Precisamente no dia em que o MPLA comemora o aniversário da sua criação e internacionalmente é celebrada a adopção pela ONU da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Movimento Independentista de Cabinda (MIC) apela à “desobediência civil” que será seguida por um conjunto de manifestações sem data de término.
Manifestações arrancam a 10 de Dezembro
“Pretendemos realizar manifestações sucessivas que vão arrancar a 10 de Dezembro, mas não têm data limite de cessarem”, explicou à e-Global Carlos Vemba presidente do MIC. “Vão ser protestos, dado que no momento em que vivemos não basta apenas fazer concentrações”.
“Mas também”, precisou Carlos Vemba, “isto não quer dizer que só faremos manifestações pacíficas”. Para o presidente do MIC a atitude pacífica dos manifestantes dependerá do “tipo de comportamento que as forças de segurança vão adoptar. Se utilizarem um comportamento mais agressivo, nós teremos de pagar pela mesma moeda”, avisou. “Que fique claro, face qualquer comportamento anti-social e violento, nós teremos de mostrar o nosso outro lado”.
Mobilização em curso
Segundo o líder independentista, o MIC pretende “mobilizar o povo” e que este permaneça nas ruas por “tempo indeterminado”. Os militantes da organização estão dispostos a “permanecer noites, semanas e até mesmo meses. Estamos dispostos a sair às ruas e a não voltar tão cedo para as nossas casas”, disse Carlos Vemba.
O presidente do MIC reconheceu todavia que não é fácil mobilizar a população. “Ainda há um clima de medo. Mas a direcção política do MIC tem vindo a realizar um trabalho titânico para a mobilização de todos e temos tido uma boa receptividade”, confirmou. “Temos sentido igualmente esta receptividade junto dos nossos colegas e militantes que estão no estrangeiro, e estão a transportar este espírito patriótico para França, Portugal, EUA, Itália entre outros países, e inclusivamente Luanda” onde as manifestações também estão programadas para 10 de Dezembro.
Apoios de outras organizações
Sobre a adesão de outras organizações nacionalistas cabindesas à iniciativa do MIC, Carlos Vemba sublinhou que estas manifestações “vão contar com a participação de todos os cabindas independentemente das organizações que possam pertencer”.
Para Carlos Vemba “nestas acções o nome que tem de prevalecer não é da organização que lança o apelo, mas sim do povo cabindês. Não estamos focados nas organizações políticas, apenas estamos focados no povo porque fazemos parte dele. Qualquer divergência política que possa existir, nós vamos a pôr de lado”.
Objectivo dos protestos
O objectivo das “mega-manifestações”, como têm sido designadas pelo MIC, é “forçar o governo angolano a pronunciar-se no que tange à resolução do problema de Cabinda”, explicou Vemba. “O governo angolano sempre assobiou para o lado e tentou tapar o sol com uma peneira relativamente à questão de Cabinda”.
O MIC pretende também chamar a atenção da Comunidade Internacional e das Nações Unidas, “que é uma organização que já reconhecera o direito à autodeterminação do povo de Cabinda. Queremos dar um empurrão ao governo angolano, bem como à Comunidade Internacional, assim como enviaremos um recado especial a Portugal, que continua a ser um país com responsabilidades históricas com Cabinda e que deveria ter a hombridade de assumir as suas responsabilidades”, disse.
“Estas manifestações só vão acabar quando a Comunidade Internacional reagir e Angola mostrar boa vontade para solucionar este problema. Queremos um referendo, uma consulta popular para a autodeterminação”, sublinhou Carlos Vemba.
Risco de violência e detenções
“Estou ciente que as detenções são inevitáveis. A direcção política do MIC, assim como os seus militantes, está consciente como age o governo angolano. Mas, não temos medo de receber o mesmo tratamento que tivemos no passado. As cadeias são inevitáveis e nós sabemos que o regime vai utilizar todos os meios que tem à sua disposição”, disse o líder do MIC. “Mesmo assim temos de mostrar ao mundo e aos angolanos que a força da nossa perseverança e dos nossos argumentos valem mais que o uso das armas. Estamos dispostos a assumir as consequências que podem advir”.
Autorização para manifestar
“O MIC jamais pedirá uma autorização ao governo angolano. Um povo oprimido está aprisionado com as leis do opressor”, salientou o presidente da organização independentista. “A Constituição angolana é uma cadeia para os cabindas. Queremos mostrar a Angola que não estamos reféns das leis angolanas. Somos um povo que quer sair do jugo da colonização angolana. Temos de mostrar aos angolanos que chegou a hora de reconquistarmos a nossa soberania e administrar a nossa terra. Independentemente da Direcção ou do presidente que o MIC tiver, nunca iremos pedir uma permissão aos angolanos”, insistiu Carlos Vemba.
Apelo à desobediência civil
O presidente do MIC confirmou que para além do apelo para manifestarem, é lançado um apelo à desobediência civil em todo o território de Cabinda. “É a desobediência civil que faz acordar governos”, defendeu Carlos Vemba. “È a única arma e a mais eficaz que um povo oprimido pode usar para derrubar um regime ditatorial e ocupacionista. Temos o exemplo da Índia, com Mahatma Gandhi, mas também estamos a assistir em Hong Kong, assim como no Chile, entre outros países, podemos citar também a Primavera Árabe. Vamos utilizar as mesmas armas para desafiar o governo angolano a negociar sobre Cabinda sem reservas. Neste mesmo sentido, sublinho que MIC jamais irá pedir uma permissão ao governo angolano para realizar uma actividade popular”.