O general na reforma Maurício Nzulu foi eleito presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), confirmando assim a função que já ocupava provisoriamente desde o afastamento de António Bento Bembe. A eleição decorreu a 11 de Janeiro na sede provincial do FCD.
Maurício Nzulu recolheu pouco mais de 97% dos votos, após José Tembo Bissafi ter retirado a sua candidatura. Apresentaram-se também como candidatos à presidência do FCD, Pitra Claver e Paulo Bungi.
Na ocasião Maurício Nzulu lembrou que o “Povo de Cabinda nunca foi apologista de guerra” e “mesmo no período colonial, seu lema era o diálogo com o Governo Português com base no Tratado de Simulambuco de 1885”. Segundo o presidente do FCD, “cientes desta verdade inegável, o Governo da República de Angola e o FCD comprometeram-se perante o Povo, a África e o Mundo em buscar, pela via do diálogo, uma solução ao conflito armado em Cabinda, conflito este que já se arrasta há mais de quatro décadas” e “assim, no dia 1 de Agosto de 2006, foi assinado, na cidade de Namibe, o Memorando de Entendimento para a Paz e a Reconciliação na Província de Cabinda”.
Para Mauricio Nzulu não deixa de “ser verdade de que, por parte do Governo Angolano, muito resta por fazer no tocante à implementação cabal do processo. O que tem suscitado críticas legítimas dos Cabindas e não só. Não obstante, o FCD continua convicto de que é possível encontrar uma solução ao sofrimento do Povo de Cabinda, desde que haja uma verdadeira vontade política das partes”, mas considera que “a situação política em Cabinda deixou de ser aquela de 2006”.
Reconhecendo que o “ainda vigente conflito militar em Cabinda” é o resultado de “um caso não acabado do percurso colonial português”, Maurício Nzulu aproveitou para lançar um apelo à “Nação Portuguesa e o seu Governo em particular”, no sentido de que “assuma, pelo menos na sua subconsciência, o seu erro histórico”.
Na mesma alocução o presidente do FCD defendeu a “retirada das FAA das matas”, que permitiria aos “sofredores camponeses, dedicarem-se, com tranquilidade, aos seus cultivos, único sustento para as suas humildes famílias”, e sublinhou que “o desdobramento massivo de forças e meios das FAA e da Polícia Nacional em Cabinda é a ilustração da fragilidade do processo de pacificação no território”.
“A história nos mostra que adiar a solução de um problema, não é resolvê-lo. E, hoje, essa mesma história oferece, mais uma vez, ao Governo Angolano a sublime oportunidade de, após a experiência inicial com o FCD, entabular negociações abrangentes e inclusivas”, defendeu Maurício Nzulu que acredita numa “solução assente num novo contrato político e social, credível e sustentável, com o seu Povo; e tudo na busca de uma sã convivência da “cabindanidade” dentro da Nação angolana em construção”.
Neste sentido Maurício Nzulu sugeriu a organização de uma Conferência Nacional sobre Cabinda. “Nela participariam não apenas o Governo Angolano e as forças políticas e cívicas de Cabinda, mas também os Partidos angolanos com assento parlamentar e outras entidades nacionais. Isto permitiria a todos exprimirem os seus respectivos pareceres, tirando assim o problema da gestão de um único Partido”, precisou.
Mauricio Nzulu aproveitou para destacar a posição do FCD relativamente à detenção de dirigentes do Movimento Independentista de Cabinda (MIC). “Quero exprimir, sem ambiguidade, o desejo veemente do FCD de vê-los todos libertados o mais breve possível. Afinal de contas, o único ”pecado” desses compatriotas está na reivindicação de um referendo para Cabinda”, disse.