Cabo Verde: Projeto “Neve Insular” quer criar “novas” formas de se relacionar com a terra e os saberes

O projeto Neve Insular, NI, nasceu da utopia de projetar saberes ancestrais da panaria cabo-verdiana num projeto holístico que integra as dimensões agroecológica, educativa e artística em todo o ciclo da fibra do algodão, “considerando-o uma matéria-memória de problematização contemporânea do arquipélago”, quem afirma isso são as autoras Rita Rainho, Investigadora e Arte Educadora, e Vanessa Monteiro, Designer, numa entrevista com a e-Global.

Segundo as autoras, o coletivo NI, nasceu em 2018 com a participação no Salão “Created in Cabo Verde” (criado em Cabo Verde), promovido pelo Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, CNAD. Nesse mesmo ano iniciaram uma plantação de algodão orgânico no Madeiral, ilha de São Vicente, Cabo Verde, em parceria com a Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral, AAPCM.

“Neve Insular, NI, não surge com o objetivo de ser um projeto de negócio, mais sim como uma forma de recuperar saberes agroecológicos e artesanais perdidos, tratar a herança da plantação de algodão e sua importância na história de Cabo Verde através de ações educativas, assim criar um laboratório de pensamento e ação artística, colaborativa e de intervenção contemporânea sobre esta planta que compõe a memória coletiva” afirma Rita Rainho e Vanessa Monteiro.

Um projeto que surgiu através de um desafio lançado pelo CNAD aos criativos de Cabo Verde e da diáspora, por meio de partilha coletiva entre as autoras, mediante o “briefing” do concurso. Tendo surgido alguns condicionamentos para estruturar e viabilizar todos os eixos do projeto, e através de iniciativa coletiva, da parceria com a AAPCM, pequenos fundos de apoio a ações pontuais e da produção de peças autorais, o projeto tem-se consolidado com um programa cada vez mais sólido.

De acordo com as criadoras do projeto, o nome “Neve Insular – NI” faz referência a uma paisagem de onde a perspetiva de uma plantação farta pode ser comparada com a imagem de uma área de neve, mas na dimensão ilha.

Desde a sua criação o cultivo insular, fez diversas ações de agroecologia, ações educativas com crianças, jovens e mulheres no Vale do Calhau e na cidade do Mindelo, bem como a realização de residências artísticas, exposições coletivas, entre outros.

“A nossa perspetiva, enquanto coletivo, é poder colaborar com a comunidade rural onde se insere a plantação, pessoas que se envolvem, interessadas em criar “novas” formas de se relacionar com a terra e os saberes. Trabalhar em conjunto com outras pessoas, associar-se e fortalecer as competências individuais dentro de uma rede de apoio e de objetivos comuns” aludiram.

Uma diversidade de pessoas, trabalham neste projeto que muitos duvidaram da possibilidade de produzir algodão na aridez da ilha de São Vicente, nomeadamente: engenheiros, artesãos, agricultores, criativos, contabilistas, e produtores da comunidade.

Anícia Cabral

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