Botche Candé

Guiné-Bissau: Um novo partido para garantir a sobrevivência política de Botche Candé

O ministro do Interior Botche Candé está já a apostar na sua sobrevivência política. Após constatar que entrou em colisão com todos os partidos políticos a única solução foi criar o seu próprio partido, com uma vertente subliminar étnica a fim de ter garantido um universo eleitoral.

Em passos acelerados, Botche Candé apresentou uma carta de desvinculação do Partido da Renovação Social (PRS) do qual foi eleito deputado nas legislativas de 2019. Com esta decisão reforça a possibilidade do ministro liderar o novo partido, que o próprio anunciara.

Na manhã de 30 de Novembro, Botche Candé disse à imprensa que nunca foi militante do PRS e que esteve com o partido nos últimos tempos, apenas para ajudar. Paradoxalmente, Botche Candé estranhou o silêncio do PRS face a sua carta, por não o questionar sobre os motivos da desvinculação.

A carta do ministro, dirigido ao PRS, foi apenas mais um passo no processo das rupturas políticas e que envolvem o nome do Presidente da República (PR), Umaro Sissoco Embaló. Depois de ter sido anunciado a possibilidade da criação de um partido, agravaram as relações entre o PR e o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM), partido que o apoiou nas últimas eleições.

O MADEM acusou há cerca de três meses o PR de estar a tentar formar um partido político, sendo o ministro Botche Candé um dos expoentes dessa acção. A sustentar a sua acusação o MADEM apresentou as assinaturas recolhidas por Botche Candé, quando o ministro efectuara uma digressão em diferentes partes do país, para supostamente agradecer o voto confiado a Umaro Sissoco Embaló, mas na altura esse argumento foi desmentido pelo próprio chefe de Estado.

Na semana passada, o desmentido de Umaro Sissoco Embaló foi contrariado por Botche Candé que assumiu a formação de um novo partido, devendo realizar o Congresso constituinte a 14 de Dezembro em que deverão participar 700 delegados.

Em declarações à imprensa o ministro Botche Candé, expressando-se em crioulo, assegurou que está cansado de fazer a agenda dos outros, e por esse motivo decidiu avançar. Afirmou que ao longo do seu percurso político apoiou todos os dirigentes políticos, com excepção de Luís Cabral, que foi o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau independente.

Acreditando que o seu partido conseguirá conquistar um espaço, Botche Candé justificou a decisão de avançar com o facto de os seus colaboradores serem sempre ignorados pelo poder político, e após qualquer eleição, apenas ele ser nomeado.

Apesar de estar a ser acusado de pretender constituir um partido orientado para uma etnia, o ministro Botche Candé vincou que no dia em que isso acontecer, será ele mesmo a abandonar o partido. “Não quero ouvir ninguém de algum grupo étnico a reclamar ser dono deste partido. Se isso acontecer, alguém disser que é partido de fulas, saio”, prometeu.

Com esta declaração Botche Candé tenta dissipar os comentários que apontam que a nova formação política assenta numa vincada base étnico tribal. Botche Candé insistiu que pretende tratar todos em pé de igualdade. Órfão de partido político, Botche Candé, para sobreviver politicamente, optou pela alternativa de constituir o seu próprio partido, deixando em aberto a possibilidade de ser o partido “plano B” que poderá apoiar a candidatura a segundo mandato de Sissoco Embaló, caso o presidente se mantenha de costas voltadas para o MADEM e semi voltadas para o PRS.

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