Guiné-Bissau: Curado do Coronavírus em 10 dias, Nuno Nabiam entra em novo combate

O primeiro-ministro (PM) da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabiam que testou positivo ao Coronavírus a 28 de Abril, deixou às instalações do Hotel Azalay em que se encontrava confinado desde 7 de Maio. À saída, Nuno Gomes Nabiam provocou uma onda de críticas nas redes sociais, havendo mesmo quem arriscasse afirmar que as autoridades da Guiné-Bissau não estão a levar a sério o Covid-19.

O que motivou as críticas ao chefe do Governo, é o facto de Nabiam não ter cumprir o período mínimo de 14 dias, recomendado a todos com teste positivo. Pareceres técnicos indicam que, depois de uma pessoa ter testado positivo, para além da obrigatoriedade de isolamento mínimo de 14 dias, deve ser sujeito a um segundo teste para confirmar se já está ou não curado.

Nuno Nabiam confirmou publicamente ter efectuado um segundo teste, e exibiu o resultado do mesmo, mas o método adoptado de tratamento acabou por ser outro objecto de discussão, levando os cidadãos a questionar da importância do Estado estar a investir no Covid-Organics (medicamento Malgaxe) sem que fosse usado para o tratamento. Quando foi questionado pelos jornalistas sobre o tratamento adoptado, Nuno Nabiam peremptoriamente revelou que nos dias em que esteve confinado utilizou como remédio limão, alho e gengibre.

Depois destas afirmações, e reconhecendo implicitamente não ter optado pelo Covid-Organics, contrariando a estratégia medicamentosa do Presidente da República, Nuno Nabiam ofereceu mais argumentos a muitos críticos desta iniciativa, basicamente tradicional não testada cientificamente.

Nabiam que “se curou” praticamente em simultâneo com o ministro do Interior Botche Candé, pediu à sociedade para acreditar na existência da doença e acompanhar as recomendações que estão a ser fornecidas pelas autoridades sanitárias. No Hotel Azalay onde permanecera confinado o PM, faleceu no mesmo dia um alto oficial do Ministério do Interior, Cranha Danfá.

Ao apresentar o Boletim Clínico o médico que acompanhou os membros do Governo confinados, revelou alguma dificuldade em explicar as reais razões da morte de Cranha Danfá. Disse inicialmente que só poderia confirmar mais tarde se o aludido oficial “na verdade faleceu”, mas quando foi confrontado pelos jornalistas sobre o facto consumado, respondeu que Danfá padecia de outras doenças.

Outra resposta que reforçou os críticos do Covid-Organics, que continuam a questionar sobre os tratamentos alternativos, caso o consumo do chá malgaxe registar contra indicações severas. Tal é a opinião de Hedqiges Martins, médico que aconselhou a população a não consumir o chá em causa.

Por sua vez, Mbomba Sanca, médico de clínica geral, pôs em causa a capacidade de resposta do laboratório onde são analisados os testes. As suas dúvidas mereceram uma resposta do presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública, Dionísio Cumbá, que reiterou que todos os dados que são publicados gozam de total fidelidade.

Aritmética política

A saída de Nuno Nabian da unidade hoteleira coincidiu com o dia em que a maioria parlamentar promoveu uma conferência de imprensa para reafirmar, através de Califa Seidi, líder da bancada do PAIGC, a fidelidade ao acordo firmado em 2019.

Para analistas políticos guineenses, Nuno Nabiam deixou as instalações do Hotel para poder ocupar-se do seu Governo e enfrentar a batalha que se avizinha. De acordo com o comunicado da CEDEAO de 22 de Abril, em que reconhece Sissoco Embaló como vencedor das eleições presidenciais, o Presidente deverá até 22 de Maio nomear um novo PM e Governo, com base nos resultados eleitorais das legislativas de 2019.

Uma das interpretações deste ponto do comunicado da CEDEAO aponta que a organização sub-regional está a sugerir que ao PAIGC seja devolvida a governação, enquanto partido mais votado nas legislativas e que com alianças constitui uma maioria.

No entanto, os partidos que suportam o actual Governo, entendem que a formação de um novo Governo deve ser atribuída a quem tiver de facto a maioria parlamentar. E para demonstrar a maioria parlamentar, conjugam o número de deputados de cada partido da actual aliança (PRS, MADEM e APU).

Aritmeticamente, esta conjugação daria à nova maioria 53 deputados. Mas, quatro deputados da APU continuam fiéis ao acordo alcançado como PAIGC em 2019, e a 7 de Maio, disseram no parlamento, através do líder da bancada, Marciano Indi que o acordo é para cumprir. Reforçados com um deputado do PND e outro de União para a Mudança, a maioria liderada pelo PAIGC conta com 53 deputados, os quais aprovaram o programa do Governo de Aristides Gomes em Outubro de 2019.

Para a coligação do Governo, a maioria avançada pelo PAIGC não é real, e insiste em demonstrar que a aliança governamental conta com uma maioria através da votação do Programa do Governo de Nabiam que Cipriano Cassamá, presidente do parlamento, ainda não agendou.

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