Guiné-Bissau: Umaro Sissoco surpreende e vence eleições, Simões Pereira ameaça com impugnação

O General na reserva Umaro Sissoco Embaló, 47 anos, formado em Relações Internacionais e interpretação de Segurança Facial em Israel, será o novo Presidente da República da Guiné-Bissau para os próximos cinco anos.

No anúncio dos resultados provisórios feito quarta-feira 1 de Janeiro de 2020, pelo Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o candidato apoiado pelo Movimento Alternância Democrática (MADEM) arrecadou mais de 293 mil votos, representando 53,55%% do apuramento nacional, contra o seu oponente do PAIGC, Domingos Simões Pereira que ficou nos 254.468 que representa 46,45%. Os votos válidos nesta segunda volta são 553.521, totalizando 67% do número de inscritos. Há uma diferença de cerca de 35 mil votos entre os dois candidatos. A taxa de abstenção nessa segunda volta passou de 25 para 27%, quando 208 mil eleitores não exerceram o seu direito de voto.

Domingos Simões Pereira já pronunciou-se na sede do partido sobre os resultados e disse que vai impugnar os resultados, tendo em conta que, segundo o líder do PAIGC, houve um “roubo monumental” que não pode aceitar. Garantiu também aos seus apoiantes que se abriu uma nova fase de luta e que vai usar todos os mecanismos jurídico e constitucionais serão utilizados para que, a vontade popular seja respeitada. “Por mais que estivermos revoltados, frustrados ou injustiçados, ninguém pode usar as suas mãos”, apelou aos seus militantes. Simões Pereira disse que podem até deixar os seus adversários celebrarem, mas estratégias eficientes serão adoptadas para provar quem ganhou.

Domingos Simões Pereira considera que os resultados eleitorais são “golpes de pessoas que querem que abandone o barco”, mas garante que não vai cair, o que deixa entender que, não apresentará a demissão como presidente do PAIGC. Aproveitou também para apelar aos militantes do PAIGC para enfrentarem a luta e que os desígnios do povo não serão subtraídos.

A diferença entre os dois candidatos e a inexistência de alguma reclamação oficial, faz que a previsão indique que os mesmos resultados transformar-se-ão em definitivos dentro de uma semana e validados pelo Supremo Tribunal de Justiça, para efeitos da investidura do novo Chefe de Estado.

Contrariando algumas analises, os candidatos Nuno Nabian e José Mário Vaz demonstraram ter mais peso de que os seus apoiantes, que nessa segunda volta afastaram-se dos seus lideres. No caso de Nuno Nabian, a situação é ainda mais surpreendente, tendo em conta que deu liberdade ao partido para apoiar Domingos Simões Pereira e partiu isolado, com alguns dos seus fiéis, no apoio a Umaro Sissoco Embaló.

O anúncio dos resultados que ocorreu esta quarta-feira, primeiro dia do ano, foi para muitos um balde de água fria contra todos que não acreditavam que Simões Pereira pudesse sair derrotado. Umaro Siossoco Embaló conquista assim o cargo de Presidente da República diante de Domingos Simões Pereira que para muitos tinha “meio caminho andado” para a vitória, após ter reunido 40,13% dos votos na primeira volta. O candidato do PAIGC nesta segunda volta não conseguiu cresceu mais que 6,5% de votos, contrariamente a Umaro Sissoco Embaló que cresceu rigorosamente 26%. Saiu de 27% na primeira volta com cerca de 153 mil votos, para 53% que totalizam 291 mil.

O crescimento de Umaro Sissoco Embaló começou cedo nas 11 regiões eleitorais. Na primeira volta só vencera em duas regiões no leste do país (Bafatá e Gabú) e adicionou mais quatro regiões eleitorais. Recuperou três que na primeira volta foram conquistadas por Domingos Simões Pereira (Tombali, Quinara e Oio) e ganhou a região em que outrora votara no seu aliado José Mário Vaz, neste caso a Região de Cacheu. Domingos Simões Pereira manteve o domínio na capital (maior concentração do eleitorado), mas nesta segunda volta, cresceu menos de cinco mil votos, quando Umaro Sissoco esteve em cerca de 29 mil votos. Em Bissau, Simões Pereira reuniu 93 mil votos e Umaro Sissoco Embaló, 62 mil.

Poucos analistas anteviram que Umaro Sissoco Embaló fosse capaz de recuperar a totalidade dos votos dos seus apoiantes de peso. Nos apoiantes de peso de Umaro Sissoco (Nuno Nabian, cerca de 74 mil votos, total de 13%), José Mário Vaz, com 69 mil votos, com pouco mais de 12% e Carlos Gomes Jr. que acumulou 14 mil votos, ou seja 2,66% e que totalizam 27%. Sissoco Embaló conquistou simplesmente 98% desses votos e subiu 26% do total nacional. Foram estes os números que permitiram a vitória folgada do candidato contrariando a tendência da maioria dos eleitores da capital.

Os dados anunciados pela CNE surpreendem ainda mais quando, em duas regiões, Sissoco Embaló arrecadou mais de 50% dos seus votos na primeira volta. Nas regiões em que ganhou, os números são mesmo desproporcionais e facilitaram esta vitória.

Domingos Simões Pereira denuncia irregularidades no processo

Entretanto, reagindo aos resultados eleitorais, Domingos Simões Pereira qualificou que o processo está eivado de graves vícios. “Aconteceu roubo monumental”, dissei o líder do PAIGC,, o que consubstancia um “escândalo inaceitável”.

“O PAIGC vai propor às estruturas competentes a impugnação do processo eleitoral”, afirmou. O candidato neste momento declarado derrotado garantiu que vai lutar até clarificar as fraudes que invocou e apresentar elementos de provas que mostram que a vontade popular foi “atrofiada”.

Como exemplo de irregularidades ocorridas no processo, denunciou que, no dia da votação, Nuno Gomes Nabian distribuiu dinheiro junto das assembleias de voto e contara com a protecção de um forte aparato militar. “Quem procede assim, não está a defender a verdade democrática”, disse Simões Pereira.

O líder do PAIGC destacou também o suposto envolvimento dos militares no processo que, na noite de 31 de Dezembro envolveram-se no processo quando, de um lado, neutralizavam certas pessoas nas suas casas e do outro, permitiam que outra parte reunisse nas casas dos oficiais, segundo Simões Pereira.

Apesar da tensão crescente entre os militantes, Domingos Simões Pereira pediu aos mesmos para estarem serenos e acreditarem que a “luta será liderada por ele com muita energia”.

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