Nascida em Portugal, Teresa Bergher vai tentar quinto mandato como vereadora no Rio de Janeiro

Maria Teresa Bergher é um dos principais nomes políticos na cidade do Rio de Janeiro. Como vereadora, ocupa uma das 50 cadeiras da Câmara Municipal carioca. Está no quarto mandato e anunciou, recentemente, que vai tentar a reeleição este ano, quando os brasileiros votarem, em novembro, para eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. É professora, iniciou-se na política há mais de 30 anos, ao lado do marido, o falecido deputado Gerson Bergher, e foi subprefeita do bairro de Copacabana.

Nasceu na freguesia de Mareco, no concelho de Penalva do Castelo, no distrito de Viseu, região Centro de Portugal. Diz apostar na promoção de Portugal no Brasil. Todos os anos, organiza a tradicional celebração do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o famoso 10 de junho, na Câmara Municipal carioca, evento que reúne dezenas de nomes importantes do cenário político, empresarial, social, folclórico, artístico e cultural dos dois países.

Tem ainda uma grande ligação com a comunidade judaica no Brasil. É autora da Lei que criou o Memorial às Vítimas do Holocausto, que tem inauguração prevista para outubro. “A luta contra o preconceito, a xenofobia e a intolerância são uma forte presença no meu mandato”, afirma.

A vereadora portuguesa, que conquistou um espaço de destaque na política brasileira, diz estar ciente de que os próximos anos não serão fáceis para os futuros governantes, que terão de enfrentar um mundo pós-Covid-19, no qual os desafios serão o desemprego, a falta de estrutura nas áreas da saúde e da educação, além do aumento do número de sem-abrigo. Segundo esta responsável, a parte comercial também foi afetada. Bergher alega ter conhecimento de diversos empresários que anunciaram o fim das suas empresas.

Depois de nascer numa aldeia que tem hoje pouco mais de 100 habitantes, a vereadora sente-se “orgulhosa” por ter sido eleita com mais de 30 mil votos. Em entrevista, Teresa Bergher falou sobre as suas pretensões políticas, destacou possíveis ações e os projetos em marcha, ressaltou o papel negativo do coronavírus na economia municipal, criticou o atual prefeito, falou sobre a comunidade judaica e mencionou a importância de Portugal para os luso-brasileiros.

 

O que está a motivar a intenção em renovar o seu mandato como vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro?

Acima de tudo, o meu compromisso com a cidade do Rio de Janeiro, que me acolheu, e amo de paixão. Além disso, ter o prazer de estar perto da minha querida comunidade portuguesa, que nunca teve, na sua história, uma legitima representante. Orgulha-me muito de divulgar as nossas tradições e cultura, celebrar na Câmara as nossas mais importantes datas festivas e, na linha de frente, promover a imagem do nosso querido Portugal. Além disso, estou à frente de um projeto de interesse de toda a humanidade: a construção de um memorial às vítimas do regime assassino nazista, que leva o nome de Gerson Bergher, o meu falecido marido. A luta contra o preconceito, a xenofobia e a intolerância são uma forte presença no meu mandato.

 

Que desafios os próximos vereadores do Rio terão numa época pós-pandemia?

O Rio, que já estava tão desassistido e mal cuidado, após o Covid-19 terá de enfrentar sérias questões, como o aumento do desemprego e, consequente, o crescimento do comércio ambulante, que já toma conta das ruas da cidade há muito tempo; saúde e educação desestruturadas, e crescimento da população em situação de rua.

 

Como o Covid-19 está a impactar o Rio?

Impacto assustador e já visível, quando assistimos ao anúncio de significativo número de empresários comunicando o fim das suas empresas, e milhares de pequenos e médios comerciantes declarando que não reabrirão os seus estabelecimentos após o fim da pandemia.

 

Que planos tem para a cidade do Rio de Janeiro?

Planos para que haja mais transparência no uso das verbas públicas, este é um tema ao qual dedico boa parte do meu mandato, além de uma permanente atenção às pessoas vulneráveis, que devem ser beneficiadas com políticas públicas que lhes ofereçam dignidade. A omissão do Poder Público em relação a essas pessoas é gritante. A ausência de saneamento básico em mais de 50% das moradias no Rio ainda é uma realidade cruel e terá, como sempre teve, uma atenção especial no meu mandato.

