Guiné-Bissau: Voto “tranquilo” com expectativas de mudança e um PR capaz de unir e estabilizar o país

O processo de votação para a escolha do novo Chefe de Estado na Guiné-Bissau está a decorrer de forma pacífica e ordeira. Pelo menos, são estes os traços que podem ser constatados nas diferentes assembleias de voto em Bissau e com base nos relatos que chegam do interior do país.

São cerca de 761 mil eleitores que vão decidir entre Domingos Simões Pereira, que obteve 40% de votos na primeira volta e Umaro Sissoco Embaló, que atingiu 27%, qual dos dois será o futuro Chefe de Estado.

A organização da logística eleitoral por parte da Comissão Nacional de Eleições (CNE), está quase perfeita. Não existe praticamente nenhum registo ligado a alguma falha da logística digno de registar. As duas principais missões de observação, União Africana e CEDEAO, têm acompanhado de perto o processo através das visitas que fazem às assembleias de voto e nas notas preliminares, revelam não terem nada a registar. Rafael Branco em nome da União Africana disse que espera que estas eleições se traduzam num processo importante e que provoque mudança no país.

A CNE reconhece ligeiros atrasos e diz que “não merece ênfase nenhum registo”. Contudo, alguns políticos, tais como Nuno Gomes Nabian que ainda fazia referência a alguns pormenores de campanha eleitoral, como aconteceu depois de ele votar em Bissorã, quando denunciou que, supostamente, no dia anterior os populares de uma determinada tabanca teriam recusado a oferta dos seus opositores.

Nas assembleias de voto, tudo está tranquilo. As mesmas abriram na hora prevista, às 07:00 horas, devendo encerrar às 17 horas para efeito de contagem, como manda a Lei Eleitoral. O único relato que parece preocupar os agentes das mesas, é a participação dos eleitores. Em certas assembleias de voto, depois de quase 3 horas de votação ainda tinham registado uma participação de 50% dos inscritos, o que faz de novo crescer o receio de uma importante abstenção. Na primeira volta, a mesma ficou em 25%, mas desta vez, e em função da participação “fraca” em certas assembleias, há quem tema que possa aumentar.

Para além dessa possibilidade, de aumento da abstenção, tudo está a ser normal. A participação dos cidadãos eleitores e o comportamento dos apoiantes dos candidatos. Não foi possível remover todo o material de propaganda eleitoral que inundou as ruas do país, mas perto das assembleias de voto, não se consegue encontrar cartazes ou outros vestígios.

A comunicação Social está a acompanhar de perto. Não existem números oficiais dos órgãos credenciados, mas para além de internos (em mais de duas dezenas entre televisão, rádios FM e jornais), é possível registar órgãos estrangeiros. O Senegal, país vizinho, tem pelo menos três órgãos bem presentes. A RTS (Rádio televisão do Senegal), Sud FM e CFM. É possível também ver a forte presença de órgãos públicos portugueses. Na Guiné-Bissau estão bem presentes Lusa, RDP África e RTP África, mas nestas eleições, chegaram ao país enviados destes órgãos, o que faz cada um deles ter pelo menos duas pessoas para cobrir as eleições.

A RFI também fez o mesmo e outra vez a Al Jazeera marcou a sua presença. Foi na presença dessa proliferação dos órgãos que a cobertura estar a ter uma particularidade, sobretudo após a votação das figuras chaves das instituições. Sempre que uma figura votar e após a declaração a imprensa, os órgãos estrangeiros solicitam que se faça na outra língua.

Essa solicitação aconteceu na primeira vez com Domingos Simões Pereira, depois de exercer o seu direito de voto. Num universo de mais de 30 jornalistas, já no final das suas declarações, foi possível ouvir um jornalista estrangeiro a pedir “ces declaration en français s’il vous plait”. Domingos Simões Pereira e Aristides Gomes atenderam os pedidos, mas o mesmo não aconteceu com José Mário Vaz. O Presidente cessante que deveria votar às 10:15 horas’’, no centro da cidade, só apareceu cerca de uma hora e meia depois.

“Quem mais ordena é o povo”

Com uma comitiva reduzida, desde aparato militar até no pessoal de segurança civil, José Mário Vaz veio acompanhado da esposa e da sua Chefe de Gabinete. Não tinha atrás dele nenhum dos cerca de 21 Conselheiros que nomeou em tempos e nem desta vez se fez acompanhar do filho como aconteceu na primeira volta. Vaz também não cumprimentou os observadores internacionais como fez na primeira volta. Apenas brincou com a presidente de mesa e foi para a cabine de voto assim que recebeu o boletim.

