Moçambique: Transição de poder autárquico decorre com paz e ordem

A cerimónia de tomada de posse do novo edil na autarquia de Nacala Porto, Faruk Nuro Momade, decorreu de forma calma e ordeira, contra todas as previsões que apontavam para uma escalada de violência dado o ambiente que caracterizou todo o processo eleitoral, marcado por disparos, agressões físicas e forte contestação dos resultados naquela urbe.

No empossamento do novo edil da cidade portuária, Raúl Novinte, antigo presidente e membro da Renamo, entregou, voluntariamente e de forma pacífica, a chave do município ao seu sucessor da Frelimo, apesar da contestação após a eleição.

A ordem e calma que caracterizou todos os momentos, desde a instalação dos novos órgãos autárquicos até a tomada de posse do novo edil, está associada à situação política atual no seio da Renamo, marcada por divergência internas. O antigo edil, Raúl Novinte, entrou em rota de colisão com a direção do partido e a passou a assumir uma posição menos reivindicativa dos resultados eleitorais, depois de ter contestando através de marchas.

Numa cerimónia dirigida pelo Juiz Distrital de Nacala e testemunha pelo Ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, Raúl Novinte, fez um discurso reconciliador e aparentemente conformista, apelando à paz e à convivência política pacífica, em Nacala. Esta é uma posição contrária à que sempre defendeu, desde o anúncio dos resultados que deram vitória à Frelimo e a Faruk Nuro Momade.

“Hoje é um dia histórico para todos nós, pois estamos a testemunhar a transição de lideranças na gestão municipal. Como presidente cessante, sinto-me lisonjeado poder dirigir estas palavras, neste momento significativo e de muitas lembranças. À medida que passo o bastão para o próximo presidente, aqui ao meu lado, tenho confiança na sua capacidade de liderar”, disse Raul Novinte, desejando boa sorte a Faruk Nuro Momade e esperando que tenha força para enfrentar os desafios do futuro e capacidade para aproveitar as oportunidades para desenvolver o município.

Raul Novinte pediu ainda a todos os nacalenses, incluindo os da Renamo, para prestarem total apoio ao novo presidente do município.

Justificando a sua atual postura aos membros e simpatizantes da Renamo, através de uma mensagem direcionada para o interior do partido, Novinte voltou a lembrar que não concorda com os resultados eleitorais do último escrutínio, mas que a responsabilidade é da liderança da Renamo. “Como vosso filho, eu, Raúl Novinte, tudo fiz ao vosso lado para que a verdade fosse reposta, mas há questões que não dependem apenas de mim, um simples cabeça-de-lista, suscetível a detenções e limitação das suas liberdades, como todos viram. Há, na Renamo, quem defende e colabora com isto”, frisou.

Novinte foi o primeiro quadro sénior da Renamo a apoiar publicamente a pretensão de Venâncio Mondlane se candidatar à presidência da Renamo no próximo congresso, facto visto como uma afronta ao atual presidente Ossufo Momade e uma rotura com a ala que apoio o líder do maior partido da oposição de Moçambique.

No discurso de tomada de posse, Faruk Nuro prometeu não dececionar os munícipes que depositaram nele e na Frelimo o seu voto de confiança, assegurando que será o presidente de todos nacalenses, bem como irá trabalhar, de forma abnegada e destemida, para alcançar os objetivos plasmados no seu manifesto. “A nossa determinação é transformar o município em centro de desenvolvimento. Vamos promover mais inclusão, trazendo os munícipes para o centro da governação”, declarou.

Refira-se que, esta cerimónia de tomada de posse marcou o fim de um ambiente de caos político que durou cerca de quatro meses, em Nacala, desde o arranque da campanha eleitoral.

A situação política interna na Renamo contribuiu também para a pacífica tomada de posse, em Nacala. António Muchanga, cabeça de lista da Renamo, na Matola, que participou na cerimónia de investidura, foi questionado pelos jornalistas sobre a calma transição do poder e se as reivindicações e passeatas iriam continuar. Muchanga garantiu que “as reivindicações na rua já terminaram.” No entanto, a luta vai continuar “no local apropriado que é na Assembleia, uma vez que os membros da Renamo estão a ser investidos, apesar da Frelimo ter-nos roubados os assentos. É na Assembleia que vamos fazer barulho”, assegurou Muchanga.

Resta a pergunta, será conformismo ou haverá uma mudança de estratégia na Renamo?

Aurélio Sambo – Correspondente

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