O conflito entre a Ucrânia e a Rússia, que completa hoje três meses de duração, tem criado consequências humanitárias graves, incluindo instabilidade para a economia mundial, que já estava debilitada devido aos efeitos da pandemia da Covid-19.
No Brasil, o cenário não é diferente. Houve subida de preços em produtos cujas matérias-primas têm origem noutros países, com mais intensidade para os produtos vindos das duas nações em guerra.
“A Rússia é um grande exportador de petróleo, sementes e fertilizantes agrícolas, fazendo com que diversos países – incluindo o Brasil – dependam dos seus produtos e matéria-prima. Com a guerra, a previsão é que o mercado de petróleo e as commodities agrícolas passem por subida dos preços nos próximos meses, em razão de restrições impostas ao país para conter o avanço do conflito”, explicou Marcelo Fonseca, economista e sócio da HLB Brasil, empresa global de auditoria, consultoria e outsourcing.
O clima no Brasil, apesar da aparente normalidade, começa a sofrer alterações do ponto de vista económico. Nos últimos meses, os brasileiros já sentiam os efeitos da alta nos preços da Petrobrás nos postos de combustíveis e no gás de cozinha. Com a economia já fragilizada, a perspetiva de novos aumentos preocupa a população.
Marcelo Fonseca acrescenta que, “no momento, medidas estão sendo analisadas pelo governo para que o efeito dos confrontos não atinja abruptamente o Brasil, mesmo cientes de que haverá resultados negativos”.
Segundo apurámos, “uma das medidas analisadas para reduzir a alta dos preços do petróleo e fertilizantes é um possível corte na tributação do frete marítimo para conter os custos de importação”.
De acordo com o planeamento do Ministério da Economia brasileiro, a ideia é “realizar um corte linear em torno de um terço do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) – tributo criado em 1980 como incentivo para a indústria naval nacional que incide sobre produtos desembarcados nos portos, com combustíveis a matéria que mais contribui para a arrecadação, seguido por cargas transportadas por contentores, adubos e fertilizantes”.
Esta medida, caso implementada, “teria um custo anual de cerca de R$ 4 mil milhões ao ano, sem necessidade de compensação orçamentária, pois a redução poderá ser usufruída por todos os setores e seria exigido um balanceamento pela Lei de Responsabilidade Fiscal, caso o corte fosse restrito a um único setor”.
“Apesar de a proposta já estar em análise antes do início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o Ministério da Economia pretende acelerar o planeamento para conter os preços – não somente dos combustíveis, como também dos alimentos, que sofrerão alta em razão da redução da importação de fertilizantes da Rússia, além da importação do trigo, grão que o Brasil também depende dos países envolvidos no conflito”, completou este economista, que sublinhou que, “além dos aspetos envolvendo o setor de alimentos e combustíveis, a exclusão de bancos russos do sistema de pagamentos interbancários Swift também pode impactar o Brasil, por inviabilizar transações financeiras e comerciais de países que mantém negócios com a Rússia”.
Fonseca reforça que “a escalada do conflito poderá trazer ainda mais incertezas e obstáculos ao funcionamento da economia global” e que “expetativas são afetadas a cada novo dia e, neste contexto, o Brasil se vê no pós-pandemia tentando se reerguer num ano que já seria atribulado devido ao calendário eleitoral”. Porém, continua este economista “no front interno, estamos com juros elevados para conter a inflação, o que certamente impactará negativamente o consumo e o investimento”.
“O momento é desafiador para formuladores de política económica não só no Brasil, mas também em muitos países. A inflação está forte e persistente em diversas economias desenvolvidas, o que faz com que haja descompasso entre as políticas monetária e fiscal. Neste contexto, governos devem controlar as expetativas de inflação e, em paralelo, seguem com medidas de afrouxamento fiscal visando mitigar os efeitos da crise económica sobre famílias e empresas”, finalizou Marcelo Fonseca.
Ígor Lopes
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