Os deputados da nação deverão reunir em sessão plenária a partir de 29 de Junho para, entre outros, esclarecer qual dos dois blocos políticos em disputa constituem a maioria dos deputados. A decisão de reunir a plenária foi uma iniciativa individual do presidente da ANP, Cipriano Cassamá, e contra a vontade do partido que o propôs para o cargo, o PAIGC. Cassamá, que aguarda apenas a confirmação da Comissão Permanente para tornar público a convocatória, encontrou na ruptura com o seu partido a única saída para dar uma resposta às exigências de Umaro Sissoco Embaló, que lhe permitirá de constituir o novo Governo mediante uma possível nova maioria.
Determinado em realizar a sessão parlamentar para determinar a maioria, Cipriano Cassamá já deu o primeiro passo na conferência de líderes, que aprovou a sua proposta. Aliás, tratando-se de uma proposta do presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), implica que nos demais órgãos, o seu voto será favorável. Foi na Conferência de líderes, será na reunião da mesa, amanhã e depois na Comissão Permanente.
Houve quem acreditasse que na reunião da Comissão Permanente, o PAIGC poderia inviabilizar uma sessão parlamentar, mas tudo indica que tal não acontecerá, tendo em conta o claro posicionamento de Cipriano Cassamá.
Na Comissão Permanente, teoricamente, o PAIGC tem maioria, com oito deputados contra (seis do MADEM e o PRS), mas a partir do momento em que perdeu Nuno Gomes Nabiam (vice-presidente da ANP, agora primeiro-ministro) mas também Cipriano Cassamá, o PAIGC passou a ter o mesmo numero de deputados. Em caso de votação, a mudança de posição de Cipriano Cassamá só vai ajudar a consolidar a supremacia do bloco MADEM/PRS/ Nabiam.
A mudança de posição de Cipriano Cassamá já não é uma surpresa para o PAIGC, tendo em conta que o presidente da ANP já confirmou a sua posição a algumas figuras do partido. Um alto dirigente do PAIGC explicou à e-Global que Cipriano Cassamá já justificou o seu voto favorável a sessão, por ser ele autor da iniciativa.
Apesar de discordar com o argumento, e na ausência de alternativa, o PAIGC decidiu aderir à iniciativa da realização da sessão parlamentar, mantendo a sua reserva face à posição de Cipriano Cassamá no hemiciclo.
Entre os Libertadores, há um sentimento partilhado de que Cipriano Cassamá sempre esteve ao lado da oposição ao PAIGC, desde a composição do parlamento em 2019, quando foi pedir e recebeu os votos do PRS e do MADEM para ser presidente. Nesta ocasião o facto de Cipriano Cassamá ter sido eleito com 92% dos votos, o PRS e o MADEM proferiram fortes críticas em como terão sido os deputados do PAIGC a votar contra, ou abstendo-se, tendo em conta que a votação é secreta.
O ambiente de desconfiança entre Cipriano Cassamá e o PAIGC agravou depois de José Mário Vaz rejeitar o nome de Domingos Simões Pereira para primeiro-ministro, na qualidade do líder do partido mais votado nas eleições de 10 de Março de 2019. Em resposta à decisão de José Mário Vaz, Domingos Simões Pereira decidiu avançar para primárias no partido como candidato presidencial e acabou por ser a aposta dos membros do Comité Central, afastando da corrida Cipriano Cassamá.
Revoltado com a situação e considerando que Domingos Simões Pereira violara um acordo que tinham para que o apoiasse como candidato presidencial, Cipriano Cassamá nunca aceitou ter sido ultrapassado pelo líder do PAIGC, mas também garantiu que jamais trairia o presidente dos Libertadores.
Após os resultados eleitorais de 29 de Dezembro e com base nas suspeitas relativas aos procedimentos do presidente da CNE, a desconfiança face à postura de Cipriano Cassamá aumentou. Altos dirigentes do PAIGC recordam que, quem propôs ao partido apoio a José Pedro Sambú, presidente da CNE foi Cipriano Cassamá e nos primeiros dias do Contencioso Eleitoral manteve reuniões de trabalho com Sambú.
Estes elementos reunidos e associados ao episódio de Cipriano Cassamá renunciar o cargo de presidente interino, quando o parlamento considerou que José Mário Vaz abandonara a função, fizeram com que o PAIGC deixasse de contar com os seus préstimos. A situação agravou agora quando Cipriano Cassamá aceitou reconciliar os partidos e acabar por reconhecer a possível existência de uma nova maioria, com a convocação da sessão plenária.