O ex-Procurador-Geral da República, Bacar Biai, disse que “no combate endógeno e exógeno da corrupção angariou inimigos inimagináveis, pois é transversal ao nosso tecido social”, pelo que não se admira que a sua cabeça foi colocada a prémio na resolução de problemas estritamente políticos.
Na carta de demissão datada de 29 de Junho, Bacar Biai lembrou que o primeiro sinal desse desejo tinha sido manifestada através da sua inclusão na lista de pessoas sancionadas pela CEDEAO, “pelo simples facto de exigirmos o cumprimento da lei. Também já era do nosso conhecimento as várias solicitações para a nossa substituição por motivos exclusivamente de agendas inconfessas, com o único fito de proteger os intocáveis “.
Lê-se na carta que ” é impensável construir uma sociedade verdadeiramente democrática quando os cidadãos são divididos em castas e onde a lei só se cumpre em relação aos mais fracos. Num Estado de direito não pode existir cidadãos de primeira (os intocáveis), principalmente quando se trata de pessoas a quem foi confiada a gestão de bem comum”.
“A transparência internacional no seu índice de percepção da corrupção colocou a Guiné-Bissau no 177° lugar num ranking de 180 países. Como é possível um país pobre cujo deficit orçamental é assegurado por mais de 75% de ajudas orçamentais dar-se ao luxo desbaratar a solidariedade alheia agravando os actuais níveis de extrema pobreza que atinge 58% da população?” referiu, adiantando que “é por força da interpretação destes dados que elegemos como principal missão da nossa gestão o combate cerrado a corrupção, embora sabendo que o caminho é espinhoso. Se esta escolha constituir o maior pecado que cometemos, então não estamos arrependidos”.
Tiago Seide