O PAICV acusou o Governo cabo-verdiano de lesar o país ao vender, “ao desbarato”, o avião Dornier da Guarda Costeira. Neste sentido, prometeu acionar todos os meios legais para que as responsabilidades deste “negócio ruinoso” sejam atribuídas aos envolvidos.
A acusação foi feita pela deputada nacional, Carla Lima, nesta quinta-feira, 06 de janeiro, segundo a “Inforpress”. Tratou-se de um tema que dominou o período de questões gerais da primeira sessão parlamentar de 2022, que termina esta sexta-feira, dia 07.
A representante do maior partido da oposição começou a sua intervenção salientando que a descontinuidade territorial do arquipélago obriga a que o Estado tenha, à sua disposição, meios aéreos e marítimos disponíveis para operações emergenciais na evacuação de cidadãos nacionais e estrangeiros acidentados ou em situações de busca e patrulhamento no território.
Sobre o avião modelo Dornier 228/212, recebido no âmbito da cooperação alemã, lembrou que o mesmo realizou de 2000 a 2016 centenas de missões de extrema importância para o país nos domínios de evacuações médicas, busca e salvamento, transporte de altas entidades e patrulhamento aéreo da zona económica exclusiva.
No entanto, apesar de em 2016 o atual Governo ter recebido o referido transporte aéreo em estado operacional, o mesmo efetuou o último voo em junho de 2016 e por necessitar de uma ação de manutenção junto da empresa fabricante, devidamente pago pelo tesouro de Cabo Verde.
“Durante este período em que o Dornier esteve estacionado, Cabo verde viveu situações dramáticas de falta de meios para evacuações médicas com grávidas a serem evacuadas por via marítima em pequenas embarcações, tendo o Governo no desespero ver-se obrigado a pagar centenas de milhares de contos a empresa Sevenair, valores que dariam para comprar um Dornier novo”, observou.
Após seis anos, continuou, o Governo continua desprovido de qualquer meio para a realização de missões emergenciais, operações de busca e salvamento e patrulhamento do território, tendo atualmente sido vendido pelo Estado.
“Este avião que tanta falta faz ao país e tantas vidas salvou no arquipélago foi recentemente vendido ao desbarato pelo valor de 48 mil contos [435 mil euros], um negócio ruinoso para o erário público, uma vez que só as peças que já tinham sido adquiridas para a reparação do avião e que foram incluídas no negócio ultrapassam o valor que o Governo vendeu o Dornier, que mesmo avariado tem um preço de aproximadamente de 200 mil contos [1.814 euros]”, denunciou.
MpD responde às críticas
Em reação às críticas do PAICV, o MpD, partido que apoia o Governo, respondeu que a tentativa de passar a ideia ao povo de que a falta de operacionalidade do avião Dornier é culpa do atual Governo é uma “grande falácia”.
“O avião Dornier deixou de voar no tempo do PAICV e foi o PAICV que falhou uma manutenção ao avião. E depois quando nós chegámos ao poder, para meter o avião a voar custava ao país muito dinheiro, se calhar mais dinheiro do que comprar um avião novo”, defendeu o deputado Luís Carlos Silva.
Mesmo tendo reconhecido que o país ainda não tem um serviço de evacuação de doentes, sublinhou que a ausência desse serviço foi sentida durante os 15 anos na governação do PAICV, que não terá sido capaz de implementá-lo.
Já o Governo, através da ministra da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Filomena Gonçalves, respondeu ao PAICV desafiando-o a usar todos os meios legais para dar entrada no processo de crime que entender. Assim, continuou, toda a verdade poderá ser reposta no espaço próprio e, entretanto, o Executivo aguardará com serenidade o processo.