Brasileiros divididos entre a ilusão e a desilusão vão às urnas este domingo

Após uma violenta campanha eleitoral, que dividiu o Brasil entre a ilusão e a desilusão, os brasileiros vão às urnas este domingo. Jair Bolsonaro, conservador de direita, e Fernando Haddad que incarna a herança de 15 anos do PT no poder, estão à cabeça das sondagens e são apresentados com os potenciais candidatos que vão estar presentes na segunda volta.

Apesar de uma vantagem nas sondagens, a vitória ainda não está garantida para Bolsonaro e Haddad, nas últimas horas, ainda tenta inverter a tendência.

“Existem três possibilidades no desfecho para as eleições de domingo”, explicou o académico brasileiro Carlos Sávio à e-Global. “A primeira, e a mais provável, é a passagem ao segundo turno de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, com uma distinta vantagem para o candidato Bolsonaro” resultado de “uma onda de anti-petismo muito forte” que existe desde 2014 e Bolsonaro tem conseguido “galvanizar esse sentimento”.

A segunda possibilidade, mais remota, seria com a vitória do Bolsonaro na primeira volta, “para isso teríamos de ter em conta dois factores. O primeiro é uma alta no voto nulo, tendo em conta que no Brasil o voto é obrigatório, se nesta eleição tivermos 35% de votos nulos quem atingir 33,3% dos votos válidos é eleito no primeiro turno”, estando Bolsonaro próximo dessa percentagem.

Por fim, o terceiro cenário, também improvável para o académico brasileiro, “seria uma segunda volta entre Bolsonaro e o terceiro candidato Ciro Gomes. Nas simulações Ciro Gomes é o único candidato que pode vencer Bolsonaro no segundo turno. O que pode gerar um voto útil, inclusive no campo de Fernando Haddad, mas também o facto que no Brasil, nas últimas três eleições presidenciais, mais de 25% dos eleitores decidiram o voto no final da semana da eleição”. Carlos Sávio lembra que “na última eleição tivemos uma reviravolta na recta final com a passagem do candidato Aécio Neves em relação à candidata Marina Silva, que mudou o segundo turno. Quatro dias antes deste pleito a maioria pensava que Marina estaria no segundo turno, o que não aconteceu. Apesar de hoje o quadro ser diferente de 2014, essa possibilidade existe”.

Caracterizando o perfil dos eleitores dos dois candidatos melhor posicionados pelas sondagens, Carlos Sávio explicou que o eleitor de Bolsonaro “pode ser divido em três perfis. O primeiro perfil é o eleitor de extrema-direita, defensor da Ditadura Militar no Brasil contrário à ideia de Direitos Humanos e que acredita que o uso da força e da violência são inerentes à função do Estado. Ou seja, 8 a 10% dos brasileiros pensam assim. Outro terço não é de extrema-direita, é um eleitor extremamente desencantado com a política, desencantado com o sistema politico e com o Estado. É oriundo da classe média baixa e que se sente traído pelo PSDB, que foi o partido antes do PT nas últimas décadas no Brasil. Este segundo perfil do de eleitor do Bolsonaro é uma espécie de viúva do PSDB”.

“O terceiro perfil do eleitor do Bolsonaro são ex eleitores de Lula, e para quem o mote principal é a questão da segurança pública. É uma classe pobre oriunda de grandes cidades do Brasil que sofrem sistematicamente com questões habitualmente relacionadas com a violência. As comunidades onde estas pessoas moram são dominadas pelo tráfico de droga e pelas milícias”, explicou Carlos Sávio. “Aconteceu um fenómeno nos últimos 10 anos no Brasil relacionado com a violência e o aumento dos assaltos a pessoas pobres. Apesar das propostas de Bolsonaro serem fantasiosas, eles vêem em Bolsonaro o candidato com capacidade de resolver o problema da segurança pública e desta violência quase endémica”.

Para Carlos Sávio o eleitor do Fernando Haddad divide-se em dois perfis. “De um lado do petismo clássico, já bastante combalido e encolhido. São eleitores urbanos com formação universitária e que têm um discurso basicamente contra o Brasil tradicional. 12% dos votos do Haddad são de eleitores clássicos do PT. Outros 10 a 12% é o conjunto de eleitores das classes populares que seguem o espírito de Lula, que fez uma serie de políticas que atenderam a uma resposta material destas classes. Numericamente são menos que aqueles que estão insatisfeitos”.

Este domingo os brasileiros vão escolher quais sãos os dois principais candidatos que vão disputar a segunda volta, ou, num cenário apontado como pouco provável, aquele que será eleito à primeira volta.

RN

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