Aos 60 anos de idade, Thiago Cesario Alvim vai tentar a eleição como vereador da cidade do Rio de Janeiro. Com origens em Braga, Portugal, este pré-candidato, que é formado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é sócio proprietário do tradicional Bar Carioca da Gema, na Lapa, e presidente licenciado do Polo Novo Rio Antigo, diz estar preparado para ajudar o Rio de Janeiro a voltar a ser uma grande cidade. Thiago Alvim defende temas como o incentivo à economia criativa, o turismo e o comércio, como forma de promover a “melhoria económica da cidade pós-pandemia”.
Em entrevista , este responsável falou sobre os pontos que precisam, na sua opinião, de maior atenção do poder público local, destacou as potencialidades cariocas, sublinhou os problemas enfrentados pela população da cidade, frisou o que pensa ser primordial em termos de ação política para “salvar” o Rio e falou sobre a sua ligação a Portugal.
O que motiva a sua intenção em se candidatar a vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro?
O amor que tenho pela minha cidade. Sou carioca da gema, nascido e criado no Rio. Tenho um amor infinito por ela, estou chocado com o descuido dos governantes no trato com a coisa pública. A minha experiência de mais de 20 anos à frente do Bar Carioca da Gema, seis anos como presidente do Polo Rio Antigo e os diversos projetos realizados pela cidade me deram conhecimento, amadurecimento e vontade de consertar o que está errado. Outra fonte de inspiração é o turismo, sob a tutela Polo estão a Escadaria Selarón (terceiro destino diurno mais visitado da cidade) e a noite da Lapa (primeiro destino noturno mais visitado da cidade). Precisamos melhorar muito o cuidado público com as áreas turísticas da cidade para que possamos abandonar o número pífio de visitantes internacionais ao Rio de Janeiro. Outro grande incómodo é a desordem urbana que chegou ao limite extremo, especialmente no que se refere ao comércio informal e ao cuidado de zeladoria urbana que traz inúmeras consequências danosas aos empreendimentos locais, principalmente bares e restaurantes, segmento do qual faço parte. Sou o representante da cultura Carioca, trabalho com apresentações ao vivo e possuo bloco de Carnaval, sinto que o Município ainda não entendeu o quão importante é a sua participação na manutenção do título Capital Cultural do país. Lutarei por maiores verbas no orçamento da cultura.
Que desafios os próximos vereadores do Rio terão numa época pós-pandemia?
Reconstruir a cidade. Digo mais, os efeitos da pandemia foram multiplicados pelos defeitos da atual gestão do prefeito Marcello Crivella. Teremos muito trabalho pela frente. Pelo lado social, precisamos dar maior assistência à população em situação de rua com o fortalecimento dos Centros de Assistência Social, geração de empregos, ordenamento dos pontos turísticos, limpeza de parques e jardins, reabertura dos equipamentos culturais e, principalmente, uma estratégia de posicionamento internacional que busque a imagem da cidade de forma segura e atrativa aos turistas.
Que planos tem para a cidade do Rio de Janeiro?