Após exercer o seu direito de voto, o Chefe de Estado disse sentir-se feliz e pediu aos guineenses que ainda não tinha votado para o fazerem, porque faz parte dos seus direitos, até porque, “quem mais ordena, é o povo”.

Aos candidatos, José Mário Vaz, apoiante declarado de Umaro Sissoco Embaló, pediu para que “ganhe o melhor” e que todos reconheçam o direito do povo decidir. Estas declarações são contrárias ao que o PR cessante proferiu no último dia da campanha em apoio a Umaro Sissoco Embaló que disse que, aquele que ousar declarar a derrota daquele candidato estaria a arranjar problemas para o país.

Questionado pelos jornalistas sobre o balanço que faz dos seus cinco anos, José Mário Vaz remeteu a mesma para a próxima terça-feira, 31 de Dezembro,  na mensagem que vai proferir à Nação por ocasião do final do ano. Dada essa informação, o mesmo agradeceu e virou de imediato sem atender os apelos “ces declaration en français, s’il vous plait” que eram feitos pelos representantes dos órgãos estrangeiros.

José Mário Vaz e Aristides Gomes votaram no mesmo Distrito Eleitoral, no Círculo 24, embora em mesas diferentes. Após cerca de 10 minutos depois de José Mário Vaz votar, o PM apareceu algo descontraído. Desta vez, não esqueceu o seu cartão de eleitor, como ocorreu na primeira volta, tendo aguardado mais de 10 minutos de espera.

“Nunca houve protestos fundados e esperamos que volte a acontecer”

Depois de votar, e erguer o indicador direito (talvez para mostrar que já votou ou manifestar alguma simpatia com a posição do candidato Domingos Simões Pereira, primeiro colocado no boletim), Aristides Gomes começou por atribuir nota positiva à competência das instituições encarregues de organização das eleições. Depois dirigiu-se aos cidadãos para alertá-los que, o exercício do voto, tem outras avaliações. “Não serve apenas para exercer a cidadania. O voto é muito mais que isso. O voto é criarmos condições para estarmos bem e ter estabilidade”, referiu. “Nas nossas eleições nunca houve protestos fundados. E esperamos que aconteça desta vez”, referiu.

A descontracção de Aristides Gomes foi notável, que também acompanhado do seu pessoal da segurança regressou de imediato à sua residência que dista menos de 100 metros onde José Mário Vaz exerceu o direito de voto.

Em relação aos candidatos, Domingos Simões Pereira exerceu o seu direito de voto em Bissau no Círculo Eleitoral 25, cerca de 500 metros da sua residência oficial. Com um aparato de jornalistas (simplesmente incontrolável) o candidato do PAIGC chegou acompanhado da esposa, Paula Pereira. Com o seu habitual sorriso foi recebido com aplausos. Um eleitor curioso (certamente fã de Domingos Simões e que lutava com o seu telemóvel para registar o momento) chegou ao ponto de afirmar que, nem Cristano Ronaldo nem Leonel Messi (melhores futebolistas do mundo) podem ter uma aceitação igual a de Domingos Simões Pereira, em Bissau.

Elogios à parte e na dificuldade de registar declarações de forma perfeita, foi possível ouvir Domingos Simões Pereira dizer que, acredita que estas eleições vão representar uma mudança. “Que o resultado permita a construção da concórdia”, disse. “Quero que no final a nossa vitória”.  Pediu aos guineenses para aparecerem nas assembleias para exercer os seus direitos.

“Urnas no Ministério do Interior, é mau indicador”

Não foi possível registar directamente a votação de Umaro Sissoco Embaló, porque exerce o seu direito em cerca de 200 km de Bissau. Em declarações avançadas pela Rádio Difusão Nacional, é um cidadão e confiante na vitória. No entanto revelou ter informações que as urnas estavam a ser preenchidas no Ministério do Interior, pelo que apela os mesmos a não as tirarem.

O Presidente da ANP disse acreditar que depois das eleições, a Guiné-Bissau será um novo país e respeitado a nível do concerto das nações. Um país que precisa de resgatar a sua credibilidade, através de um bom Chefe de Estado que é capaz de prosseguir os ideais de Cabral.

Na primeira projecção, a Comissão Nacional de Eleições só fez referência aos votos antecipados com a única curiosidade da Região de Oio não ter nenhum registo neste sentido, porque aqueles com esse direito não apareceram. A CNE pediu para que os presidentes de Mesa não permitir uso dos telemóveis, porque compromete a liberdade e confidencialidade do voto. “Ninguém deve revelar o sentido de voto, como consta na lei”, disse Felisberta Moura, porta-voz da CNE.

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