Guiné-Bissau: Descoordenação e indefinição sobre o futuro da madeira apreendida

GB Madeiras PJ

O processo de recuperação da madeira em Bissau pela Inspectora do Ambiente por decisão do Presidente da República tem dado sinais de descoordenação total. Não se sabe qual é a estrutura que está a recuperar à madeira e com agravante de os envolvidos não estarem a entender-se.

A comissão de recuperação de madeira, constituída há anos e chefiada por Degol Mendes, foi dissolvida sem qualquer explicação oficial. O Governo não tem uma posição clara e a situação agravou quando a Direcção-Geral da Floresta, que recebeu a primeira madeira recuperada, revelou que não está ao corrente do processo de recuperação da madeira “nos moldes actuais”. Os proprietários da madeira dizem não compreender os critérios e suspeitam de “sabotagens internas” no próprio Governo.

Estas acusações provocaram a reacção da coordenadora da nova Comissão, a Inspectora do Ambiente da Guiné-Bissau, Isabel Maria Sanhá ,  que acusou a Direcção-Geral de Floresta de “falta de verdade” no processo de recuperação da madeira.

Isabel Maria Sanhá reagiu depois da Direcção-Geral da Floresta alegar desconhecer o que estava a acontecer. A Inspectora que ultimamente tem coordenado a recuperação da madeira respondeu durante uma conferência de imprensa que, só os autores dessas declarações “sabem o que está por detrás”. Segundo a mesma, a Direcção-Geral da Floresta participou nas reuniões que antecederam a decisão e o início da recolha da madeira, mas quando iam iniciar os trabalhos, “os seus representantes da Floresta deixaram de aparecer”.

Mas às divergências não se limitaram apenas à descoordenação entre os representantes das instituições. O primeiro motivo da polémica neste processo que envolve o Ministério do Ambiente foi a decisão de recuperar a madeira a partir de Bissau. Vários proprietários das carpintarias disseram não perceber como é que o Governo vai “recuperar à madeira a partir de Bissau” se a mesma passa a partir de Safim ou nas estradas em que o Governo tem muitos postos de controlo.

Um dos proprietários de uma carpintaria em que a madeira foi recuperada, disse não compreender como é que se decide retirar bens legalmente adquiridos sem deixar quaisquer rastos.  Em conferência de imprensa, Marcelo Nancassa, dono de uma carpintaria em Bissau, disse que, quando a Inspectora chegou ao seu serviço no centro da cidade, acompanhada de forças de ordem, e a primeira coisa que lhe pediu foi a identificação. O visado questionou os motivos da operação, tendo como a resposta “ordens superiores”. O mesmo quando pediu que a sua madeira fosse registada, não obteve resposta. “Isso significa que estão a retirar a madeira sem saber de quem é”, denunciou.

Sobre esta prática, a inspectora explicou que a madeira recuperada não será devolvida a ninguém e que, a Base Aérea de Bissau passou a ser o fiel depositário em vez da Direcção-Geral da Floresta, como aconteceu nos primeiros momentos em que madeira tinha sido retirada de uma serração supostamente de Nuno Nabiam, o actual primeiro-ministro.

O procedimento da Inspecção do Ambiente foi dos mais criticados pelos donos da madeira recuperada. Carlos Cá, da Associação dos Madeireiros não Industriais disse à imprensa não compreender o que está a acontecer, tendo em conta que a Inspecção do Ambiente recuperou até lenhas. “Todos ouvimos aquilo que disse o Presidente da República. Ele disse que, a madeira seria recuperada e que qualquer cidadão podia ir comprar. Mas não é o que estão a fazer. Ele referiu-se à madeira que ainda se encontrava no mato, a direcção do Ambiente está a recuperar a madeira que os outros adquiriram de forma legal. É isso que nós não compreendemos”, explicou.

A descoordenação e falta de qualquer registo ou documentação não dão garantias aos donos em como podem recuperar as suas madeiras. Carlos Cá, em nome dos seus associados suspeita a existência de sabotagem no seio do próprio Governo. “Dá para perguntar se não está a ocorrer sabotagem. Os nossos associados denunciam que a inspecção do ambiente só se limita a recuperar. Não registam de quem se trata e nem revelam onde alguém pode localizá-los depois. Um Estado não pode actuar desta forma”, reforçou Carlos Cá. A este propósito, Isabel Maria Sanhá foi categórica, disse que não dão garantias a ninguém que a madeira possa um dia ser devolvida.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *




Artigos relacionados

Especialista luso-brasileira defende acupuntura como aliada no combate da saúde durante a Primavera em Portugal

Especialista luso-brasileira defende acupuntura como aliada no combate da saúde durante a Primavera em Portugal

Com os dias de primavera em algumas cidades de Portugal, os termômetros registam variações na temperatura, quando há uma crescente…
Angola: Setor informal no país abrange 79,6% de trabalhadores

Angola: Setor informal no país abrange 79,6% de trabalhadores

O Instituto Nacional de Estatística (INE), através do Inquérito do Emprego em Angola, divulgou que cerca de 79,6% dos trabalhadores…
Unesco celebra 5.º aniversário do Dia Mundial da Língua Portuguesa

Unesco celebra 5.º aniversário do Dia Mundial da Língua Portuguesa

A Unesco assinala, a 5 de maio, o quinto aniversário do Dia Mundial da Língua Portuguesa, instituído em 2019. Falado…
Angola recebe 15.ª Sessão do Fórum Parlamentar da Região dos Grandes Lagos

Angola recebe 15.ª Sessão do Fórum Parlamentar da Região dos Grandes Lagos

De 20 a 30 de abril, a Assembleia Nacional de Angola acolhe a 15.ª Sessão Ordinária da Assembleia Plenária e…