A situação política da Guiné-Bissau está há seis meses num imbróglio e poderá conhecer novos capítulos nos próximos dias. Há uma ruptura entre o Partido da Renovação Social (PRS) e o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM), existindo já indícios de os Renovadores poderem integrar o Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos, liderado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
A integração poderá acontecer brevemente e visa unir forças para combater o “regime” que consideram ter “veias ditatoriais”. As questões eleitorais não estão afastadas, mas existe rumores que dão conta que uma coligação eleitoral não está descartada.
Tudo começou quando o Presidente da República (PR), Umaro Sissoco Embaló, em Maio de 2022 dissolveu o parlamento. Logo após o chefe de Estado avançou com a composição do Governo de Iniciativa Presidencial, sem passar pela Direcção dos partidos. O PRS contestou e como consequência, o PR afastou três dos seus vices que eram membros do aludido executivo de Iniciativa Presidencial.
Indicou novamente mais três dirigentes do PRS totalizando 10 elementos do partido no Governo, mas que não respondem pela direcção dos Renovadores. A Direcção considerou-se descartada, e demarcou-se. O mesmo aconteceu com o MADEM que, contrariamente ao PRS, conformou-se com a decisão do PR quando seleccionou os membros do Governo unilateralmente, alegando tratar-se de um Executivo da sua iniciativa.
O PRS não só sentiu ausência de solidariedade do MADEM, como acusou o partido de ser cúmplice das acções do Chefe de Estado. A situação agravou quando o PRS viu a sua ordem, transmitida aos seus membros para não tomarem posse, ser ignorada. Sentindo a falta de solidariedade do MADEM, o ambiente deteriorou-se com os ataques às bases do PRS promovidas pela formação política outrora aliada.
No intervalo de 6 meses, quatro deputados eleitos nas listas do PRS declararam militância no MADEM, e outras duas figuras eminentes na política da mesma formação política, Braima Mané (Braima Cubano) e Paulino Ié seguiram o mesmo destino.
A partir daí, a direcção do partido interinamente liderada por Fernando Dias, considerou o MADEM “um partido traidor” e começou a inventariar a possibilidade de juntar-se ao PAIGC para combater o “regime” liderado por Umaro Sissoco Embaló. A Cimeira dos líderes outrora promovida entre Braima Camará e Alberto Nambeia aconteceu apenas uma vez, na era de Fernando Dias.
O PRS concluiu que, quando Braima Camará esteve em litígio com Umaro Sissoco Embaló decidiu juntar-se ao PRS para o poder enfrentar. Quando reconciliou-se com o Chefe de Estado, abandonou o PRS. Por esse motivo o PRS começou a ponderar a possibilidade de assinar uma aliança com o PAIGC, para “salvar a democracia”, tal com vincou o presidente interino na semana passada. O PRS deu mesmo voz para criticar a obstrução de acções políticas do PAIGC por parte do Governo.
Iminente acordo entre o PAIGC e o PRS
Sendo indisfarçável o litígio o PRS e o PR, Umaro Sissoco Embaló, com o MADEM envolvido, as estratégias de fortificação passam por uma aliança. A possibilidade do acordo entre o PAIGC e o PRS reforçou-se, mas os litígios do passado entre os dois partidos têm atrasado a situação. Há 7 anos, o PAIGC considerara ter sido traído pelo PRS que aliara-se a José Mário Vaz empurrando os Libertadores para a oposição.
O PRS reagiu e acusou o PAIGC de nunca aceitar um acordo, preferindo ceder pastas ao partido sem qualquer compromisso. Acumulando estas experiências de alianças sem vínculo documental, o PRS decidiu desta vez pedir a formalização.
O Espaço de Concertação dos Partidos (ECP) institucionalizado sob a liderança do PAIGC parece ser atractivo aos Renovadores, mas esperam uma solicitação de integração por parte dos Libertadores. Ambos os partidos já admitiram essa possibilidade, mas não se sabe quando será concretizado.
O decurso do recenseamento eleitoral, em que supostas anomalias nas brigadas está a ser denunciado pelo PRS pode precipitar a sua integração no ECP. Todavia, com base nas experiências passadas, o PRS já tomou duas decisões. Integrar o Espaço mediante a formalização de um documento. A segunda decisão, é romper definitivamente com o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM), partido que considera estar aliado ao PR para destruir os Renovadores.
À margem de todos estes considerandos, os dois partidos precisam-se mutuamente neste momento. O PAIGC parece totalmente esgotado e vê com a chegada do PRS um aliado de peso, tendo em contas as conotações do partido com as forças de defesa. O PRS, por sua vez, precisa do PAIGC para recuperar a simpatia popular, visto que, as persistentes permanências no poder sem vencer eleições colocaram o partido em má postura face aos eleitores.