Precisamos incentivar a economia criativa através de projetos de leis, o turismo e o comércio para que possamos dar os primeiros passos na melhoria económica da cidade pós-pandemia. O Rio de Janeiro está degradado, a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) precisa obter melhores recursos para a realização do seu trabalho pela cidade. Ao caminhar, observamos a falta de lixeiras, o sumiço dos garis (profissionais de limpeza), a omissão do Município das suas obrigações. O Rio de Janeiro tem uma vocação para o desporto, cultura e festas. Os últimos quatro anos foram de negação a essas vocações. Quero implementar projetos para a prática desportiva ao ar livre nos bairros da cidade, melhorar a infraestrutura das praças públicas para que possamos ter de volta a população na utilização dos equipamentos. A infraestrutura pública é o principal motivador do surgimento, ainda na infância, pelo interesse ao desporto e de uma nova geração de atletas. Já as festas, proibidas por conta dos ajuntamentos, precisam ter o apoio do poder público para as alternativas cabíveis. Pretendo colaborar com a fiscalização da execução dos contratos de transporte público na cidade, onde a população tem encontrado dificuldades de acesso ao serviço e na qualidade dos modais. Apesar da dificuldade económica que se encontra o Município, a educação pública precisa de maiores investimentos em infraestrutura, nas condições de trabalho dos educadores e maiores salários. Apesar do aumento de escolas e abertura de vagas na gestão do ex-prefeito Eduardo Paes, ainda precisamos buscar um maior nível educacional no sistema público. Vou trabalhar para aumentar a oferta de leitos, exames e hospitais da rede municipal de saúde e de assistência social. Segundo o Ministério da Cidadania, precisamos dobrar o número de CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) para atingirmos a meta de cinco mil famílias por centro de referência conforme a Norma Operacional Básica SUAS (Sistema único de Assistência Social).
Como pretende atuar em favor da cidade?
Com maior vigor, honestidade, presença física constante na fiscalização e independência dos poderes tendo comprometimento com a legislação.
O que é necessário para cuidar da população carioca?
Planeamento, propostas e pensamento de longo prazo para dar continuidade aos projetos.
De que forma, como vereador, pode auxiliar o Rio de Janeiro?
Precisamos fiscalizar a execução dos projetos com seriedade. Cobrar da Prefeitura a execução da Lei de Diretrizes Orçamentárias conforme o Plano Plurianual garantindo o processo participativo da população no Planeamento Estratégico da Cidade de acordo com a Lei Orgânica do município, que é o primeiro passo para o planeamento nos quatro anos seguintes.
Uma das suas linhas de trabalho é o turismo. Como essa atividade é importante para o Rio e por que não é possível evoluir nesse setor como outras cidades do mundo e até mesmo do Brasil?
Conforme mencionei, temos problemas estruturais básicos no setor do turismo como a limpeza urbana, segurança, planeamento urbano, mobilidade e o preparo técnico de línguas para os profissionais de atuação no segmento. Na cidade do Rio, tivemos, em 2019, 2,3 milhões de turistas internacionais de acordo com o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo. O que significa dizer que somos a 104ª cidade mais visitada do mundo pelo relatório da Pesquisa Euromonitor Internacional. Para efeito de comparação, na América Latina temos: Cancun (40ª posição, com 6,1 milhões de visitantes), Buenos Aires (75ª posição, com 2,767 milhões de visitantes), Lima (89ª posição, 2,764 milhões). Ainda temos muito para melhorar e bastante potencial para a nossa cidade. Precisamos nos preocupar com a infraestrutura urbana, geração de emprego qualificado para receção dos turistas, ordenamento urbano nos pontos de visitação que facilite a segurança, pontos de embarque e desembarque, além da limpeza e atendimento. Precisamos diversificar os pontos turísticos da cidade para ampliarmos o potencial económico e de geração de empregos. Além da Zona Sul e o Centro Histórico da cidade que precisam de atenção do poder público, também temos o Parque Madureira, Igreja de Nossa Senhora da Penha, Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, Prainha e Grumari, Floresta da Tijuca, entre outros. Quanto mais diversificarmos os pontos de visitação da cidade, maior será a capacidade económica e de geração de renda local. Precisamos fiscalizar os projetos da Prefeitura para cada ponto turístico. Assim, acredito que colocamos a cidade no papel de destaque merecido.
Em que outras áreas pretende atuar?
A educação tem de ser a obrigação de todo político. Pretendo ainda focar no desporto, geração de emprego, saúde, cultura e na população em situação de rua. Com essas atuações, temos consequentemente o fortalecimento dos negócios locais e maior qualidade de vida da população.
A situação das contas públicas do Rio parece ser um problema em termos de governabilidade. Como avalia e que informação tem sobre o tema?
