O presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), Maurício Amado N’Zulu morreu no inicio da noite desta terça-feira, 29 de Junho, em Luanda.
Maurício Amado N’Zulu, 68 anos, nasceu e Lândana em Cabinda. Pouco após o seu nascimento os seus pais instalaram-se no antigo Congo Françês, actual República do Congo (Brazzaville). Em 1973 em Ponta Negra integrou a antena local da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), tendo participado um ano depois na ofensiva da guerrilha contra um aquartelamento das tropas portuguesas no morro de Massabi.
N’Zulu participou na criação da FLEC – Posição Militar (PM), liderada por Tiburcio Luemba. Após o que seria qualificado como um “golpe de estado” nesta organização, António Bento Bembe assume a chefia e rebaptizou o movimento como FLEC Renovada, uma organização da guerrilha que se manteria rival à FLEC/FAC de Nzita Tiago. Uma “evolução” na qual Maurício Amado N’Zulu permanece como o “braço direito” de António Bento Bembe.
Em 2004 Maurício N’Zulu participou na reunião de Helvoirt na Holanda que levou à fusão da FLEC/FAC e FLEC Renovada, tendo sido nomeado para a chefia das recém criadas e efémeras Forças Armadas de Cabinda Unificadas (FACU). Na mesma ocasião foi criado o FCD, cuja liderança foi concedida a António Bento Bembe.
Após uma cisão da recém reconstituída FLEC, António Bento Bembe, em nome do FCD, negocia, à revelia da FLEC unificada, com a Angola a rendição da componente da FLEC Renovada na organização e assina em 2006 o “Memorando de Entendimento para a Paz e a Reconciliação na Província de Cabinda. Maurício Amado N’Zulu, que acompanhara Bento Bembe em todas as etapas, ao abrigo deste acordo, é nomeado Vice-Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA) para a área social.
Lentamente a “missão” do FCD cai no esquecimento. António Bento Bembe acaba por assumir definitivamente o seu papel na estrutura do MPLA, onde milita desde 2017, e após uma breve passagem como secretário de Estado Sem Pasta, e posteriormente para os Direitos Humanos, o ex chefe da guerrilha acomoda-se apenas ao seu assento como deputado invisível do partido no poder.
Pouco antes de passar à reforma, Maurício Amado N’Zulu decidiu redinamizar o FCD, tornando-se no seu presidente após uma eleição interna. Todavia, António Bento Bembe nunca aceitou ser afastado da presidência do FCD, apesar de ter abandonado de facto esta organização.
É num ambiente de crispação entre António Bento Bembe, que insiste ser o presidente do FCD, e Maurício Amado N’Zulu, presidente eleito da mesma organização, que ocorre o desaparecimento do General N’Zulu, como era popularmente conhecido.
Pouco antes de ser hospitalizado de urgência, Maurício Amado N’Zulu estava a trabalhar numa petição, já em curso em Cabinda, que denunciava a “atitude negativa do General António Bento Bembe, Deputado do Partido no Poder (MPLA), tendente a sabotar e Procrastinar os esforços” de busca das vias para uma acção política e pacífica, e destacava a incompatibilidade de “na sua condição de Deputado do MPLA não pode – ao mesmo tempo – ser presidente do FCD e engajar Conversações Políticas com o Governo Angolano, em nome do Povo de Cabinda”, lê-se no documento que a e-Global teve acesso.
O presidente do FCD, Maurício Amado N’Zulu, estava também a preparar esta segunda-feira uma reacção vigorosa contra os propósitos de António Bento Bembe numa entrevista ao canal TV Zimbo. Com a morte de Maurício Amado N’Zulu, José Tembo Bissafi assume interinamente a presidência do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD) até a realização de eleições internas que vão eleger o novo presidente da organização.