 

Como pretende atuar em favor da cidade?

Investimento imediato em saneamento básico! Boa parte das doenças, principalmente nas comunidades carentes, são fruto da falta de saneamento e ausência de água potável. As nossas crianças não podem continuar brincando no esgoto! O investimento em educação precisa virar realidade no Rio de Janeiro.

 

Como vê os atuais problemas de corrupção na área da saúde no estado do Rio?

Vergonhosos e que deprimem qualquer ser humano que tenha o mínimo de compromisso com a vida. Inaceitáveis! Devem ser apurados no mais profundo rigor e os corruptos, colocados na cadeia.

 

De que forma, como vereadora, pode auxiliar o Rio de Janeiro nas áreas da educação, cultura, segurança pública, saneamento básico, turismo e transportes?

Nenhum país, cidade ou estado avança sem que haja investimento na educação! O município é obrigado a investir 25% do seu orçamento, o que nem sempre acontece! Infelizmente, muitas vezes falta boa gestão desses recursos. Segundo o Tribunal de Contas do Município, 70% das nossas escolas têm uma infraestrutura ruim. A merenda escolar teve uma significativa redução de valor e, consequente, perda de qualidade. Não podemos esquecer que muitas crianças contam apenas com a alimentação que recebem nas escolas! A oferta de atividades culturais para crianças, adultos e idosos ainda é muito precária. O sistema viário é muito deficiente! Metro cheio, que somente atende a uma pequena parcela da população, e autocarro com atendimento de baixa qualidade! Como posso ajudar? Fazendo o que já faço: cobrando, denunciando e fiscalizando a aplicação do orçamento.

 

A situação das contas públicas do Rio parecem também ser um problema. Como avalia e que informação tem?

As contas vão muito mal! Entramos em 2020 com um rombo de quase quatro mil milhões de reais! A receita vai cair significativamente neste ano de coronavírus. Assim, as perspetivas são bastante desanimadoras.

 

As eleições deste ano foram adiadas em virtude da pandemia. Como o ambiente político analisa essa situação? Isso prejudica a governabilidade da cidade?

O Congresso teve de adiar a data das eleições municipais, foi uma medida acertada, as convenções dos partidos não tinham como acontecer em julho, como era previsto! Apesar de terem sido transferidas, acredito que a abstenção ainda será muito grande. Penso que essa postergação não influenciou em nada na governabilidade da Cidade.

 

De que forma a política nacional, ou seja, o governo Federal, deve olhar para a cidade do Rio?

O município do Rio Janeiro faz parte de um estado que compõe uma das 27 unidades federativas do Brasil, com autonomia total na sua gestão, mas que recebe recursos do Governo Federal, especialmente para a saúde e educação.

 

Ser político no Rio de Janeiro é hoje visto de forma crítica e negativa por parte da população local. Políticos estão a ser responsabilizados por má gestão e corrupção. Como é ser vereadora na cidade maravilhosa?

Os políticos, não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil, são vistos de forma muito crítica! Infelizmente, esta imagem negativa acentuou-se nos últimos cinco anos com a prisão de governadores e o seu envolvimento numa desenfreada e horrível corrupção. Apesar das dificuldades, ser vereadora da Cidade Maravilhosa é muito gratificante.

 

Há quantos anos atua na Câmara Municipal do Rio?

Estou no meu quarto mandato e estou há 15 anos e meio na Câmara Municipal, reeleita com mais de 30 mil votos.

 

Que balanço faz do seu trabalho como vereadora? Que realizações políticas consegue ressaltar?

O meu mandato sempre foi pautado pela ética e transparência! Orgulho-me em dizer que sou avaliada como uma política séria e atuante! Com mais de 200 projetos de lei apresentados e mais de 100 leis aprovadas. Penso ser a vereadora que mais Representações fez ao Ministério Público e centenas de Requerimentos de Informações ao Executivo.

 

Vai concorrer pelo partido Cidadania? Se sim, o que pensa sobre o seu partido e o que a fez mudar de legenda? Qual é a orientação do Cidadania?

Sim, vou concorrer a vereadora pelo Cidadania, partido com o qual identifico-me. Saí do PSDB  pelo qual me reelegi três vezes, e onde ocupei o cargo de presidente do diretório municipal, por não concordar com os novos rumos tomados pelo partido, mas também pelas inúmeras denúncias de corrupção nos seus quadros. Somos um partido de centro, que tem como foco principal o cidadão.

