Guiné-Bissau: Igreja Católica não dá a bênção ao Presidente da República

Palácio da República, Bissau

As recentes declarações do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, visando o líder da Igreja católica na Guiné-Bissau estão produzir efeitos. Os representantes da Igreja Católica recusaram comparecer esta quarta-feira 5 de Janeiro na cerimónia de cumprimentos de novo ano, por considerarem que “não têm nada com a política”. Uma postura que responde aos ataques do chefe de Estado ao Bispo de Bissau.

A 30 de Dezembro, Umaro Sissoco Embaló acusou o Bispo de Bissau de estar a intrometer-se na política e advertiu com que os religiosos não terão qualquer influência no Palácio e muito menos a oportunidade de estar a elogiar o Chefe de Estado “como faziam com outros Presidentes da República”.

Embaló vincou ainda que se o Bispo Lampra Cá quiser fazer a política que se apresente numa formação política para receber um cartão “porque existem muitos dispostos a militá-lo”.

Cinco dias depois deste ataque, a Presidência da República integrou a Igreja Católica na lista das organizações da Sociedade Civil convidadas para os tradicionais cumprimentos de Ano Novo ao Chefe de Estado. Convite que a Igreja Católica recusou.

A Comissão Inter-diocesana de Comunicação confirmou e fundamentou a recusa do convite com as afirmações do chefe de Estado em como os religiosos não podem estar lá e Presidente não fala com o Bispo. “Foi o que ele disse há quatro dias. Se isso é verdade, nada justifica a presença do Reverendíssimo Bispo no Palácio”, sublinhou um dos responsáveis da Comissão.

Fontes na Diocese garantiram que a Igreja Católica transmitiu a sua posição ao chefe de Estado através da estrutura que entregou o convite. “Foi um não, sem qualquer hesitação”, sublinhou e reconheceu a crispação latente com o Presidente da República, tendo em conta que “não é a primeira vez que deixa impropérios à Igreja Católica”.

As afirmações do Presidente da República estão a ser alvo de criticas em várias franjas da classe política e social. Na Igreja Católica, o padre Augusto Mutna Tambá qualificou o Presidente da República de “um infeliz” que não percebe o “relevante papel” do Bispo nos meandros sociais, sobretudo pela sua preparação. Referiu também que se o Bispo candidatar, não só vai ganhar como também a sua eleição será transparente.

A decisão de não comparecer na Presidência foi aplaudida pelo jurista Luís Peti, que considerou a atitude da Diocese como um posicionamento justo de uma autoridade com respeito.

Umaro Sissoco Embaló criticara a Igreja Católica na sequência do encontro entre a Sociedade Civil e o Primeiro-ministro Nuno Gomes Nabian, com quem tem relações tensas há cerca de dois meses. A presença da Sociedade Civil na Primatura foi a resposta a uma solicitação manifestada pelo Chefe do Governo e à saída do encontro o Bispo serviu de porta-voz do grupo.

O padre Mutna Tambá destacou também a incoerência do Presidente da República sobre a ausência dos religiosos na política e questionou sobre a razão pela qual Umaro Sissoco Embaló tem no Conselho de Estado, e nomeado por ele, o imame central de Bafatá. “Não há como disfarçar o sentimento negativo de Umaro Sissoco Embaló contra a Igreja Católica”, disse.

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