Guiné-Bissau: Guineenses em reflexão após ouvirem propostas de unidade nacional e advertências de fraude eleitoral

DSP Sissoco

A campanha eleitoral para a escolha de um Presidente da República para os próximos cinco anos terminou na noite do dia 27 de Dezembro. Durante 13 dias, os dois candidatos finalistas, Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló e os respectivos partidos, PAIGC e MADEM-G15 percorreram todo o país na caça ao voto. Na quinta-feira, 26 de Dezembro, a Televisão da Guiné-Bissau promoveu o debate entre os dois candidatos, mas a mesma não conseguiu ter um espaço próprio para analisar as respostas e propostas dos candidatos sobre vários assuntos ligados à figura do Presidente da República.

Os telespectadores foram abandonados à mercê das suas capacidades fazerem próprias avaliações de como foi o debate. A nível das rádios, alguns analistas opinaram sobre o debate. Na Rádio África FM, o analista político, Augusto Nhaga considera que, o debate foi uma oportunidade para se provar as dificuldades que Domingos Simões Pereira pode enfrentar caso vença às eleições. Como fundamento desta opinião, o analista disse que, o candidato apoiado pelo PAIGC afirmou a determinado momento que Umaro Sissoco pode seguir com os seus candidatos derrotados, enquanto Domingos Simões Pereira sente-se bem acomodado pelo povo. Na sua opinião, o peso de figuras como José Mário Vaz, Nuno Nabian ou Carlos Gomes Jr. precisa de ser levado em consideração pelo futuro Chefe de Estado e não deixá-los como simples cidadãos, como Domingos Simões Pereira dissera num dos debates que, depois da publicação dos resultados, todos os candidatos voltarão a ser um cidadão como qualquer outro.

Ao analisar o capítulo ligado a imperativa reconciliação dos guineenses profundamente divididos pela crise política dos últimos cinco anos, Augusto Nhaga disse que, para ele, Umaro Sissoco estará em melhores condições, porque já conseguiu juntar figuras outrora antagónicas tais como, José Mário Vaz, Carlos Gomes Jr. e Nuno Gomes Nabian. E sobre a prestação de cada um no debate, entende que Umaro Sissoco esteve bem, ao conseguir comunicar para a sociedade.

Um outro analista, que pronunciou-se sobre o debate, ouvido para a Rádio Capital, foi Rui Landim. Pedida a sua opinião sobre o debate, Landim respondeu que o que aconteceu na Televisão da Guiné-Bissau não foi o debate, mas sim a presença de dois elementos com perfis, posturas e níveis totalmente diferentes. “A mim pareceu-me que estava na sala um professor a fazer dissertação de mestrado – e uma simples pessoa a ouvir e a perturbar”, disse numa referência a diferença de visões que considera abismal entre Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló e ao comportamento deste em determinados momentos do debate.

O analista referiu que, a diferença que se podia constatar é que, Domingos Simões Pereira tem uma visão e uma agenda presidencial, enquanto Umaro Sissoco, para além de não ter nada, comporta como quem percebeu até a data presente, o que está em causa. “Não podemos comprar os dois”, admitiu, afirmando não ter dúvidas que, à vontade com que o Domingos Simões Pereira esteve ao longo de todo o debate se deve a falta de preparação do seu adversário. “Ele não esteve minimamente a altura. Como é que quem quer ser Presidente da República chega um debate sem nada na agenda, nega às regras previamente estabelecidas e perturba as intervenções do adversário, insulta jornalistas e chama o adversário de mentiroso e ladrão? Só pode ser uma pessoa que não tem preparação”, frisou.

Apelo ao voto de Domingos Simões Pereira

Na ausência de agências de sondagens de opinião e intensões de voto, o último dia da campanha eleitoral, tem sido oportunidade para os guineenses avaliarem quem tem mais aceitação. Na primeira volta este ensaio favoreceu ao candidato do PAIGC que esgotou por completo todo o recinto do Estádio Lino Correia, enquanto o seu adversário ficou nas zonas do espaço Verde em Bissau. Essas romarias dos eleitores e demais curiosos, não podem constituir um elemento consistente de análise de intensões de voto, porque para além de não ser dedicado apenas para os eleitores, os candidatos transportam pessoas do interior para a cidade e, há quem não só aprecia às comunicações dos candidatos, mas usa o espaço para diversão.