Acredito que a situação económica da cidade é fruto da má gestão e consequentemente da queda de arrecadação. O poder público precisa ter projetos anti cíclicos, ou seja, quando há queda no consumo, precisamos gerar projetos de incentivo e desoneração nos setores estratégicos, fortalecendo os pequenos negócios geradores de empregos. No cenário inverso, com aumento de arrecadação, a gestão pública precisa equilibrar as contas, reduzir os gastos do governo e ampliar a arrecadação. Outro tema de impacto nas contas são os escândalos de desvio de verba, a justiça precisa atuar com rigor e buscar a punição com agilidade a fim de evitar o prolongamento dos crimes contra os cofres públicos e contra o dinheiro da população.
De que forma a política nacional, ou seja, o governo Federal, deve olhar para a cidade do Rio?
Como o maior polo turístico e cultural do país, onde há maior chance de arrecadação e recuperação económica. O Governo Federal precisa ser o maior incentivador com investimentos de grande porte em infraestrutura, logística de insumos e captação de investidores.
Ser político no Rio de Janeiro é hoje visto de forma crítica e negativa por parte da população local. Políticos estão a ser responsabilizados por má gestão e corrupção. Isso não lhe incomoda quando pensa em se candidatar?
Pelo contrário, a cidade está entregue aos corruptos e péssimos políticos na sua maioria. Sinto a necessidade de subir o nível e qualificar o ambiente político. Sou advogado de formação, empresário bem sucedido, possuo experiência há quase três décadas nos principais setores económicos da cidade, não tenho nenhum passivo jurídico que me desqualifique e pretendo ser o exemplo. Estou certo de que posso contribuir na busca de maior representatividade das pessoas bem intencionadas na construção dos projetos públicos da cidade. Se não tomarmos a frente desta iniciativa, a cidade continuará entregue aos corruptos e corruptores.
Será a sua primeira candidatura?
Não. Em 1996, ainda com pouca experiência, mas muito motivado pela minha boa vontade de contribuir, acreditei na viabilidade da candidatura, o que não ocorreu na prática.
Como pensa que é ser vereador na cidade maravilhosa?
Ser o síndico. Fiscalizar, fiscalizar e fiscalizar. Dialogar com a população e elaborar os projetos efetivos.
Vai concorrer por qual partido? Qual é a orientação do seu partido?
Democratas. Centro direita.
Que cargos e funções ocupa neste momento?
Sou sócio proprietário do Bar Carioca da Gema e presidente licenciado do Polo Novo Rio Antigo.
Qual a sua opinião sobre o governo do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella?
O pior Prefeito da história do Rio de Janeiro. A sua gestão é péssima e danosa à cidade. Ele é um péssimo gestor, poucas horas trabalhadas e cuida apenas do interesse do seu grupo político.
Quais são as suas ligações a Portugal?
Sou descendente de portugueses, a minha família chama-se Alvim e origina-se no Norte de Braga.
Que imagem tem de Portugal?
Um país lindo, uma gastronomia deliciosa e farta, com um povo irmanado com o nosso.
Que locais prefere nesse país europeu?
Ainda não tive a oportunidade de estar na terra dos meus antepassados. Gostaria de conhecer as cidades do Porto e Lisboa e o Norte de Portugal.
Tem alguma interação com a comunidade ou cultura de Portugal no Brasil, no Rio?
A culinária portuguesa sempre me atraiu, conheço a Casa do Minho, o Arouca Barra Clube e o Real Gabinete Português de leitura, um dos lugares mais bonitos do Centro da cidade.
Por fim, que mensagem deixa para os cariocas? Acredita que o Rio possa voltar a ter uma imagem positiva perante os seus habitantes e perante o mundo?
Nós, Cariocas, amamos a nossa cidade, as nossas praias, as nossas montanhas e o nosso lazer. Quero abrir as ruas, os parques e as nossas atrações para entregar de volta ao povo da nossa cidade e aos visitantes. Salve a Lapa! Salve o Centro! Salve a cultura! Salve o Rio de Janeiro!
Ígor Lopes