“Em Cabinda o sofrimento fala português”, dizia o Padre Jorge Casimiro Congo, um clérigo que construiu a sua vida defendendo a afirmação da especificidade da identidade cabindesa e que chegou a ser considerado como o “Desmond Tutu de Cabinda”.
Esta quinta-feira, 06 de Abril às 04:00 horas, faleceu Jorge Casimiro Congo, vítima de doença prolongada.
Jorge Casimiro Congo nasceu em Landana a 28 de Março 1952. Em criança assistira as tropas portuguesas a incendiarem uma aldeia numa acção punitiva devido às suspeitas de os seus habitantes acolherem guerrilheiros. Foi neste momento, tal como testemunhara Jorge Casimiro Congo, que emergiu o seu sentimento nacionalista Cabinda e oposição a todas as formas de colonização de Cabinda, seja por Portugal, seja por Angola. Um sentimento igualmente transmitido pela sua mãe, da qual Jorge Casimiro Congo era muito próximo.
Durante a vaga nacionalista em que os jovens cabindeses aderiram massivamente à Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), Jorge Casimiro Congo fez parte destes jovens guerrilheiros voluntários que acreditavam que a independência poderia ser obtida através da luta armada, tendo participado em múltiplas operações.
Mantendo as suas convicções independentistas, e com base no projecto que incitava a formação de quadros nacionalistas no exterior, Jorge Casimiro Congo partiu para Itália onde formou-se na Universidade Urbaniana de Roma – Teologia e Línguas Antigas.
Em Cabinda destacou-se como Pároco da Igreja Imaculada Conceição, cujos sermões, proferidos intencionalmente em Ibinda, estavam sempre impregnados de um furor nacionalista e independentista. Com Jorge Casimiro Congo a Igreja Imaculada Conceição tornara-se no centro espiritual do independentismo cabindês.
Enquanto clérigo manteve sempre contactos directos e permanentes com a resistência armada independentista, deslocando-se com frequência às bases da guerrilha no interior das matas onde era recebido com respeito e admiração, e ouvido pelos líderes da guerrilha.
Durante o encontro de Helvoirt, que reuniu na Holanda as duas principais alas armadas da resistência cabindesa, FLEC-FAC e FLEC Renovada, bem como as mais destacadas figuras da sociedade civil cabindesa, foi Jorge Casimiro Congo que sugeriu e impôs que as duas organizações deveriam fundir-se, tal como acabou por ser decidido. Uma fusão que acabou por ser efémera, resultado da defecção de António Bento Bembe e dos membros da ex FLEC Renovada, que paradoxalmente no passado Jorge Casimiro Congo apoiara.
Juntamente com outros clérigos nacionalistas cabindas, Jorge Casimiro Congo opôs-se vigorosamente à nomeação de Don Filomeno Vieira Dias como sucessor de Don Paulino Madeca, como Bispo de Cabinda.
Uma oposição frontal à hierarquia da igreja católica em Luanda, juntamente com outros religiosos, que resultou numa reacção não menos radical do Vaticano afastando da igreja os clérigos contestatários. Em resposta Jorge Casimiro Congo integrou a Igreja Católica Americana, na qual acabou por ser nomeado Bispo.
Um dos actos mais polémicos de Jorge Casimiro Congo aconteceu quando aceitou integrar o Governo Provincial de Cabinda como secretário provincial da Educação, Ciência e Tecnologia de Cabinda. Uma decisão que foi interpretada por vários nacionalistas como “uma traição à causa Cabinda”, mas que para Jorge Casimiro Congo era um meio de “combater o inimigo nas suas entranhas”.
Polémico, carismático, incómodo, controverso, mobilizador, intransigente, independentista convicto, Jorge Casimiro Congo permanecerá como uma das figuras que mais marcou a formação do nacionalismo cabindês.
RN
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Estêvão Samuel