio Grande do Sul, na qual está inserida a nossa comunidade portuguesa, merece toda a nossa solidariedade e, pelos que faleceram, o nosso pesar”, finalizou Flávio Martins.
Uma parte significativa do território de Porto Alegre continua submersa, como, por exemplo, o Aeroporto Internacional Salgado Filho. Os dados mais recentes da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul, em constante atualização, apontavam, no dia de ontem, para a existência de 467 municípios afetados, tendo sido afetadas cerca de dois milhões de pessoas. Estão atualmente mais de 68 mil pessoas em abrigos e mais de 581 mil pessoas desalojadas. Registaram-se 806 pessoas feridas, 82 desaparecimentos e o número de óbitos confirmados é de 161.
Já foram resgatadas mais de 82 mil pessoas e mais de 12 mil animais foram encontrados, com vida, pelas equipas de resgate, que contam com mais de 27 mil pessoas no terreno, além da população civil.
O Rio Grande do Sul, estado brasileiro mais meridional e com uma rica história partilhada com as comunidades portuguesas, está a ser assolado pela maior tragédia climática da história do Brasil, decorrente da união de fatores climáticos e humanos que provocaram inundações extremas e um prejuízo à economia da região já estimado em, pelo menos, 20 mil milhões de euros.
Ígor Lopes