O Presidente da República da Guiné-Bissau, Sissoco Embaló faz balanço de 100 dias na Presidência e fala em reformas. A 7 de julho o chefe de Estado apresentou os pontos fortes da sua acção durante os últimos 4 meses na presidência.
Numa comunicação à imprensa, Umaro Sissoco Embaló destacou as acções já desenvolvidas por ele, enquanto Chefe de Estado, mas também pelo Governo por ele instituído e concluiu que existem fortes sinais de melhoria.
Na mesma ocasião Umaro Sissoco anunciou que em breve muita coisa deverá mudar na Guiné-Bissau. O desenvolvimento será assegurado, mas antes é necessário que haja ordem e disciplina. Valores que Umaro Sissoco Embaló promete garantir através da aplicação da lei e de uso de novas tecnologias de informação para monitorar os cidadãos que usam perfis falsos para insultar políticos ou eminentes figuras.
Umaro Sissoco faz um balanço de 100 dias na Presidência que na sua opinião é extremamente positivo, não obstante a vigência do Covid-19, que dificultou a sua acção, tal como reconheceu, mesmo assim “o país sente ventos de novas esperanças”. Prometeu colocar o guineense no topo e projectá-lo nos organismos internacionais.
Nova geração de políticos no poder
Foram duas horas de conversas com os jornalistas, repartidas entre a exposição do Presidente da República e as questões dos jornalistas. Sissoco Embaló começou por lembrar as razões da sua candidatura à Presidência, que foi alimentada pela convicção de que uma nova geração de políticos devia chegar ao poder, tal como aconteceu em vários países vizinhos, com o Senegal em referência.
“Foi isso que me motivou: ter uma nova geração de políticos no poder. Fui apoiado pelo meu partido e hoje pela inerência não sou militante. Mas antes, o partido abriu a todos para concorrerem e acabei por sair vencedor das primárias. Tornei-me no candidato de um partido”.
Depois de referir as alianças que teve na segunda volta das eleições, dos seus apoiantes, das figuras que o apoiaram e dos progressos que fez na campanha, bem como das peripécias na campanha, realçou aquilo que chama de “crença da sociedade” nos valores que prometeu durante a campanha eleitoral.
“Ganhei, porque fui mais inteligente do que a esperteza que eles estavam a mostrar. Às 22 horas já sabia que tínhamos uma nova República, porque vencemos às eleições. Temos o melhor sistema eleitoral e não há possibilidade de fraude. Fui felicitado por todos. No dia 30 recebi a chamada de Domingos Simões Pereira a dizer que se os seus dados coincidiam com os da CNE, me desejava boa sorte. Disse-lhe que estava disponível a trabalhar com ele”.
Sissoco queria DSP como primeiro-ministro
Umaro Sissoco considera que o processo eleitoral foi limpo e ele foi um justo vencedor da segunda volta das eleições presidenciais. Contrariamente aos protestos do seu adversário Domingos Simões Pereira, garantiu que contava nomear Domingos Simões Pereira (DSP) como primeiro-ministro, caso este não recuasse.
Segundo Umaro Sissoco Embaló a situação política prevalecente começou quando o candidato suportado pelo PAIGC redimiu-se das suas afirmações de reconhecimento. Por sua vez desistiu de o nomear como chefe do Governo, porque passou a faltar o factor confiança.
Sobre o Governo de Aristides Gomes, Umaro Sissoco recordou que o antigo primeiro-ministro afirmou que estava disposto a demitir do cargo, caso o seu candidato perdesse as eleições. Por isso, quando Domingos Simões Pereira perdeu, o Aristides Gomes em vez de colocar o lugar a disposição, começou com engenharias de continuar. “Para mim, aquilo era golpe de Estado e não podia prevalecer”.
“Tudo o que prometo na vida, cumpro…a posse era inevitável”
Umaro Sissoco falou igualmente da sua decisão em avançar para uma tomada de posse mesmo sem aval do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) ou da Assembleia Nacional Popular (ANP). No fundo, o Presidente advertiu aos guineenses que ele é homem de palavra e tudo que prometer fazer, mesmo se for a brincar, vai cumprir.
