Guiné-Bissau: Ex-porta-voz do Presidente do PAIGC denuncia o desaire do partido

O ex-responsável do Departamento de Documentação e Informação do PAIGC, António Óscar Barbosa ‘Cancan’, disse que o tempo de Domingos Simões Pereira como presidente do PAIGC está esgotado e que a sua obstinação para o cargo de Presidente da República está a ser demasiadamente prejudicial para o partido.

Em carta dirigida ao Conselho de Jurisdição do PAIGC, António Óscar Barbosa ‘Cancan’ desafiou este órgão jurídico do partido a sindicalizar as contas do partido, sobretudo nas últimas eleições para apurar como é que os fundos de apoios foram geridos. Considerou também que, o não reconhecimento de Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República, por parte de Domingos Simões Pereira, pelo facto de não ter sido investido formalmente, é contrário à própria posição do PAIGC, porque todos os órgãos daquele partido, a Direcção, o Comité Central e o Bureau Político, reconhecem o actual Chefe de Estado.

“O Presidente do partido não tem condições de diálogo com os partidos políticos com representação parlamentar que lhe permita uma solução governativa, mas não se demite para permitir que o partido busque uma alternativa, porque quer continuar a instrumentalizar o partido para o seu projecto presidencial, facto que se evidencia pelas suas últimas declarações, quando defende de forma inconsequente e desgastante que o actual Presidente da República ainda não foi legalmente investido, remando assim de forma desnecessária contra a corrente na medida em que ele já exerce de jure e de facto o seu mandato e tem o reconhecimento da CEDEAO, ONU, CPLP, União Africana e a União Europeia”, destacou Óscar Barbosa.

No documento de nove páginas, Óscar Barbosa ‘Cancan’ começou por manifestar a sua revolta com o PAIGC pela forma que está a ser tratado, depois da sua aproximação ao Presidente Umaro Sissoco Embaló. Disse que a sua aproximação ao Presidente da República, que considera um amigo pessoal e com uma relação que jamais escondeu, visava apenas ajudar o PAIGC a estar à altura dos desafios que lhe são colocados. “Problemas que só podem ser resolvidos com base no diálogo sério e não egoísta ou prepotente”, sublinhou.

Para Óscar Barbosa ‘Cancan’, depois de existirem suspeitas, seria positivo ser convocado pelo Conselho Nacional de Jurisdição para apresentar a sua versão. “Infelizmente ninguém, no partido me prestou atenção. Mesmo depois de estar doente desprezaram a minha saúde”, lamentou.

No entanto, a partir daquele momento, quase todas as franjas do partido “até as próximas da direcção” o vilipendiavam em praça pública e nas redes sociais. “De bom militante passei a traidor pela simples razão de ser amigo do Presidente da República e por ter servido de intermediário no seu pedido e decisão na sua tentativa de convidar o PAIGC a integrar o actual elenco governativo. Também sou condenado por ter viajado com ele para o exterior”, disse Óscar Barbosa.

Segundo Óscar Barbosa ‘Cancan’, em nenhum dos articulados do PAIGC se vislumbra algo que possa ser conotado com a sua violação, embora certos sectores “obcecados pelo trauma do presidencialismo” tenham assumido uma “postura de guerra”.

Barbosa referiu na sua carta que, quando teve o primeiro encontro com o Presidente da República e outras figuras posteriormente, nunca escondeu ou escamoteou tais factos e tão pouco fez às escondidas, já que entrou e saiu da Presidência em pleno dia e perante o olhar de todos.

Quando se aproximou do Presidente da República, Óscar Barbosa afirma ter comunicado ao PAIGC a decisão de jamais tomar parte nas reuniões do partido, para evitar ser alvo de acusações de eventuais fugas de informação.

“Simões Pereira prejudica o PAIGC”

Considerando Domingos Simões Pereira um dos “elementos mentores” da campanha de que está a ser alvo, Óscar Barbosa acusou também o Presidente do PAIGC de ser uma figura que está a prejudicar o partido, porque o drama do presidencialismo não permitiu encetar o necessário diálogo com os partidos com o assento parlamentar, incluindo o Presidente da República, “E foi por causa disso e dessa obsessão presidencial”, prosseguiu Óscar Barbosa que fez o PAIGC perder a governação devido à inconsequente contestação dos resultados eleitorais. A agenda presidencialista de Domingos Simões Pereira é contrária aos interesses do PAIGC”, denunciou.

No mesmo documento, Óscar Barbosa aborda vários assuntos, sempre em tom de críticas ao presidente do PAIGC. Destaca os prejuízos causados ao partido desde o Congresso no Cacheu, e que o partido, segundo Óscar Barbosa, desceu de 67 deputados para 47 e agora está com menos de 40. “Dizem os estatutos do PAIGC que, o Presidente é candidato às presidenciais. Mas Domingos Simões Pereira ao ser candidato não renunciou ao cargo. Aquilo é uma violação, porque não permitiu às estruturas do partido funcionar”, acusou.

Ainda sobre a situação do partido, Óscar Barbosa acusou Simões Pereira de estar a levar a cabo uma gestão danosa dos assuntos do partido e dos seus interesses. “Para além da gestão danosa, ainda temos que, em sede própria, sindicar a gestão financeira do partido que é um tabu, porque tem conhecimento do paradeiro dos avultados apoios financeiros e materiais que o partido recebeu ou tem recebido dos seus amigos e parceiros. “Contudo, há provas que indicam muito claramente perigosas violações dos artigos 140º e 141º dos estatutos do partido”.

Óscar Barbosa que vinca ser militante e dirigente do partido e que sempre deu a cara pelo partido e pela superior defesa dos interesses do PAIGC, reafirma que o seu compromisso é com o PAIGC. “Este compromisso de décadas de fiel militância, só vai terminar se for expulso pela actual direcção. Aliás, prática e estratégia corrente da actual equipa de dirigentes como condição sine qua non para se manter no poder e tentar assim ilusoriamente tapar o Céu com as mãos”, disse.

Um dos factores que mais agitou alguns militantes e presidente do PAIGC contra Óscar Barbosa, segundo o próprio, foi por ter subscrito a reunião dos órgãos do partido, depois das eleições. Na carta, dirigida ao Conselho de Jurisdição, escreveu que, a tão solicitada / exigida reunião dos órgãos estatutários é hoje urgentemente requerida como condição imperativa para repor a ordem, vitalidade e reorganização susceptíveis de voltar a conduzir o PAIGC ao lugar que deve ocupar no espaço político guineense.

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