Nesta segunda volta o cenário se repetiu, com o candidato do PAIGC no Estádio Lino Correia e o do MADEM no espaço Verde. Com estratégias semelhantes para impressionar o eleitorado quase (todos eles vieram do interior para a cidade no último dia da campanha, talvez para ter uma entrada triunfal). O candidato do PAIGC foi o primeiro a chegar a Bissau e a encerrar a campanha eleitoral. Minutos depois, por volta das 21 horas, Domingos Simões Pereira terminou o seu discurso de apelo ao voto. Umaro Sissoco só encerrou quando faltavam 13 minutos para meia-noite, período estabelecido por lei para o fim da campanha.

Neste particular, as estratégias das intervenções foram diferentes. Domingos Simões Pereira (embora em crioulo) inspirou a sua intervenção num discurso escrito, e apelou ao voto “contra aqueles que nos últimos cinco anos dividiram os guineenses”. Simões Pereira condenou a adopção de estratégias tribais no campo político e em qualquer outro e alertou que, os guineenses hoje precisam de união e concórdia, pelo que quer ser Presidente para guiar este processo. Prometeu a colaboração com o Governo e garantir a paz e estabilidade.

O candidato do PAIGC disse que quer trabalhar para unir os guineenses depois de muitas tentativas feitas tanto na administração como com o último fenómeno de tribalismo. Prometeu que, se for eleito vai mostrar o país positivo, fazer os guineenses acreditarem através da recuperação da esperança e confiança. Prometeu igualmente lutar para que haja justiça e nunca interferir nas instâncias responsáveis para a gestão da justiça. Assumiu que, a sua geração, em função dos benefícios que obteve no Estado, tem a obrigação de juntar os guineenses para a reconstrução.

“Os guineenses, tanto aqui como no estrangeiro, estão ávidos de uma oportunidade para participarem na construção do país”, assegurou, para mais adiante acrescentar que, com ele na Presidência, os valores da soberania não serão negociados por ninguém e muito menos com os vizinhos. Ao terminar, afirmou ser inaceitável, um país que fez uma luta tão gloriosa estar neste momento a ser associada a imagens negativas, pelo que será o primeiro embaixador para mudança da imagem do país.

Reconhecimento de Umaro Sissoco e o alerta sobre fraude eleitoral

A estratégia de Umaro Sissoco foi contrária. Por exemplo, não fez um discurso de apelo ao voto. Apresentou dois filhos no comício, alertando que tem mais outros. Depois agradeceu a todos os seus apoiantes revelando sempre o tratamento que vai dar a cada um se for eleito PR. Disse que deve um favor para toda a vida a José Mário Vaz, por ser aquele que lhe deu a oportunidade para servir o país. A Carlos Gomes Jr. prometeu consolar, porque aquele, segundo as suas palavras, que foi traído por Domingos Simões Pereira. Disse praticamente o mesmo em relação a Nuno Gomes Nabian, a quem meio sério e meio a brincar, disse que vai rezar para que Deus lhe perdoe a falha que teve ao aceitar um acordo com o PAIGC depois das legislativas para aquele formar o Governo. Hoje, sublinhou Umaro Sissoco Embaló, Nuno Nabian “foi traído pelo PAIGC”.

Antes da intervenção de Umaro Sissoco Embaló, intervieram figuras como Alberto Nambeia, presidente do PRS que preferiu explicar os motivos que fizeram com que o partido não tivesse um candidato e optar pelo apoio a Nuno Nabian e agora a Umaro Sissoco. Braima Camará, Coordenador Nacional do MADEM denunciou que está em marcha uma fraude eleitoral a ser preparada pelo PAIGC e o seu candidato. Disse ter informações que, no momento em que usava de palavra, centenas de camiões estavam a distribuir arroz no interior.

José Mário Vaz esteve também no acto do apelo ao voto, gritando o seu famoso slogan “nunca” e passou a chave do Palácio a Umaro Sissoco Embaló. Foi o momento mais marcante do encerramento da campanha de Sissoco Embaló e foi coroado com muitos aplausos.

Aliás, na manhã do dia 27, o partido MADEM-G15 promoveu uma conferência de imprensa para denunciar suposta fraude eleitoral e advertir aos observadores para estarem em todas as localidades dos 38 sectores existentes, para puderem ter elementos para considerar se eleições foram livres, justas e transparentes. Caso contrário, não estarão em condições.

É neste ambiente que o país acordou. Nas paredes perto das assembleias de voto, estão a ser removidos os cartazes e outros materiais de propagandas. Nos cidadãos, são visíveis os vestígios do dia de ontem,  27 dezembro, vendo nas ruas pessoas com camisolas de cada um dos candidatos.

O Comissário da Polícia de Ordem Pública advertiu que, a partir da meia-noite do dia 27, todo aquele que for apanhado a fazer campanha será detido e o material utilizado, confiscado.

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