 

Que cargos e funções ocupa neste momento?

Sou presidente da Comissão Permanente de Direitos Humanos e vice-presidente da Comissão Permanente do Idoso. Acima de tudo, fiscalizo o executivo, função principal do parlamentar.

 

É hoje uma das grandes críticas ao governo do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Como avalia a gestão do prefeito?

Sou oposição ao governo Crivella por não concordar com a sua equivocada gestão, especialmente pela falta de transparência e mistura de religião com política.

 

Que opinião tem sobre o trabalho de Crivella?

É uma das piores gestões que a cidade já teve, sem nenhum compromisso com a qualidade de vida da população.

 

Foi convidada e deixou uma das Secretarias do governo Crivella. Hoje, considera essa iniciativa acertada?

A convite do atual prefeito, fui Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos. Abri mão da Secretaria por não concordar com o aumento absurdo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), proposto pelo prefeito. Abri mão da Secretaria para voltar à Câmara e votar contra esse aumento. A experiência foi muito positiva! Realizei um bom trabalho, cheguei a inaugurar dois abrigos para mulheres grávidas, adolescentes, e o acolhimento dos seus filhos, o que foi muito importante para a cidade e gratificante para mim.

 

Tem uma ligação bastante significativa com a comunidade judaica no Rio. Como é essa conexão?

A minha ligação com a comunidade judaica é de total integração.

 

Qual é a sua relação com o Memorial às Vítimas do Holocausto?

Sou a autora da Lei que criou o Memorial, não deixando morrer o sonho do meu querido e falecido marido, deputado Gerson Bergher.

 

Quando e onde será construído?

Está sendo construído num dos cartões postais mais bonitos da cidade: Parque Yitzhak Rabin, no bairro de Botafogo. Vai ser inaugurado em outubro, com total acesso ao público, será um equipamento integrado à cidade.

 

Como esse projeto foi idealizado e quem ajudou financeiramente? Qual o investimento?

O seu idealizador foi o deputado Gerson Bergher, o meu marido. O investimento veio totalmente da iniciativa privada e o seu custo ultrapassa os 20 milhões de reais.

 

Qual é a importância desse memorial na cidade?

Importantíssimo não somente para a cidade, mas para a humanidade. Um chamamento à defesa dos direitos humanos, para que o Holocausto jamais possa se repetir. Tenho um enorme orgulho em ter sido eleita a sua presidente de honra.

 

Quais são as suas ligações a Portugal? De onde é natural?

Ligações afetivas e culturais totais. Faço um trabalho na Câmara de aproximação entre Portugal e Brasil permanente, além da celebração das nossas mais importantes datas. Sou autora das Leis de geminação das cidades de Viseu e Viana do Castelo com o Rio de Janeiro. Um orgulho para mim ter tornado essas duas cidades irmãs da Cidade Maravilhosa. Sou viseense, nasci numa pequena aldeia, Mareco, no conselho de Penalva do Castelo.

 

Que imagem tem de Portugal?

De um país lindo, com lugar permanente no meu coração, que, para orgulho nosso, deu a volta por cima e tornou-se no paraíso da Europa. O covid-19 trouxe desaceleração, mas vai passar, e tudo vai voltar ao normal.

 

Que locais prefere nesse país europeu?

Mesmo não sendo alfacinha, amo Lisboa, sempre vou a minha querida Viseu, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Porto, amo toda essa pátria querida.

 

Que locais de influência portuguesa gosta de frequentar no Rio?

Todas as Casas Regionais! Amo assistir à apresentação dos nossos ranchos, que tão bem representam os nossos costumes e tradições.

 

Por fim, que mensagem deixa para os cariocas? Acredita que o Rio possa voltar a ter uma imagem positiva perante os seus habitantes e perante o mundo?

Que jamais deixem de ter fé e a certeza de que tudo vai passar! Que a beleza incomparável do nosso Rio de Janeiro deve ser um estímulo de luta e esperança em dias melhores. Quem ama o Rio, como eu, nunca vai deixar de acreditar, ter a certeza de que tudo vai melhorar, e sempre lembrar do hino “Cidade Maravilhosa”, que tão bem descreve o nosso tão querido Rio.

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