“Foi o que aconteceu. Depois de visitar os meus amigos de primeira linha em diferentes países, senti que não podíamos estar a banalizar o país. E a primeira pessoa que me felicitou foi Marcelo Rebelo de Sousa”. No poder, Sissoco assegurou que não vai negociar nada com ninguém neste país, que não sejam os sindicatos.
Em relação ao parlamento, Umaro Sissoco reafirmou que, se o mesmo estivesse bloqueado iria ser dissolvido. “Houve pessoas que me pediram de joelhos para não dissolver ANP. Falei com demais pessoas e tive de ceder. Mas garanti que vão para o Parlamento, mas no dia em que um deputado brigar e insultar Cipriano Cassamá, não haverá imunidade para esta pessoa. Nem vamos para o Tribunal. Vou actuar”, ameaçou, para garantir que o fim os insultos é alargado para todos os cidadãos. “Quem insultar vai pagar na sua pele”, disse.
Em relação à mudança do Governo e o acantonamento da ECOMIB, referiu são assuntos inegociáveis e ele sempre se posicionou, porque não é um Presidente da República a quem se dá prazo. “Sobre aquilo que José Mário Vaz aceitou da CEDEAO eu não podia aceitar. Vi ministros a insultar um PR. Eu tenho temperamento e conheço as convenções. Conheci demais países. Vi P5 a actuar. Mas vocês acham que vou conversar com P5? Não. Eu sou Presidente e vou ficar no lugar de Presidente. Portanto isto de CEDEAO não é nada de extraordinária. É um espaço que nós participamos em fundar e mais nada”.
O presidente criticou também os embaixadores do P5 de participarem em “certas reuniões” em que chegaram a prestar declarações junto com o PM. “Em resumo, o PR Mário Vaz foi muito passivo. Comigo este país vai ter ordem disciplina e progresso. Vou combater a corrupção”.
“Comigo não haverá nem imunidade ou privilégio para quem é suspeito. Disse à DG da PJ de que, todo aquele que for suspeito, mesmo se for aqui na Presidência, enviem uma notificação. Se não atender, quando sair a rua, detenham-no. O mesmo com ANP. O lugar de bandido é na cadeia”, sublinhou o chefe de Estado durante a apresentação do balanço dos seus 100 dias na Presidência.
“Só será portador do passaporte, quem a merecer”
Umaro Embaló prometeu mudar os passaportes e que no futuro os titulares dos passaportes de serviço ou diplomáticos serão apenas por mérito. Na CEDEAO, prometeu nunca submeter-se a qualquer Estado e quanto às denúncias de ter um discurso duro, disse não interessar, “basta estar em paz com a sua consciência”.
“Eu, a CEDEAO e ONU estamos no mesmo nível. As Nações Unidas não fazem nada que não vem da CEDEAO. Portanto são questões básicas. A tal resolução de que estão a falar, não é nada. Nem Guterres ousa dizer-me que mude este Governo”, assegurou.
Sobre a sua recente deslocação ao Níger, disse que enquadra-se na acção para a resolução do conflito líbio. A sua participação nestas mediações demonstra que a Guiné-Bissau está a ser vista com bons olhos. “Mas aproveitei para lhes dizer que estava a seguir os passos de José Mário Vaz. Ele me felicitou; felicitou a aprovação do programa do Governo e os trabalhos da Comissão Técnica de Revisão Constitucional. Portanto neste país, só vai reinar a disciplina. Nem eu sou indisciplinado. Se fizer algo, responsabilizem-me”.
Sobre a participação internacional e política externa, Umaro Sissoco Embaló garantiu que neste momento o país tem as quotas actualizadas, porque pagou a tempo. Os seus Comissários vão ter a representação mais condigna.
Na sua longa intervenção, Umaro Sissoco deixou indirectas aos adversários políticos sobre as suas realizações. Sem citar nomes denunciou os que geriram e não tiveram qualquer resultado para o país. Prometeu colaborar com o Governo e que vai ser um primeiro investidor e mobilizador de fundos.