Os líderes das organizações nacionalistas e independentistas em Cabinda estão divididos sobre a postura a tomar nas eleições gerais de Angola. Entre as duas correntes dominantes, uma defende a importância de votar para afastar o MPLA do poder, orientando assim o voto para os partidos da oposição angolana, particularmente a CASA-CE e a UNITA, que tem obtido a maior adesão nesta corrente.
Outra tendência defende que votar nas eleições de Angola é contrariar as ambições independentistas e que “qualquer um que vote em eleições angolanas não é verdadeiramente um independentista”, tal como defendeu Jorge Lima Muanda, dirigente dos Democratas Liberais de Cabinda (DLC).
Os movimentos independentistas armados, encarnados na Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), liderado por Alexandre Tati, e na Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), chefiado por Emmanuel Nzita, defendem o boicote às eleições que consideram que “são eleições angolanas e não cabindesas”. Os movimentos armados alertam também para o ambiente de guerra em Cabinda que “não é propício para a realização de eleições no território, promovidas pela potência ocupante”.
Através de um comunicado o Alto Conselho de Cabinda (ACC) também destacou que “Trata-se de Eleições gerais em Angola e não de um processo específico de resolução propriamente dita do problema de Cabinda” no mesmo documento o ACC saúda “toda e qualquer iniciativa em prol da busca de uma solução pacífica e consensual sobre a questão de Cabinda”. Afirma que tomou nota da “intenção do MPLA, expressa na sua proposta, que” considera “abstracta, de querer mudar o statu quo vivido em Cabinda há mais de décadas” e acolhe “com bastante prudência, o manifesto eleitoral da UNITA no que toca ao problema de Cabinda, com uma proposta de resolução talvez das mais concretas”, lê-se no documento assinado por Justino Waco.
O Movimento Independentista de Cabinda (MIC), também através de um comunicado, apela “aos seus militantes, simpatizantes e no seu todo ao povo de Cabinda a boicotarem as eleições angolanas em Cabinda”, e vinca que as eleições visam decidir o “destino político dos angolanos e não dos cabindas”.
Para o MIC com o “ocorrer da alternância política em Angola ou o partido da situação manter-se no poder, Cabinda sempre será colónia de Angola” e votando nas eleições os cabindas “prejudicam a sua Luta para a Independência”.
Uma posição contrariada por Maurício Gimbi, líder da União dos Cabindeses para Independência (UCI), que considera que não é incompatível ser “independentista” e defender a participação nas eleições visando derrotar o MPLA, como uma etapa fundamental para a viabilização de negociações sobre o futuro político de Cabinda. Maurício Gimbi foi uma das figuras políticas cabindesas que participou num encontro em Cabinda com Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA.
Durante o período de pré-campanha Adalberto da Costa Júnior, a fim de atrair as correntes dos nacionalistas cabindeses, sugeriu a criação de um Governo autónomo cabindês “com condições de ser eleito pelos residentes, com um estatuto próprio e que acaba com a existência de uma parte do território nacional em conflito”. Uma proposta que dividiu os cabindeses, em que uma ala interpretou como uma abertura que poderá resultar na evolução do estatuto político de Cabinda, e outra qualificou a proposta de Adalberto da Costa Júnior de “irrealista” e “promessa eleitoralista”.
Independentemente da adesão ao boicote ou participação nas eleições no território de Cabinda, a campanha eleitoral em curso, e o escrutínio, está a acentuar o fosso entre os movimentos independentistas e nacionalistas tornando mais longínquo o projecto que estivera em curso de constituição de uma plataforma comum das organizações nacionalistas cabindesas.