A congregação cristã Família Franciscana, da igreja católica, emitiu a 8 de Abril uma nota de 9 páginas denominada ‘O grito da Terra – o grito dos pobres’ na qual qualifica de grave a situação política da Guiné-Bissau e que o país perdeu o rumo.
Na carta a Família Franciscana denunciou “graves violações” dos direitos humanos e os problemas sociais devido à falta de saúde e educação e que têm vindo a agravar, associados a instrumentalização étnica por parte da classe política.
Esta segunda-feira, 12 de Abril, uma Comissão Conjunta do Conselho Nacional Islâmico e Conselho Superior Islâmico da Guiné-Bissau emitiu um Comunicado Conjunto reagindo ao ‘grito da Terra’ lançado pela Família Franciscana. No seu comunicado, a Comissão das organizações islâmicas considerou o posicionamento da comunidade cristã de político e divisionista. Para os dois Conselhos Islâmicos o posicionamento da Família Franciscana é uma instrumentalização étnico-religiosa provavelmente devido a que na Presidência da República “estar um republicano muçulmano”.
“Numa análise séria e isenta de oportunismos políticos e de uma pretensa sobranceira religiosa, a Comissão Conjunta até podia considerar minimamente aceitável e até justificável, caso a Guiné-Bissau não se confrontasse com os graves problemas originados e consequências do COVID-19, com todas as graves incidências para os países como o nosso, confrontados com múltiplos problemas de ordem política, mas principalmente de índole económico e social”, lê-se no comunicado de duas páginas.
Para os religiosos muçulmanos, o momento actual impõe que todas as forças vivas da Nação se unam e se solidarizem em torno das instituições políticas e sociais do país, comungados pelos ideais de unidade nacional, tanto do lado dos que podem como dos que necessitam.
“Levantar no presente momento questões relacionadas com agressões físicas e verbais e misturá-las com a actual crise política, jurídica, económica e sanitária como defende o comunicado da Família Franciscana, de claro convite à desordem e à desunião entre os guineenses, isto porque, todos nós sabemos que há menos de um ano a esta parte, Guiné-Bissau realizou as suas eleições legislativas e presidenciais estando-se neste momento numa fase decisiva a sua consolidação”, destaca o documento.
Para os responsáveis dos Conselhos islâmicos, se Roma e Pavia não foram construídos num dia, muito menos um país como a Guiné-Bissau poderá vencer os imensos desafios que tem pela frente e se “não criarmos no seio da nossa sociedade tolerância, compreensão, solidariedade e responsabilidade” junto de todos os actores nacionais sejam políticos, sociais ou religiosos.
“Estimular recalcamentos e espírito de vingança em nada poderá contribuir para se pôr fim aos problemas que a Guiné-Bissau hoje enfrenta e que numa grande medida é derivado de posicionamentos como os que a Família Cristã acaba de exprimir, numa clara instrumentalização e apoio dos seus seguidores”, refere o comunicado.
No mesmo documento a Comissão Conjunta afirma que não quer pensar que “este posicionamento da Família Franciscana se deve ao facto de na Presidência da República estar um republicano muçulmano”.
No comunicado a associação islâmica lembrou a Família Franciscana que, num passado recente, os posicionamentos da comunidade religiosa nacional eram alvo de uma prévia concertação, a fim de se evitar interpretações controversas e totalmente contrárias ao carácter laico da sociedade guineense.
Por fim, o comunicado conjunto refere que “muitos dos problemas denunciados pela Família Franciscana são elementos actuais que precisam de ser analisados e discutidos de forma responsável pela comunidade religiosa nacional, de modo a poder-se encontrar soluções sustentáveis e de interesse nacional”.